1- PEQUENA HISTÓRIA – Um dia, a Gota d’Água, O
Raio de Luz, a Abelha e o Ser Humano Preguiçoso, chegaram ao Trono de Deus. O
Todo Poderoso recebeu-os, com bondade, e perguntou pelo que faziam.
A Gota d’Agua se adiantou e disse: - Senhor, eu estive
num terreno quase deserto, auxiliando uma raiz de laranjeira. Vi muitas árvores sofrendo de sede e diversos
animais que passavam, aflitos, procurando um manancial. Fiz o que pude, mas
venho pedir-te outras Gotas d’Agua que me ajudem a socorrer quantos necessitam
de nós. – O Pai, satisfeito, exclamou: - Bem-aventurada sejas pelo entendimento
de minhas obras. Dar-te-ei os recursos das chuvas e das fontes. Logo após, o
Raio de Luz, adiantou e falou: - Senhor, eu desci... Desci... e encontrei o
fundo do abismo. Nesse antro, combati a sombra, quanto me foi possível, mas
notei a presença de muitas criaturas suplicando claridade. Venho rogar-te
outros Raios de Luz que comigo cooperem na libertação de todos aqueles que, no
mundo, ainda sofrem a pressão das trevas. – O Pai contente, respondeu: -
Bem-aventurado sejas pelo serviço à Criação. Dar-te-ei o concurso do Sol, da
Lua, das lâmpadas, dos livros iluminados e das boas palavras e ações que se
encontram na Terra.
Depois disso, se apresentou a Abelha explicando: -
Senhor, tenho fabricado todo o mel, ao alcance das minhas possibilidades. Mas
vejo tantas crianças fracas e doentes que lhe venho implorar mais flores e mais
Abelhas, a fim de aumentar a produção e atender os necessitados... O Todo
Poderoso, muito feliz, abençoou-a e replicou: - Bem-aventurada sejas pelos
benefícios que prestaste. Conceder-te-ei novos jardins e novas companheiras.
Em seguida, o Ser Humano Preguiçoso foi chamado a
falar. Ele fez uma cara desagradável e informou: - Senhor, não consegui fazer
nada. Por todos os lados, encontrei a inveja, e a perseguição, o ódio e a
maldade. Tive os braços atados pela ingratidão dos meus semelhantes. Tanta
gente má permanecia em meu caminho que, em verdade, nada pude fazer. O Pai
bondoso, com expressão de descontentamento, exclamou: - Infeliz, por que
desprezaste os dons que te dei? Adormeceste na preguiça e nada fizeste. Os seres pequeninos, humildes, alegraram meu Trono, com
o relatório de seus
trabalhos, mas tua boca apenas sabe se queixar, como se a inteligência e as mãos que te confiei para
nada valessem. Retira-te da minha presença! Os filhos inúteis e ingratos não
devem buscar-me a presença. Regressa ao mundo e não voltes a procurar-me
enquanto não aprenderes a trabalhar e a servir...
A Gota d’Água regressou cristalina e bela; o Raio de
Luz tornou aos abismos, brilhando cada vez mais; a Abelha desceu zumbindo
feliz; o Ser Humano, porém, retirou-se muito triste, regressando a Terra em
extrema necessidade.
2- PRÊMIO DO SACRIFÍCIO – Três irmãos dedicados a
Jesus leram no Evangelho que cada ser humano receberá sempre, de acordo com as
próprias obras, e prometeram cumprir as lições do Mestre.
O primeiro empregou-se na indústria do fio de algodão
e, de tal modo se aplicou ao serviço que, em pouco tempo, passou à condição de
interessado administrativo. Dentro de
vinte e cinco anos, era o chefe da indústria.
Ganhava dinheiro com facilidade e
socorria infortunados e sofredores, adquirindo logo o título de benfeitor do
povo. Dividia o trabalho com justiça e distribuía parte dos lucros, com
bondade, aos seus empregados. O segundo estudou muito tempo e tornou-se juiz
famoso. Embora gozasse do respeito e da
estima dos demais companheiros, jamais deixou os compromissos que assumira com
o Evangelho. Defendeu os humildes, auxiliou os pobres e libertou muitos
prisioneiros perseguidos pela maldade. De juiz tornou-se legislador e cooperou
na confecção de leis que beneficiaram muitos. Viveu sempre honrado, rico, feliz
correto e digno.
O terceiro era paralítico. Não poderia comandar uma
fábrica, nem dominar um tribunal. O leito era sua residência, pois tinhas as
pernas mirradas. Porém, lembrou-se que poderia fazer um serviço de oração e
começou a tarefa pela humilde mulher que lhe fazia a limpeza doméstica. Viu-a
triste e chorosa e procurou conhecer-lhe as mágoas com discrição e
fraternidade. Confortou-a com ternura de
irmão. Convidou-a para orar e pediu para ela as bênçãos divinas. Bastou isto e,
em pouco tempo, trazidos pela servidora reconhecida, outros sofredores vinham
rogar-lhe o concurso da oração. O
aposento singelo encheu-se de necessitados. Ele orava em companhia de todos; oferecia-lhes
o sorriso de confiança na bondade celeste.
Comentava os benefícios da dor e expunha
suas esperanças no Reino de Deus. Dava de si mesmo,
gastando emoções e energias no santo serviço do bem. Escrevia muitas cartas,
consolando viúvas e órfãos, doentes e infortunados, insuflando-lhes a esperança, a paz e a coragem. Ele comia pouco e repousava menos ainda.
Tanto sofreu as dores alheias que chegou a esquecer-se de si mesmo e tanto
trabalhou que perdeu o dom da vista. Cego, não ficou sozinho. Prosseguiu
ajudando os sofredores, através cada vez mais da oração.
Após muitos anos, morreram os três irmãos, em idade
avançada, com pequenas diferenças de tempo. Quando se reuniram na
espiritualidade, apresentou-se um anjo do Senhor, a fim de lhes examinar as obras com uma balança. O
industrial e o Juiz apresentaram grande bagagem, que se constituía de várias
bolsas, recheadas com dinheiro e com as sentenças que haviam distribuído em
benefício de muitos. O servidor da prece
trazia apenas pequeno livro, onde costumava anotar os nomes das pessoas por
quem orar.
O primeiro foi abençoado pelo trabalho criado e pelo
conforto que espalhou com os necessitados, e o segundo foi também louvado pela
justiça que semeara sabiamente. Quando o anjo abriu o livro do paralítico, dele
saiu uma grande luz, que tudo envolveu numa coroa resplandecente. A balança foi
incapaz de medir-lhe a grandeza. Então ele falou-lhe, feliz: - Teus irmãos são
benditos na Casa do Pai pelos recursos que distribuíram, em favor do próximo,
mas, em verdade, não é muito difícil ajudar com o dinheiro e com a fama que se
multiplicam facilmente no mundo. Sê, porém, bem-aventurado, porque deste de ti
mesmo, no amor santificante. Gastaste as mãos, os olhos, o coração, as forças,
os sentimentos e o tempo a benefício dos semelhantes, e a Lei do Sacrifício
determina que a tua morada seja mais alta... Não transmitiste apenas os bens da
vida: irradiaste os dons de Deus. E aquele servidor humilde, que não distribuiu
dinheiro a ninguém, a exemplo de Jesus, foi conduzido a um céu mais elevado, de
onde passou a exercer autoridade sobre muita gente...
P.S. A história desse paralítico se assemelha muito a
existência do saudoso irmão Jerônimo Mendonça, de Ituiutaba-MG.
3- O SERVO
FELIZ - Certo dia, chegaram ao Céu, um
Marechal, um Filósofo, um Político e um Lavrador. Um Emissário Divino
recebeu-os, em elevada esfera, a fim de ouvi-los.
O marechal
aproximou-se, reverente e falou: - Mensageiro do Supremo Senhor, venho da Terra
distante. Conquistei muitas medalhas de mérito, venci numerosos inimigos,
recebi várias homenagens em monumentos que me honra o nome. – Que deseja em troca de seus grandes serviços?
– indagou o Enviado. – Quero entrar no Céu. O anjo respondeu sem vacilar: - Por
enquanto, não pode receber essa dádiva. Soldados e adversários, mulheres e
crianças chamam-no insistentemente na Terra. Verifique o que alegam de sua
passagem pelo mundo e volte mais tarde.
O filósofo
acercou-se do preposto divino e pediu: - Anjo do Criador, venho do acanhado
círculo dos homens. Dei às criaturas muita matéria de pensamento. Fui laureado
por academias diversas. Meu retrato figura na galeria dos dicionários
terrestres. – Que pretende pelo que fez? – perguntou o Emissário. - Quero
entrar no Céu. – Respondeu o mensageiro
divino: - Por agora, porém, não lhe cabe
a concessão. Muitas mentes estão trabalhando com as ideias que você deixou no
mundo e reclamam-lhe a presença, de modo a saberem separar-lhe os caprichos
pessoais da inspiração sublime. Regresse ao velho posto, solucione seus
problemas e torne oportunamente.
O político
tomou a palavra e acentuou: - Ministro do Todo Poderoso, fui administrador dos
interesses públicos. Assinei várias leis que influenciaram meu tempo. Meu nome
figura em muitos documentos oficiais. – Perguntou o Missionário do Alto: - Que
pede em compensação? – Quero entrar no Céu. O enviado celeste, no entanto,
respondeu firme: - Por enquanto, não pode ser atendido. O povo mantém opiniões
divergentes a seu respeito. Inúmeras pessoas lhe pronunciam o nome com amargura
e esses clamores chegaram até aqui. Retorne ao seu gabinete, atenda às questões
que lhe interessam a paz íntima e volte depois.
Aproximou-se,
então, o Lavrador e falou com humildade: - Mensageiro do Nosso Pai, fui
cultivador da terra... Plantei o milho, o arroz, a batata e o feijão. Ninguém
me conhece, mas tive a glória de conhecer as bênçãos de Deus e recebê-las nos
raios do Sol, na chuva benfeitora, no chão abençoado, nas sementes e
flores, nos frutos, no amor e na terra de meus filhinhos... O
anjo sorriu e disse: - Que prêmio deseja?
O lavrador pediu, com grande emoção: - Se Nosso Pai permitir desejaria
voltar ao campo e continuar o meu trabalho. Tenho saudades da contemplação dos
milagres de cada dia... O Sol surgindo no firmamento em horas certas, a flor
desabrochando pela vontade Suprema, o trigo a se multiplicar!... Se puder,
plantarei o solo novamente para ver a grandeza divina, a revelar-se no grão,
transformado em dadivosa espiga... Não aspiro á outra felicidade senão a de
continuar aprendendo, semeando, louvando e servindo!... O Mensageiro Espiritual abraçou-o e exclamou,
com grande júbilo: - Venha comigo! O Senhor deseja vê-lo e ouvi-lo, porque
diante do Trono Celestial, apenas comparece quem procura trabalhar e servir sem
recompensa e com amor...
4- O GRANDE
PRÍNCIPE - Um rei oriental, poderoso e sábio, achando-se envelhecido e doente,
reuniu os três filhos e deu a cada um deles dois camelos carregados de ouro,
prata e pedras preciosas, e determinou-lhes gastar esses tesouros em viagens
pelo reino, durante três meses, com a obrigação de voltarem, a fim de que ele
pudesse efetuar a escolha do príncipe que o sucederia no trono. Eles se foram e
findo o
prazo estabelecido, os
jovens regressaram à casa paterna.
Os dois mais velhos exibiam mantos riquíssimos e
chegaram com enorme ruído de carruagens, mas o terceiro vinha cansado e
ofegante, arrimando-se a um bordão qual mendigo, despertando a ironia e o
assombro de muita gente. O rei bondoso abençoou-os discretamente e dispôs-se a
ouvi-los, perante grande multidão. O primeiro aproximou-se, fez reverência e
declarou: - Meu pai e meu soberano, eu
viajei em todo o centro do país e adquiri, para teu descanso, um
admirável palácio, onde teu nome será venerado para sempre. Comprei escravos
vigorosos que te sirvam e reuni, nesse
castelo, digno de ti, todas as maravilhas do nosso tempo. Dessa moradia
resplandecente poderás governar sempre honrado, forte e feliz. O monarca
pronunciou algumas palavras de agradecimento, mostrou gesto de aprovação e
mandou que o segundo filho se adiantasse.
O segundo então falou: - Meu pai e meu rei. Trago-te a
coleção de tapetes mais ricos do mundo. Dezenas de pessoas trabalharam a fim de
tecê-los. Aproxima-se da cidade uma caravana de vinte camelos, carregados de
preciosidades que te ofereço, ó augusto dirigente, para revelares tua fortuna e
poder!... O monarca expressou gratidão
numa frase carinhosa e recomendou que o mais moço dos filhos tomasse a palavra.
O filho alquebrado e mal vestido ajoelhou-se e falou:
- Amado pai, não trouxe qualquer troféu para o teu trono venerável e
glorioso... Viajei pela terra que o Supremo Senhor te confiou, e vi que os
súditos esperam do teu governo a paz e o bem-estar, tanto quanto o crente
aguarda a felicidade no Céu... Nas montanhas, encontrei a febre devorando corpos
mal abrigados e movimentei médicos e remédios, em favor dos sofredores. Ao
Norte, vi a ignorância dominando milhares de crianças e jovens desamparados e
instalei escolas em nome de tua administração justiceira. No Oeste, nas regiões
pantanosas, fui surpreendido por bandos de leprosos e dei-lhes conveniente
asilo em teu nome. Nas cidades do Sul, notei que centenas de mulheres e
crianças são vilmente exploradas pela maldade humana e construí oficinas em que
o trabalho edificante as recolha. Nas fronteiras, conheci muitos escravos de
ombros feridos, amargurados e doentes, e libertei-os, anunciando-lhes a bondade
de teu reinado!... A emoção
interrompeu-o. Fez-se grande silêncio e
viu-se que o velho soberano mostrava os olhos cheios de lágrimas. Então, o rapaz
com novo ânimo, terminou: - Perdoa-me se entreguei teu dinheiro aos
necessitados e desculpa-me se regresso à tua presença, em extrema pobreza, por
haver conhecido, de perto, a miséria, a enfermidade, a ignorância e a fome nos domínios que o Céu conferiu às
tuas mãos benfeitoras... A única dádiva
que te trago, amado pai, é o coração reconhecido pelos ensinamentos que me
deste, permitindo-me o serviço que me cabe fazer... Aprendi que as necessidades dos filhos do
povo são iguais às dos filhos do rei!...
O velho monarca, em pranto, muito trêmulo, desceu do
trono, abraçou demoradamente o filho esfarrapado, retirou a coroa e colocou-a
sobre a cabeça do filho, exclamando, solene: - Grande Príncipe: Deus, o Eterno
Senhor te abençoe para sempre! É a ti
que compete o direito de governar, enquanto viveres. A multidão aplaudiu
delirante de júbilo, enquanto o jovem ajoelhado em frente ao pai soluçava de
emoção e reconhecimento...
5- O BURRO
DE CARGA - No tempo em que não havia automóveis, na cocheira de famoso palácio real, um burro
de carga curtia imensa amargura, em vista das pilhérias e deboches dos
companheiros. Reparando-lhe o pelo maltratado, as fundas cicatrizes no lombo e
na cabeça humilde, aproximou-se um formoso cavalo árabe, que se fizera detentor
de muitos prêmios, e disse orgulhoso: - Triste sina a que recebeste! Não
invejas minha posição nas corridas? Sou
acariciado por mãos de princesas e elogiado pela palavra de reis! - Pudera! Como
conseguirá um burro entender o brilho das corridas e o gosto pela caça? –
exclamou um potro de fina origem inglesa.
O infortunado animal recebia os sarcasmos, resignadamente. Outro soberbo
cavalo, de procedência húngara, entrou no assunto e comentou: - Há dez anos,
quando estava nas pastagens vizinha, vi este miserável sofrendo rudemente nas
mãos de bruto amansador. É tão covarde que não chegava a reagir, nem mesmo com
um coice. Ele nasceu para carga e pancada, e é vergonhoso lhe suportar a
companhia. Nisto, admirável jumento espanhol acercou-se do grupo e acentuou sem
piedade: - Lastimo reconhecer nesse burro um parente próximo. É um animal
desonrado, fraco e inútil... Ignora o aprumo da dignidade pessoal e desconhece
o amor-próprio. Aceito os deveres que me competem até o justo limite; mas, se
me obrigam a ultrapassar as obrigações, recuso-me à obediência, pinoteio e sou
capaz de matar.
As observações insultuosas não haviam terminado,
quando o rei penetrou no recinto, em companhia do chefe das cavalariças. –
Preciso de um animal para serviço de grande responsabilidade. Animal dócil e
educado, que mereça absoluta confiança – informou o monarca. O empregado
perguntou: - Não prefere o árabe, Majestade?
- Não, não, é muito altivo e só serve para corridas em festejos oficiais
sem maior importância - – falou o monarca. – Que tal o potro inglês? - De
modo algum. É muito irrequieto e não vai além das extravagâncias da caça. - Não
deseja o húngaro? – continuou o empregado. – Não, não. É bravio, sem qualquer
educação. É apenas um pastor de rebanho. – O jumento serviria? – insistiu o
servidor. – De maneira nenhuma. É manhoso e não merece confiança – respondeu o
rei. Decorridos alguns instantes de silêncio,
o soberano indagou: - Onde está o meu burro de carga? – O chefe das cocheiras
indicou-o, entre os outros animais. Então o próprio rei puxou-o carinhosamente para fora e mandou ajaezá-lo
com as armas
resplandecentes de sua Casa e confiou-lhe o filho,
ainda criança, para longa viagem... Assim também acontece na vida. Em todas as
ocasiões, temos sempre grande número de conhecidos, companheiros, amigos, mas
somente nos prestam serviços de utilidade real, aqueles que já aprenderam a ser
humildes, a suportar, servir e sofrer, cumprindo com o seu dever, sem cogitar
de si mesmos e sem esperar recompensas...
6- O ENSINAMENTO VIVO – Existem pessoas que são
quase sempre boas, animando e elogiando sejam elas, pequenas ou grandes
realizações. Em contra partida, encontramos outras pessoas que sempre estão observando
qualquer edificação ou serviço, e se preocupam em encontrar qualquer deslize
para criticarem. Essa situação vivenciava Maria, sempre pronta a encontrar uma
razão para à crítica. Ante um vestido das amigas, exclamava sem-cerimônia: - O conjunto é tolerável, mas as
particularidades deixam muito a desejar. A gola foi muito mal feita e as mangas
estão defeituosas. Perante um móvel qualquer, rematava as observações irônicas
com a frase: - Não poderiam fazer uma coisa melhor? E a frente de qualquer obra
de arte, encontrava traços e ângulos para condenar. Diante do almoço feito pela
sua mãe, com tanto carinho, sempre encontrava algum motivo para criticar; o
arroz estava grudento, o feijão estava duro, a carne não estava boa, etc.
A sua mãe preocupada, estudou recursos de dar-lhe
proveitoso ensinamento. Foi assim que, certa manhã, convidou a filha a visitar,
em sua companhia, a construção de um edifício. A jovem que não podia
adivinhar-lhe o plano seguiu-a surpreendida. Percorreram algumas ruas e pararam
diante de um edifício a levantar-se. A senhora pediu a colaboração do
engenheiro e passou a mostrar à filha os vários procedimentos da construção.
Enquanto muitos servidores abriam buracos para os alicerces, no chão duro,
veículos pesados transportavam terra daqui para ali com rapidez e segurança. Os
pedreiros preparavam o concreto para as edificações, suarentos e ágeis, sob a
orientação dos técnicos que orientavam os trabalhos. Caminhões e carroças
traziam material de longe. Outros corriam na execução do serviço. O encarregado
das obras, convidado pela senhora a pronunciar-se sobre a construção,
esclareceu, gentil: - Seremos obrigados a investir volumoso capital para cobrir
as despesas. Requisitaremos ainda a colaboração de outros muitos operários especializados, como: carpinteiros,
estucadores, vidraceiros, pintores, bombeiros, eletricistas, que virão
completar o serviço. Qualquer construção reclama toda uma grande quantidade de
operários dedicados.
A menina, revelando-se
impressionada, respondeu: - Quanta
gente a planejar, a cooperar e servir! – Sim, edificar é sempre muito difícil e
trabalhoso – respondeu o chefe sorrindo. Logo em seguida, mãe e filha
apresentaram as despedidas, encaminhando-se, agora, para um velho bairro.
Passaram por ruas e praças menos agradáveis e chegaram finalmente à frente de
uma antiga casa em demolição. Viam-se as linhas nobres, no estilo colonial, nas
alas ainda em pé. Um homem, apenas, ali se encontrava, usando um martelo de
tamanho gigantesco, abatendo alvenaria e madeiras. Ante a queda das paredes a
ruírem com estrondo de minuto a minuto, a jovem observou: - Como é terrível
arruinar, deste modo, o esforço de
tantos!
A mãe serena interveio, então e falou com
carinho: - Chegamos filha, ao fim do ensinamento vivo
que buscamos. Toda a realização útil na Terra exige paciência e o suor, o
trabalho e o sacrifício de muitas pessoas. Edificar é muito difícil, mas,
destruir, eliminar sempre é muito fácil. Bastará uma pessoa de martelo à mão
para prejudicar a obra de milhares. Assim, também, a crítica destrutiva é um
martelo que usamos criminosamente, ante o respeitável esforço alheio.
Compreendeu? A jovem fez um sinal afirmativo com a cabeça e, daí em diante,
procurou ajudar a todos ao invés de macular, desencorajar e criticar...
7- A FALSA MENDIGA -
Zélia pedia esmolas, havia muitos anos. Não era tão doente que não
pudesse trabalhar, produzindo algo de útil, mas não se animava a enfrentar
qualquer disciplina de serviço. – Esmola pelo amor de Deus! – clamava o dia
inteiro, dirigindo-se aos transeuntes, sentada em um banco de praça. De quando
em quando, pessoas caridosas, depois de lhe darem uma moeda, aconselhavam: -
Zélia, você não poderia fazer um serviço de limpeza? - Não posso... – respondia logo. – Zélia,
quem sabe você poderia cuidar de uma criança? – Quem sou eu, minha filha? Não
tenho forças... – Você gostaria de lavar
roupa e ganhar algum dinheiro? – indagavam damas bondosas. – Nem pensar nisso. Não aguento... Outra pessoa dizia: - Zélia ajude-me a vender flores! - Não posso andar, minha filha!... – exclamava,
suspirando. – Você quer aprender a bordar? – interrogava a vizinha, prestativa,
afinal, você tem as mãos livres. A agulha é uma boa companheira e você receberá
uma recompensa. – Não tenho os dedos seguros, e falta-me suficiente energia...
Não posso minha senhora... E assim,
Zélia vivia prostrada sem vontade e disposição. Afirmava ela sentir dores por toda
parte do corpo. Dava noticias da tosse, da tonteira e do resfriado com longas
palavras que poucas pessoas tinham tempo para ouvir. Além das lamentações
contínuas, informava que ainda não tinha tomado café por falta de dinheiro.
Tanto anos pediu, chorou e se queixou que, um dia ela foi
encontrada, morta, e a caridade pública lhe enterrou o corpo com muita piedade.
Todos os vizinhos e conhecidos julgaram que a alma de Zélia fora diretamente
para o Céu, entretanto não foi o que aconteceu. Ela acordou num campo muito
escuro e muito frio. Achava-se sozinha e gritou, aflita, pelo socorro de Deus.
Depois de muito tempo, um anjo do Senhor apareceu e disse-lhe bondoso: - Zélia,
que deseja você? – Ah! Já sou conhecida na Casa Celestial? –
observou muito vaidosa. – Há muito tempo – informou o emissário divino. Zélia então começou a chorar e rogou em
prantos: - Tenho sofrido muito!...
preciso do amparo do Alto!...
O mensageiro esclareceu, dizendo: - Mas,
ouça! O auxílio divino é para quem trabalha. Quem não planta não tem a colher.
Você não lavrou a terra, não cuidou das plantas, não ajudou os animais, não
cuidou das crianças, não fiou o
algodão, não costurou o pano, não fez o
pão, não lavou roupa, não varreu a casa, não tratou nem mesmo de sua saúde e de
seu corpo... Como pretende receber as
bênçãos do Supremo? A infeliz observou,
então:- Nada podia fazer... era
mendiga... O anjo replicou: - Não, Zélia! Você não era mendiga você foi
simplesmente, preguiçosa e inútil na sua existência, explorando os seus
semelhantes. Quando você aprender a
trabalhar em benefício seu e de seus irmãos, chame por nós e receberá o socorro
celeste...
Cerrou-se lhe aos olhos o horizonte de luz e, às escuras, Zélia
(Espírito), voltou a Terra, a fim de em nova
reencarnação renovar-se no trabalho e amor aos seus semelhantes...
8- O BARRO
DESOBEDIENTE - Houve um oleiro que chegou ao pátio de
serviço e com alegria, reparou um
pequeno bloco de barro. Contemplou-o, enlevado, em face da cor viva com que se
apresentava o barro e falou: - Vamos! Farei de ti delicado pote de laboratório.
O analista alegrar-se-á com teu concurso valioso. Muito surpreendido, porém, notou que o barro
retrucava: - Oh! Não, não quero! Eu num laboratório tolerando produtos
químicos? Por favor, não me obrigues para semelhante fim! O oleiro, espantado, considerou: - Desejo
dar-te forma por amor, não por ódio. Sofrerás o calor do forno para que te
faças belo e útil... Entretanto, porque te recusas ao que proponho te
transformarei numa caprichosa ânfora destinada a depósito de perfumes. – Oh!
Nunca, nunca!... Isto não!
Estaria exposto ao prazer dos inconscientes.
Não estou inclinado a suportar essências. – disse o barro. O oleiro meditou muito na desobediência da
lama orgulhosa, mas, entendendo que tudo devia fazer por não trair a confiança
do Céu, ponderou: - Bem, te farei, então, um prato honrado e robusto.
Comparecerás à mesa de meu lar. Ficarás conosco e será companheiro dos meus
filhinhos. – Jamais! Isso seria
humilhação demais!... Transportar arroz
cozido e aguentar caldos gordurosos na face!
Não, não me submeta!... – bradou o barro, na indisciplina...
O trabalhador dedicado perdoou-lhe a ofensa e
acrescentou: - Modificarei o programa ainda uma vez. Será um vaso amigo, em que
a límpida água repousará. Ajudarás aos sedentos que necessitarem de ti. Muita
gente te abençoará a cooperação. Despertarás o contentamento e a gratidão nas
criaturas!... – Não, não! Não
quero! Seria condenar-me a tempo indefinido
nas cantoneiras poeirentas ou nas salas escuras de pessoas desclassificadas.
Por favor, poupe-me! O oleiro então
considerou, preocupado: - Que será de ti
quando te conduzirem ao forno? Sem
sacrifício e disciplina, ninguém se eleva aos planos da vida superior. O barro, todavia, recusou a advertência,
bradando: - Não aceito sacrifício, nem disciplina...
Antes que pudesse prosseguir, passou o enformador,
arrebanhando a argila pronta e o barro desobediente foi também conduzido ao
forno em brasa. Decorrido algum tempo a lama vaidosa foi retirada e – ó
surpresa! – não era um pote de laboratório, nem uma ânfora de perfume, nem um
prato de refeição, nem um vaso para água e, sim, feio pedaço de terra
requeimada e morta, sem qualquer utilidade, sendo imediatamente atirada ao
pântano...
Assim acontece a muitas criaturas no mundo. Revoltam-se
contra a vontade
do Criador, que as convida ao trabalho de aperfeiçoamento mas, depois de
levadas pela vaidade e orgulho se transformam em verdadeiros fantasmas de
desilusão e sofrimento, necessitando de longo tempo para retornarem às bênçãos
do trabalho dignificante e da vida mais nobre...
9- SOMOS TODOS CHAMADOS A SERVIR - O legislador, com a
pena, traça
decretos para reger o povo; o escritor
utiliza o mesmo instrumento e escreve livros que renovam o pensamento do
mundo. Mas, não é só a pena que,
manejada pelo ser humano, consegue expressar a sabedoria, a arte, e a beleza,
na vida. Uma simples vassoura faz a
alegria da limpeza e, sem limpeza, o legislador ou o escritor não consegue
trabalhar. O arado cava sulcos na terra e traça linhas das quais nascerão o
milho, o arroz, a batata e o trigo, enchendo os celeiros. A plaina corrige a
madeira bruta, cooperando na construção do lar. O malho toma o ferro e
transforma-o em utilidade preciosa; o
prato recolhe o alimento e nos sugere a caridade; o moinho recebe os grãos e converte-os no
milagre da farinha; a janela é um poema silencioso a comunicar-nos com a
natureza externa; o leito é um santuário horizontal, convidando ao descanso...
Todos os instrumentos de trabalho no mundo, tanto
quanto a pena, concretizam os ideais superiores, as aspirações de serviço e os
impulsos nobres da alma. Ninguém suponha que, perante Deus, os grandes homens
sejam somente aqueles que usam a autoridade intelectual manifestada. Quando os
políticos orientam e governam, é o tecelão quem lhes agasalha o corpo. Se os
juízes se congregam nas mesas de paz e justiça, são os lavradores quem lhes
ofertam recursos alimentares.
Louvemos, pois, a Divina Providência que dirige os
serviços no mundo! Se cada árvore produz, segundo sua espécie, a benefício da
prosperidade comum, lembremo-nos de que somos todos chamados a servir, na obra
do Senhor, de maneira diferente. Cada
trabalhador, em seu campo de atividade, seja honrado pela cota de bem que
produza, e que permaneça convencido de que a maior homenagem de ser prestada
por nós, ao nosso Criador, é a correta execução do nosso dever, em qualquer
tempo e qualquer lugar...
10- O
DESCUIDO IMPENSADO - No orfanato em que trabalhava, Irmã Clara era idolatrada
por todas as pessoas, pelas virtudes que lhe adornavam o caráter. Era
meiga, devotada, diligente. Daquela boca educada não saíam más palavras. Se
alguém comentava faltas alheias, vinha solícita aconselhando: - Tenhamos compaixão!... Inclinava a conversa
em favor da benevolência e da paz. Insuflava em quantos a ouviam o bom ânimo e
o amor ao dever. Além do mais, estimulava, acima de tudo, em todas as pessoas,
a boa-vontade de trabalhar e ser para o bem.
- Irmã Clara, eu tenho necessidade do vestido para o
sábado próximo – dizia uma educadora. Ela, que era a costureira dedicada de
todos, respondia contente: - Trabalharei até mais tarde. A peça ficará pronta.
– Irmã Clara, preciso do avental – dizia uma das criadas. Ela respondia
sorrindo: - Amanhã será entregue. Em todas as atividades, mostrava-se devotada
criatura, qual anjo de bondade e paciência. Invariavelmente rodeada de novelos
de linha, respirava entre agulhas e a máquina de costura. Nas horas da prece,
demorava-se contrita na oração. Com o passar do tempo, tornava-se cada vez mais
respeitada. Seus conselhos eram procurados por muitas pessoas. Transformara-se
em admirável autoridade da vida cristã. Amparava sem alarde e auxiliava sem
preocupação de recompensa. Sabia ser bondosa sem humilhar a ninguém com
demonstrações de superioridade.
Rolaram os anos como sempre, e chegou o dia em que a morte
a conduziu para a vida espiritual. Na Terra, o corpo
da inesquecível benfeitora foi rodeado de flores e bênçãos, homenagens e
cânticos e sua alma subiu até o Céu. Um anjo do Senhor recebeu-a, carinhoso e
alegre. Cumprimentou-a e reportou-se aos bens que ela espalhara, entretanto,
sob impressão de assombro, Irmã Clara ouviu-o informar: -
Lastimo, mas não pode demorar-se conosco senão por três semanas. – Oh!
Por que? – interrogou a valorosa missionária. Será compelida a voltar ao mundo,
tomando novo corpo - disse o Mensageiro Divino.
– Como assim? - perguntou a Irmã Clara. O anjo fitou-a,
bondoso e respondeu: - A Irmã foi extremamente virtuosa; porém na
posição espiritual em que se encontrava não poderia cometer tão grande
descuido. Você desperdiçou uma enormidade pedaços de fios de linha. Essa linha
que perdeu, por alhear-se à noção de aproveitamento, dava para costurar alguns
milhares de roupas de crianças desamparadas...
- Oh! Deus me perdoe!
E como resgatarei essa dívida? – Exclamou a santa desencarnada. O anjo
abraçou-a, carinho, e reconfortou-a dizendo: - Não tema. Todos nós a
ajudaremos, mas a querida irmã recomeçará sua tarefa no mundo, plantando um
algodoal...
Obs: Estas dez
histórias, fazem parte do livro
“Alvorada Cristã”, ditadas pelo Espírito de Neio Lúcio, psicografia de
Chico Xavier.
11- HÁ
SEMPRE UMA ESPERANÇA - Já era noite,
quando o ônibus procedente do Nordeste chegou à estação rodoviária do Rio de
Janeiro. Foram quatro dias de uma longa viagem, atravessando paisagens secas e
poeirentas, cruzando a ponte sobre o Rio São Francisco. Mais adiante, foi
possível apreciar os cacaueiros do sul da Bahia, as lavouras do Espírito Santo,
e os canaviais do estado do Rio de Janeiro. Tudo fora motivo de admiração e
novidade para Raimundo Nonato, conhecido por “Mundico”, que da sua poltrona, se
encantara com seu Brasil tão grande e cheio de coisas bonitas, que ele jamais
vira lá na fazenda do coronel Tito, perto da cidade de Floriano, no Piaui. Ele
se sentia cansado, mas os olhos brilhavam de contentamento, porque estava no
Rio de Janeiro, com que tinha sonhado desde que ouvira no rádio, a transmissão
de um jogo de futebol realizado no estádio do Maracanã... Ele tinha se
imaginado que um dia, estaria no meio daquele povo, gritando pelo seu time
favorito...
Voltando a realidade, ele apanhou sua mala e foi
procurar o ônibus 740, que o levaria à casa da madrinha Carolina, no bairro da
Penha. Depois de alguns minutos, chegou ao bairro. Perguntando a um e outro,
acabou chegando a uma casa modesta. Bateu na porta até que ouviu passos.
Receosa, D. Carolina entreabriu a porta e perguntou: - O que você quer rapaz? –
Ele abrindo um sorriso tímido, respondeu: - Eu sou o Mundico, lá do Piaui. A
senhora é a minha madrinha Carolina? Ela concordou com a cabeça, ele entrou e logo
se iniciou uma conversa. D. Carolina indagou do afilhado porque tinha vindo para
o Rio, deixando sua terrinha tranquila, para aventurar-se num lugar tumultuoso,
difícil e violento, onde as pessoas se olham com desconfiança. Ele respondeu
que esse era o seu sonho. Vir para o Rio, trabalhar, ganhar bastante dinheiro e
depois mandar buscar Maria das Graças, pra se casar e viver feliz com o povo
daqui.
D. Carolina não quis decepcionar seu afilhado nem
destruir o projeto de vida daquele brasileirinho ingênuo, de lugar tão
distante. – É, Mundico, vamos descansar porque já é tarde e amanhã você vai
procurar trabalho... Alguns dias depois
de chegar, lá estava Mundico com um capacete de plástico na cabeça, empurrando
um carrinho de mão com massa, numa obra na Barra da Tijuca. Seu mundo passou a
ser aquele prédio em construção, tendo até autorização para dormir no local. À
noite, acomodado, os braços e as costas moídos de cansaço, o sono só chegava
depois de lembrar-se na fazenda do coronel Tito, sol causticante, montado no
cavalo, arrebanhando o gado, enquanto as juritis cantavam perto do riacho das
grutas. E no domingo, quando ia à missa na igreja. Era ali que ele espiava
Maria das Graças, ajoelhada, rezando um terço para Nossa Senhora. Ele lembrava
como ela era bonita, com as tranças amarradas com fita vermelha e no pescoço o
colar de contas. Ela correspondendo,
também lançava um olhar para ele, enquanto rezava o terço de caroços de
jussara...
Um ano já se passara e Mundico tinha conquistado a
amizade do pessoal da obra e, orientado pelo mestre, já conseguira juntar algum
dinheiro na caderneta de poupança. Mas a saudade começava a lhe deixar
tristonho. Ele então começou a desejar a volta para sua terra e se encontrar
com sua amada Gracinha. Eis que, um belo dia, um novo companheiro de obra,
vendo-o triste, falou-lhe: - Mundico, larga essa tristeza; vamos para São
Cristóvão; hoje vai ter um forró no “Clube dos Paraíbas”. Ele ainda relutou, mas era um sábado e o convite o animou e
quando chegou a noite, lá se foi ele com o novo companheiro para a festa. A
sanfona do Zé Inácio já estava tocando os forrós do Luiz Gonzaga. Os pares riam
e rodopiavam na dança contagiante dos nordestinos. Ele começou a se
entusiasmar. – Está gostando, Mundico?
Perguntou o companheiro. – Tem razão, o forró está legal e cheguei até a
lembrar das nossas danças lá em Floriano, - respondeu ele. O amigo retirando-se
por uns instantes, disse a Mundico: - Vou falar com um velho amigo e não
demoro. Toma conta da minha mochila até eu voltar. – Logo em seguida, ouviu-se
uma barulheira na entrada do clube e Mundico meio assustado, sem saber o que se
passava, viu a polícia entrar. Antes que tomasse qualquer reação, levou
pancadas na cabeça e nos braços; arrancaram-lhe a mochila e gritaram: - Tá
preso, seu Paraíba maconheiro. – Surpreso, ele foi conduzido ao rabecão, cheio
de dores e depois foi jogado numa cela da Delegacia, onde se encontravam vários
elementos mal-encarados. Ele ainda não entendera bem o que se passara. Lembrava-se apenas que o Delegado asperamente
lhe dissera: - Vai curtir um tempo atrás das grades, traficante duma figa. Tua
mochila estava cheia de drogas. -
Mundico entendeu então que ele era uma vítima. Aquele companheiro que o
levara à festa em São Cristóvão era o dono da mochila, que agora servia de
prova contra ele. Como explicar isso? Como poderia provar que era inocente? –
Com a mão enxugou as lágrimas que teimavam em rolar pelo seu rosto. Aquela
gente da cadeia não podia ver que ele chorava. Um ano e meio se passou e muitos
pesadelos e sonhos visitaram as suas noites, e ele só acordava feliz quando
aquele anjo parecido com a Gracinha vinha conversar com ele. Finalmente um dia,
em dezembro, Mundico foi chamado à direção do presídio e informado que estava
em liberdade, por ter sido esclarecido que ele não traficava drogas e que os
seus antecedentes eram limpos. Só então ficou sabendo que a madrinha Carolina e
seu antigo mestre de obras tinham colaborado para sua liberdade.
Antes que chegasse o Natal, ele retirou o dinheiro da
poupança, despediu-se da madrinha e vibrando de alegria e esperança nova, voltou
para sua querida terra. As horas pareciam longas até a chegada a Floriano e à
fazenda, onde esperava reencontrar-se com a dignidade e a felicidade que há
anos o mundo lhe havia roubado. A
terra, ainda era ressequida; o gado magro,
e poucas eram as árvores no pé da serra. Antes que falasse com qualquer
pessoa, ele dirigiu-se para uma velha mangueira, e ajoelhando-se junto ao
tronco, orou do fundo do coração, dizendo: - Meu Deus! Eu estou Te reencontrando nesta Terra que me
colocaste... seca árida e às vezes até hostil, mas é nela que eu
Te conheci e que recebo a benção da felicidade que volto a sentir. Em seguida, baixando a cabeça, beijou o chão
poeirento que ficou molhado com suas
lágrimas de felicidade...
12- DRAMAS DA
EXISTÊNCIA - Maria era uma jovem de 16 anos muito bonita,
quando perdeu a mãe, ficando na companhia do seu pai, que mantinha seus
estudos. Quando ela completou 20 anos, já trabalhava num empresa e foi onde
conheceu José. Depois de dez meses de namoro e noivado se casaram. Um ano
depois, nasceu Regina. Uma linda criança. O casal com a chegada da filha passou
a viver um mar de rosas. Dormiam todos num quarto só, pois o berço da filha
ficava ao lado da cama do casal.
Desde
pequena, a filha demonstrou a maior satisfação quando o pai a tomava nos
braços. Quando ela completou três anos, passou a chorar e só dormia se fosse
agarrada ao pai, na cama do casal. Com o passar do tempo, ela foi criando uma
verdadeira obsessão pelo pai, ao ponto de inventar mil desculpas para dormir
com ele, ficando entre os dois, enquanto passava a odiar a mãe, por julgá-la
uma rival no carinho dele. Essa situação, para tristeza de Maria, continuou, e,
quando Regina completou quinze anos, já muito bela e atraente, começou a se
insinuar para José, seu pai.
Este, não
percebeu a tentação, o que não deixou de ser observada pela mãe, que passou a
ver na filha, uma mulher a disputar o seu marido. O ambiente hostil e
desagregador fez com que mãe e filha entrassem em atrito, tendo o pai ficado a
favor da filha, por achar que a mãe não tinha razão e estar exagerando. Um dia,
alguns meses depois, num ocasião em que a mãe se ausentou do lar, Regina
aproveitou a ausência dela, e foi até onde se encontrava o pai, e passou a lhe
acariciar a abraçá-lo e a beijá-lo de forma sensual, ao mesmo tempo em que ia
se despindo. Ele aturdido, perdeu o controle, momentaneamente, e se encontrou
em relação carnal com sua filha.
A partir
desse dia, o ambiente familiar piorou muito e o relacionamento entre eles foi
se modificando por causa do pai que não se perdoou, pela filha que continuava a
assediá-lo, e pela esposa que tinha a certeza de que algo de muito terrível
havia acontecido com eles na sua ausência. Esse ambiente no lar concorreu para
que um ano depois, o pai falecia, em virtude dos remorsos e por ter desistido
da existência... No velório, a filha ao se despedir do pai e ao observar que
ninguém estava olhando, disse: - Perdoa-me, pai! Você não foi culpado e nem deveria me deixar
sozinha. Eu é que quis me entregar a você, por adorá-lo demais! Sua mãe que vinha entrando no ambiente, de
mansinho, ouviu as palavras ditas pela sua filha. O choque do que ouviu foi tão
grande que ela desmaiou e caiu, tendo as pessoas julgado que era por causa da
perda do marido.
Algumas
semanas depois, sozinhas e não suportando o ambiente, a mãe sugeriu e estimulou
a filha para procurar um trabalho, não só porque Regina continuava saudosa do
pai, como também para que ela, a mãe, tivesse um pouco de tempo e de paz, com a
ausência da filha. Regina conseguiu arranjar um emprego e, com o passar de
muitos meses ela conheceu um rapaz bem mais velho que ela, chamado Rodrigo,
muito parecido com seu pai e eles começaram a namorar. Ele, sabedor de que o
pai dela era falecido, e, tendo boas intenções com ela, desejou conhecer a sua
mãe. Ela, porém, protelou por muito tempo esse encontro, com várias desculpas,
pois não queria que ele percebesse a hostilidade existente entre ela e a mãe.
Numa ocasião em que os namorados se despediram, ele a seguiu sem que ela percebesse
e terminou chegando a casa dela. Feitas as apresentações a contragosto de
Regina, o rapaz logo se encantou com Maria, em virtude de muitas ideias e
gostos iguais e ainda, porque tinham quase a mesma idade.
Passou ele a
frequentar a casa e a se desmanchar em gentilezas para com as duas. Enquanto
namorava Regina, foi se envolvendo emocionalmente com sua mãe. Depois de algum
tempo, o namoro era apenas a desculpa para ele estar junto a Maria, porque na
verdade, o seu pensamento e os seus furtivos olhares eram para ela, que por seu
lado, carente de afeto, por tanto tempo sozinha no mundo, sentia seu coração
pulsar de alegria com a nova emoção, muito embora tentasse de todas as formas
sufocar esse sentimento.
Certo dia,
em que Rodrigo chegou a casa delas, sem que o esperassem e, a Regina não
estando, ele falou para Maria que admirava muito sua filha, mas que na verdade,
ele estava apaixonado por ela, e que iria romper o namoro com a filha dela, por
não ter mais razão de ser, e queria que ela fosse sua mulher, porquanto não
havia impedimento legal, visto ser ele solteiro e ela ser viúva. A surpresa de
Maria foi muito grande, porque, embora já gostasse de Rodrigo, jamais havia
pensado que essa situação chegasse a esse ponto. Apesar de se sentir amada e
feliz com a declaração, como enfrentar essa nova realidade? Como aceitar essa
relação se estava envolvida também sua filha?
Uma coisa
era preciso fazer antes que sua filha chegasse e percebesse que algo de anormal
estava se passando. Despediu o rapaz se comprometendo, depois de muita
insistência dele, a pensar na sua declaração e no seu propósito de viverem
juntos. Parecia que o passado voltava a se fazer presente, desta vez como se o
destino quisesse lhe oferecer uma oportunidade de vingança, coisa que nunca lhe
havia passado pela cabeça. Era preciso tomar uma atitude antes que a situação
viesse a piorar, mas qual? – A filha quando chegou do trabalho encontrou a mãe
pensativa. Naquela noite Rodrigo não apareceu e Maria se recolheu ao leito,
angustiada, ficou horas a procura de uma solução, até que adormeceu.
No dia seguinte,
ela acordou pensando nas opções que se apresentavam para a questão: a)- Romper
com os preconceitos e aceitar o amor de Rodrigo, refazendo sua existência
vazia; b)- Renunciar a esse amor que lhe oferecia Rodrigo, e continuar a existência sozinha e
solitária: c)- Conversar com a sua filha sobre os acontecimentos, a fim de acharem
uma solução para o caso; d)- Investir nesse relacionamento com Rodrigo, mesmo
sabendo que sua filha se tornará mais sua inimiga que antes. Qual a sua solução
para este caso, prezado e prezada leitora desta página! Faça o final deste drama da maneira que você
quiser...
13- VOCÊ
CONSEGUE! - Na existência tudo depende de esforço próprio. Jesus nos disse que,
com fé, conseguiremos tudo o que desejarmos realizar. Então, quando você tiver
um sonho ou quiser realizar algum projeto, não desista. Mesmo diante das
dificuldades continue tentando. As vitórias são lentas e são conseguidas palmo
a palmo. Observe as lições de vida. Um prédio levanta-se tijolo a tijolo; uma
floresta inicia-se de algumas sementes; os livros mais famosos foram escritos
letra a letra; o maior rio é formado de um conjunto de infinitas gotinhas
d’água...
Assim, diante de uma tarefa de matemática, de um
brinquedo complicado, de uma página difícil de entender, de um quebra-cabeça
que exige atenção, não diga nunca: - Não posso!
Não consigo! Quando temos
perseverança e boa-vontade, enfrentamos qualquer problema com otimismo. As
dificuldades são desafios que a existência nos apresenta para nosso crescimento
e que são também proporcionais ao nosso aprendizado. Cada fase concluída
representa uma conquista que precisamos alcançar para atingir a fase seguinte.
Jamais desista de um sonho que pode realizar, pelas dificuldades que sua
realização apresente. Utilize sua inteligência, sua força, sua criatividade e
sua perseverança para vencer os obstáculos. Diante de um problema maior,
lembre-se de fazer uma oração pedindo a ajuda de Jesus e dos guias protetores,
e encontrará a resposta que precisa... Então, nunca desista! Esforce-se e conseguirá. Trabalhando, você
vencerá! E sentirá orgulho, a justa satisfação de ter conseguido chegar a
realização da sua tarefa. Talvez suas tarefas agora sejam pequenas, mas estará
se preparando para realizar outras tarefas, maiores e mais complicadas, mais
tarde, quando crescer. Por isso, siga em
frente... VOCÊ CONSEGUE...
14- PENSAMENTOS PARA VIVER BEM - 1- Adote o hábito de dizer algo amável ao
pronunciar as primeiras palavras, pela manhã. Isso estabelecerá sua disposição
mental e emocional para todo o dia... 2- Quando sozinho, vigiemos nossos
pensamentos; em família, nosso gênio; em sociedade nossa língua! 3- Podemos e
devemos ajudar uns aos outros em ocasiões especiais; mas no final das contas,
cada um deve aprender a fazer o seu trabalho!... 4- Uma grama de exemplos, vale
mais do que uma tonelada de conselhos... 5- Pequeno é aquele que odeia os
grandes; grande é aquele que ama os pequenos!.. 6- É muito bom ser importante; porém é muito
mais importante ser bom!
7- O trabalho, afasta de nós, três males: O
vício, a doença e a necessidade... 8-
Quando a ilusão te fizer sentir o peso do sofrimento, como sendo injusto
e excessivo, recorda que não segues sozinho. Aprende a entender o serviço e a
luta dos semelhantes para que te não suponhas vítima, onde todos somos irmãos,
identificados pelas mesmas dores, dificuldades e sonhos... 9- Quantas vezes
maltratamos aos outros, tão só por exigir que se realize, de certa forma,
aquilo que os outros só conseguem fazer de outra maneira. De atritos mínimos,
partimos para atitudes extremas, ferindo até mesmo àqueles a quem mais devemos
consideração e amor; implantamos a animosidade onde existia a harmonia.
Dediquemos à solução dos problemas, as nossas melhores forças e, vamos reclamar
menos e servir mais... 10- Se o suor te
alaga a fronte e se a lágrima te visita o coração, é que a tua carga já se fez
menos densa, para a tua ascensão a plano superior. 11- Creio no Deus que fez o ser humano; não no
deus que os homens fizeram! 12- “... Não
vos inquieteis... Buscai, pois, em primeiro lugar o Reino de Deus, e todas as
outras coisas vos serão acrescentadas...”
Livro
“Otimismo em Gotas”
Livro
“Segue-me” de Emmanuel (Espírito)
15- RETRATO
DE JESUS - “Sabendo que desejas conhecer quanto vou narrar, existe nos nossos
tempos um homem, o qual vive atualmente de grandes virtudes, chamado Jesus, que
pelo povo é inculcado o profeta da verdade,
e os seus discípulos dizem que é filho de Deus, criador do céu e da
terra e de todas as coisas que nela se acham e que nela tenham estado; em
verdade, oh César, cada dia se ouvem coisas maravilhosas desse Jesus;
ressuscita os mortos, cura os enfermos, em uma só palavra: é um homem de justa
estatura e é muito belo no aspecto, e há tanta majestade no rosto, que aqueles
que o vêm são forçados a amá-lo ou temê-lo. Tem os cabelos da cor da amêndoa bem
madura, são distendidos até as orelhas, e das orelhas até as espáduas, são de
cor da terra, porém mais reluzentes.
Tem no meio
de sua fronte uma linha separando os cabelos, na forma em uso nos nazarenos, o
seu rosto é cheio, o aspecto é muito sereno, nenhuma ruga ou mancha se vê em
sua face, de uma cor moderada; o nariz e a boca são irrepreensíveis. A barba é
espessa, mas semelhante aos cabelos, não muito longa, mas separada pelo meio,
seu olhar é muito afetuoso e grave; tem olhos expressivos e claros, o que
surpreende é que resplandecem no seu rosto como raios do sol, porém ninguém
pode olhar fixo o seu semblante, porque quando resplende, apavora, e quando
ameniza, faz chorar; faz-se amar e é alegre com gravidade.
Diz-se que
nunca ninguém o viu rir, mas, antes, chorar. Tem os braços e as mãos muito
belos; na palestra, contenta muito, mas o faz raramente e, quando dele se
aproxima, verifica-se que é muito modesto na presença e na pessoa. É o mais
belo homem que se possa imaginar, muito semelhante à sua mãe, a qual é de uma
rara beleza, não se tendo, jamais, visto por estas partes uma mulher tão bela,
porém se a Majestade Tua, oh César, deseja vê-lo, como no aviso passado
escreveste, dá-me ordens, que não faltarei de mandá-lo o mais depressa
possível. De letras, faz-se admirar de toda a cidade de Jerusalém; ele sabe
todas as ciências e nunca estudou nada. Ele caminha descalço e sem coisa alguma
na cabeça. Muitos se riem, vendo-o assim, porém em sua presença, falando com
ele, tremem e admiram.
Dizem que um
tal homem nunca fora ouvido por estas partes. Em verdade, segundo me dizem os
hebreus, não se ouviram, jamais, tais conselhos, de grande doutrina, como
ensina este Jesus; muitos judeus p têm como Divino e muitos me querelam,
afirmando que é contra a lei de Tua Majestade; eu sou grandemente molestado por
esses malignos hebreus. Diz-se que este
Jesus nunca fez mal a quem quer que seja, mas, ao contrário, aqueles que o
conhecem e com ele têm praticado, afirmam ter dele recebido grandes benefícios
e saúde, porém à tua obediência estou prontíssimo, aquilo que Tua Majestade
ordenar será cumprido.
Vale, da Majestade Tua, fidelíssimo e
obrigadíssimo...
Públio Lêntulo, presidente da Judéia.
L’indizione
sétima, luna seconda”.
(Este
documento foi encontrado no arquivo do Duque de Cesadini, em Roma. Essa carta,
onde se faz o retrato físico e moral de Jesus, foi mandada de Jerusalém ao
imperador Tíbério César, em Roma, ao tempo de Jesus).