quinta-feira, 16 de junho de 2016

O INFINITO





  Respondendo à questão nº 2 de “O Livro dos Espíritos”, codificado por Allan Kardec: “Que se deve entender por infinito?”, os Espíritos Superiores esclareceram: “O que não tem começo nem fim”.
Aos menos atentos, esse tema não se revestiria de tanta importância, mas ele toca numa questão filosófica relevante que se entrelaça com a questão religiosa e científica.
No aspecto religioso, somente com o espírito de humildade é possível aceitar o infinito com tranquilidade e confiança no Criador. Diante do infinito o ser humano treme e se sente apequenado, pois se vê arrebatado pela grandiosidade do Universo, que evoca profundas reflexões, por exemplo, quando descortina o firmamento povoado de trilhões de estrelas ou quando está diante da morte física inevitável.
No âmbito científico, o infinito é um convite permanente ao investigador sedento de saber, o qual, mesmo diante do incognoscível, não desiste e continua procurando respostas para suas desafiantes pesquisas.
A resposta dos amigos espirituais está envolta em uma aparente obviedade, contudo, seu alcance é bem mais amplo, pois vai além de um simples jogo de palavras. O infinito nos remete ao que é incalculável, que não pode ser mensurado, aquilo que não tem limites. Amadurecida a compreensão na maioridade mental, percebe o ser humano a sua própria pequenez à frente do Infinito. Observa que o planeta, grande e sublime pelas oportunidades de elevação que nos oferece, é um simples grão de areia quando comparado ao imenso Universo. Cercado por sóis e mundos incontáveis, ergue-se dentro de si mesmo, para indagar quanto aos problemas do destino, da dor e da morte... Suas perguntas silenciosas atravessam o Espaço incomensurável, em busca das eternas revelações...
Na tentativa de solucionar esta simples informação, inúmeros sistemas foram construídos, muita tinta se gastou para explicar o que, por enquanto, é inexplicável. Outros, que se supunham dotados de grande inteligência, chegaram a enlouquecer de tanto pensar nisso, porque a razão é, ainda, impotente para entender o infinito. Tal circunstância apenas demonstra a nossa indigência intelectual, para não dizer espiritual, quanto ainda estamos longe de compreender os segredos da criação do Universo.
Observação – Se há um mistério insondável para o ser humano, é o princípio e o fim de todas as coisas. A visão do infinito lhe dá vertigem. Para compreender, são necessários conhecimentos e um desenvolvimento intelectual e moral que ainda está longe de se possuir, malgrado o orgulho que nos leva a julgar-nos chegado ao topo da escala humana. Entretanto, em relação a certas ideais, estamos na posição de uma criança que quisesse fazer cálculo diferencial e integral antes de saber as quatro operações.
Quando, por exemplo, o ser humano cria leis como o aborto, a pena de morte, a eutanásia, com o propósito de controlar a população mundial, conter o crime e evitar o sofrimento, está dando mostras de sua enorme ignorância e limitação, de que não consegue enxergar de que no infinito estão soluções mais dignas e simples para esses problemas. Quando o ser humano cria sistemas, como o capitalismo e o socialismo, os quais não resolvem as questões da economia, do bem-estar social e da criminalidade, nem evitam as guerras e a miséria, é porque ignora que há outras maneiras mais aperfeiçoadas de fazer o que deve ser feito.
O Espírito de Bezerra de Menezes escreveu interessante mensagem, com que inaugura o livro “O Espírito da Verdade”, oferecendo solução para os problemas da humanidade. Nela, mostra que o mundo está repleto de ouro, de espaço, de cultura, de teorias e de organizações, apontando-as como impotentes para resolver os dilemas humanos. Ao concluir a sublime mensagem, o venerando Espírito indica um roteiro infinito de bênçãos não encontradas em nenhum compêndio científico e que está ao alcance de todos: “Para extinguir a chaga da ignorância, que acalenta a miséria; para dissipar a sombra da cobiça, que gera a ilusão; para exterminar o monstro do egoísmo, que promove a guerra; para anular o verme do desespero, que promove a loucura e para remover o charco do crime, que carreia o infortúnio, o único remédio eficiente é o Evangelho de Jesus no coração humano”.  
Enquanto alguns se perdem nas cogitações, e outros mergulham nas festas ruidosas do mundo, numa busca frenética e incessante da felicidade, o infinito aponta outros caminhos para a redenção humana. Assim, podemos dizer que o infinito é um emblema do Criador a nos lembrar que, incessantemente, vivemos mergulhados em abundância material e espiritual. Se, sofremos se vivemos na miséria, se somos limitados, ainda presos a alguma coisa, ansiosos e aflitos em virtude de dificuldades que não conseguimos superar, é porque o egoísmo tolda nossos olhos e nossa inteligência; é porque a ignorância não nos deixa sondar o destino glorioso que nos está reservado no infinito e que compete a nós construir...

Fonte:
Revista “O Reformador” – 02/2014
Chistiano Torchi
+ Supressões e pequenas modificações

Jc.
São Luis, 11/5/2014

DESIGUALDADES






  No Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa da Academia Brasileira de Letras, o termo “desigualdade”, é definido como: condição, estado e qualidade de desigual; falta de igualdade, diferença.
Por que na existência dos seres humanos na Terra, existem tantas e variadas desigualdades? Por que essas desigualdades? Por que existem pessoas que nascem com doenças e deformidades e outras que nascem sem problemas nenhum de anomalias ou de saúde? Por que umas nascem bonitas como anjos e outras horríveis como monstrengos? Por que umas nascem brancas e outras pardas, amarelas, vermelhas e negras? Por que umas nascem em berço de ouro e outras nascem em situações as mais miseráveis? Por que umas são acolhidas com imenso carinho e amor, e outras são abortadas nas suas pretensões de vida, ou, quando chegam a nascer, são tratadas como indesejáveis e detestáveis?
Desigualdades de caráter, de vocações, de moralidade, de sentimentos, de conhecimentos, de afinidades, do próprio corpo, da estatura, da cor dos cabelos, dos olhos, das famílias, enfim, são tantas as desigualdades que nos remete a fazer perguntas, tais como: - Se somos criador pelo mesmo Pai Celestial, por que tantas desigualdades? Quais as razões para tudo isso? Porventura, todas essas desigualdades, são uma determinação ou uma Lei de Deus? O que você tem a dizer sobre o assunto? Você tem alguma opinião ou explicação para essas desigualdades?
Vejamos o que aconteceu num reinado, onde as pessoas foram se queixar ao rei de que ele não era justo, porquanto, nos seus domínios, algumas pessoas viviam nababescamente bem, na fartura, outros mais viviam em boas condições e a grande maioria vivia com o mínimo possível e às vezes, em condições precárias. O rei então lhes perguntou o que sugeriam para o problema, e eles responderam: Que todos os bens fossem repartidos, igualmente, para todos. O rei respondeu-lhes que estudaria o assunto e se pronunciaria posteriormente. Ele então analisou as condições que existiam no seu reinado, onde tanto os ricos, os remediados bem como os pobres, todos trabalhavam e viviam dependendo do que era produzido ali mesmo, sem depender de outros reinos. Então ele convocou o povo e lhes disse que atenderia ao pedido que lhe fora feito, repartindo todos os bens existentes no seu reinado, com todos os habitantes. Ele recolheu todos os bens e dividiu, igualmente com todos, de maneira que um não possuía mais que outro, e mandou fechar as fronteiras do seu reino para que não entrasse alimentos e nem saísse ninguém dos seus domínios.
Cada um, satisfeito e possuidor de bens iguais aos outros, passou a não se sujeitar e nem a trabalhar para ninguém, pois possuía tanto quanto os outros. Todos passaram então a consumir e ninguém a produzir. Em pouco tempo, tudo o que existia de alimentos foi consumido e a escassez se fez presente. O povo na dificuldade voltou à presença do rei para pedir que ele permitisse que fossem comprados nos reinos vizinhos, os alimentos que tinham acabado, pois todos tinham condições, mas não havia mais alimentos para comprar e o povo estava passando fome. O rei então respondeu: No meu reino, havia a prosperidade; todos viviam, todos trabalhavam e os alimentos e as demais necessidades que eram produzidas, satisfaziam a necessidade de todos, sem depender de outros reinos. Vocês queriam dinheiro e bens; dinheiro e bens, eu como rei confisquei dos que tinham muito para repartir com todos vocês. Se agora ninguém trabalha e nem produz, e está passando fome, a culpa é de vocês mesmos que, movidos pela inveja e ambição, reclamaram a mim, contra os que tinham muitos bens, que lhes proporcionava o trabalho e a oportunidade de viveram de acordo com seus esforços e aptidões. Vocês pediram bens e dinheiro e eu os atendi, agora comam os bens e o dinheiro que vocês pediram.
O povo, arrependido, implorou pela volta do antigo sistema em que todos viviam de acordo com a disposição e o esforço de cada um, e o rei feliz por ter dado uma lição a eles, demonstrou que tudo que Deus faz é o melhor para todos, e que a desigualdade é necessária para a harmonia do todo. O rei então recolheu tudo e deu a cada um, os bens, de acordo com o que possuíam antes, e o seu reinado voltou a ser próspero e o povo mais feliz do que anteriormente, porquanto houve a  conscientização de que do esforço próprio e do trabalho, dependia a melhora de vida de cada um.    
A Doutrina dos Espíritos, por meio da sua Ciência e da Filosofia, nos dá as explicações de todas essas diferenças, principalmente da desigualdade das posses terrenas.  No “Evangelho Segundo o Espiritismo”, capítulo XVI, no título que fala das “Desigualdades das Riquezas”, encontramos a seguinte explicação:
“A desigualdade das riquezas, é um desses problemas que se procura em vão resolver, considerando-se apenas a existência atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por que todos os seres humanos não são igualmente ricos? – Não o são por questões muito simples: é que eles não são igualmente inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem moderados e previdentes para conservar. Acrescente-se que, matematicamente demonstrado, a fortuna, igualmente repartida, daria a cada pessoa, uma parte mínima e insuficiente, que, supondo-se essa repartição feita, o equilíbrio estaria rompido em pouco tempo, pela diversidade das capacidades e das aptidões; e supondo-se possível e durável, cada um tendo apenas do que viver, isso seria o aniquilamento de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e o bem-estar da Humanidade. Se Deus a concentra em certos pontos, é porque daí ela se expande sempre em quantidades suficientes segundo as necessidades”.
Dando ao ser humano o livre arbítrio, quis  que  ele  alcançasse,  por sua própria experiência e sabedoria, a distinção entre o bem e o mal, e que a prática do bem fosse resultado da sua vontade e dos próprios esforços. Se ele fosse conduzido fatalmente ao bem ou ao mal, seria apenas um instrumento passivo e irresponsável, como os animais. A fortuna é um meio de prová-lo moralmente, e ao mesmo tempo, um meio de ação para o progresso. Deus não quer que ela fique por muito tempo, improdutiva, e por isso, desloca-a incessantemente. Cada um que a possui, deve servir-se dela, e saber o que dela fazer; sabendo utilizá-la para o bem de todos, ela pode proporcionar a felicidade e a evolução espiritual. Deus sendo justo obriga que cada um trabalhe a seu turno; a pobreza é para uns a prova da resignação e da humildade; a riqueza é para outros a prova da abnegação e da caridade.
Entretanto, é deplorável e lamentável o uso que certas pessoas fazem de sua fortuna, e se pergunta se Deus é justo em dar riqueza a tais pessoas. Se o ser humano tivesse apenas uma só existência, nada justificaria essa repartição dos bens da Terra; mas considerando-se o conjunto das existências, vê-se que tudo se equilibra com justiça. Todos a possuem a seu turno: quem não a tem hoje, já a teve anteriormente ou poderá tê-la amanhã. Assim, o pobre de hoje não tem mais motivo para acusar a Providência Divina, nem para invejar os ricos, e os ricos não têm mais do que se orgulhar pelo que possuem.
A fonte de todo mal está no egoísmo e no orgulho; os abusos de toda espécie cessarão por si mesmos quando os seres humanos se regerem pela lei do amor e da caridade. A verdadeira propriedade consiste apenas no que se pode levar deste mundo. O que encontramos ao chegar e o que usamos durante nossa permanência na Terra apenas somos  usufrutuário e não proprietário. Os conhecimentos e as qualidades morais, eis o que se traz e o que se leva que nos servirá mais na Espiritualidade do que neste mundo. Saindo mais rico nesses valores em nossa partida do que em nossa chegada, é que vai determinar nossa posição futura.
Assim sendo, ao ser humano usufrutuário dos bens da Terra, Deus lhe pedirá severas contas do emprego que dele tiver feito da fortuna, em virtude do seu livre arbítrio. “Aquele á quem mais é dado, muito lhe será cobrado”...
Bibliografia:
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”
+ Pequenas modificações

Jc.
S. Luís, 22/03/2013
Refeito em  12/6/2016