quinta-feira, 13 de setembro de 2012

DEUS, VINGATIVO OU DE BONDADE E AMOR?

DEUS, VINGATIVO OU DE AMOR E BONDADE? Pitágoras, que viveu no século VI antes de Cristo, foi um dos mais lúcidos Espíritos da antiga Grécia. Chamado sábio pelos seus discípulos, respondia que era apenas um filósofo, um amigo do saber. Para Plantão, outro grande sábio grego, a filosofia devia ser exercitada não por mero prazer, mas como uma necessidade básica do ser humano, em busca da Verdade. – Quem sabe de onde veio, situa-se melhor; quem sabe por onde anda não se perde nos caminhos; e quem sabe para onde vai, não experimenta o desalento. Na grande maioria, os filósofos procuram o saber, não por amor à sabedoria como Pitágoras; nem por amor a Verdade, como Platão. Vaidosos de si mesmos, os filósofos e cientistas pretendem decifrar os enigmas do Universo, a partir da exaltação da própria vaidade. Quase sempre cometem um erro fundamental: Ignoram a presença de Deus no Universo, pretendo explicar a criação sem um Criador. Diz Jesus, narrado por Mateus, C-11 V-25: “Graças te dou, ó Pai, Senhor do Céu e da Terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e entendidos e as revelastes aos pequeninos”. Não menos importante é exercitarmos a razão para apreciar a Regência Divina. Sem esse empenho, incorreremos no milenar erro: conceber um deus, feito à nossa imagem e semelhança, governando a vida universal, sob a inspiração de paixões típicas da inferioridade humana. Jeová, o todo poderoso senhor bíblico, vingava-se até a quarta geração daqueles que o ofendiam e determinava que os judeus passassem a fio de espada, em terras inimigas, tudo o que tivesse fôlego, todos os viventes, fossem homens, mulheres, velhos, crianças, etc. O “deus” que muito cristãos ainda aceitam não é melhor. Em nome de Deus, durante séculos e séculos, imensas hordas humanas fanáticas e desvairadas, se perseguiram e se assassinaram, nas antigas “guerras santas”. Em nome de Deus, violentos conflitos feudais fizeram no Velho Mundo, um rio de sangue. Em nome de Deus, as truculências da Inquisição, torturaram, queimaram e mataram milhares de pessoas. Em nome de Deus, terríveis conflagrações religiosas ensanguentaram a Europa. Em nome de seu Deus, “aiatolás” distribuem sentenças de morte e promovem mundo afora, criminosos atentados terroristas. Em nome de Deus, se cometem, em toda parte, as mais insidiosas perfídias e agressões aos seres humanos. Em nome de Deus, digladiaram-se os chamados cristãos na Irlanda, e digladiam-se até hoje, judeus e palestinos, e em disputas propagandísticas aqui no Brasil. Todas essas violências foram e são praticadas em nome de Deus, por aqueles que se diziam e dizem serem seus representantes, muito embora Deus ou Jesus, nunca tenha passado procuração nesse sentido. Deus, criador e único, de extremo amor, bondade e misericórdia, manifestou-se através de Moysés, para fazer-se conhecer, não somente aos Hebreus, mais ainda aos povos pagãos. A Lei de Deus, conhecida como o “Decálogo” ou Dez Mandamentos, recebida por Moysés no Monte Sinai, é um código moral com alguns aspectos religiosos e não nos ameaça com sofrimentos eternos, nem recomenda a prática do mal. A ordenação do “dente por dente” e “olho por olho”, ou mesmo a matança de outras pessoas sob qualquer alegação ou justificativa, foi criada por Moysés para conter os excessos do povo ignorante e embrutecido. Assim, se falta aos filósofos e cientistas a religiosidade, carece de fraternidade os religiosos que se digladiam sem respeitar os direitos dos outros. Allan Kardec, ao começar seu trabalho da Codificação da Doutrina dos Espíritos, teve o bom senso de partir da ideia fundamental – DEUS. A primeira pergunta que formulou as Entidades Elevadas foi: “Que é Deus?” Normalmente de perguntaria: quem é Deus? – No entanto, qualquer estudante secundário sabe que há uma diferença fundamental entre os pronomes – que e quem. O pronome –quem- identifica alguém. Quem é Jesus? Um judeu, nascido em Belém, filho de José e sua esposa Maria. Já o pronome, –que- define atividade, condição, qualificação. Por isso Allan Kardec, sabiamente, não perguntou quem é Deus. Onde nasceu? Qual sua origem? Quem são seus pais? – Limitou-se ele a perguntar, quanto à qualificação de Deus e não quanto a sua identificação. – “Que é Deus?” – Os mentores espirituais ao responder, dizem que Deus é a Inteligência Suprema, causa primária de todas as coisas, esgotando o assunto, nos limites do saber humano. Após a partida de Allan Kardec para o mundo espiritual, Gabriel Delanne, em reunião realizada em Paris, lançou luzes sobre a Doutrina Espírita, dizendo: “Estudaremos sob a direção dos Espíritos Superiores, as questões que tratam da busca da Verdade, porém convém nos entendermos sobre o ponto de partida de nossos trabalhos. A questão da existência de Deus é a primeira que se apresenta. Todas as religiões antigas fizeram uma falsa ideia da Divindade; elas lhe reconhecem um poder superior ao da Humanidade, mas, ao mesmo tempo, lhe atribuíam a maior parte das paixões. Essa concepção era a resultante do estado geral dos espíritos. O ser humano, devendo sofrer evoluções sucessivas não podia, nas primeiras idades, oferecer uma ideia justa do Ser Supremo, que chamamos Deus”. Quanto mais o Espírito progride, desenvolve suas faculdades intelectuais, favorecendo a evolução de novas ideias, e a Ciência, ampliando a compreensão humana engrandece a noção da Divindade, reconhecendo um Deus que reina não apenas em nosso pequeno mundo, mas na imensidão do Universo. É diante desses horizontes, abertos à investigação humana, que o Espírito maravilhado, descobre o Criador, tão acima de nós, onde a ordem, o trabalho, a grandeza, a majestade reinam por toda parte; tudo demonstrando a bondade e justiça de Deus. Esse Deus não é mais o deus implacável e vingativo, que condenava eternamente o ser humano pela falta de um momento. Não é mais o Jeová rancoroso, que ordenava a degola dos que não acreditavam nele. Esse Deus atual, apresentado por Jesus, nos aparece como a Inteligência Suprema, se manifestando no admirável conjunto das forças que dirigem o Universo; sua bondade, pela lei da reencarnação, nos permite resgatar nossas faltas e nos elevar, gradativamente, até sua Infinita Majestade. Em face desses novos ensinos de amor e bondade, caem as velhas lendas que faziam mergulhar nossos espíritos num dogmatismo absurdo, enigmático e tirânico. Neste pequeno globo em que vivemos, a Terra mostra sem cessar, aos nossos olhos, o emocionante quadro de transformações. As estações seguem seu curso, os corpos se atraem e combinam a vida circula sobre o planeta, juntando e desagregando moléculas, segundo leis supremas. Entretanto, as leis que produzem esses fenômenos demonstram uma identidade de origem. Todas elas se cumprem maravilhosamente. Além disso, na Natureza, tudo é harmonia; os corpos se unem em proporções definidas, havendo para cada corpo uma determinada quantidade de matéria que se combina. Tudo vibra na Natureza, em condições determinadas por uma Inteligência, sendo a causa maior que o efeito. Se essas observações são verdadeiras no mundo material, elas o são igualmente no mundo espiritual, cuja existência nos é demonstrada de uma forma irrecusável, pois faz parte de nossa crença. Sabemos, pelos Espíritos Superiores, que eles próprios obedecem a regras que lhes são impostas e leis às quais é necessário obedecer e que são evidentemente superiores. Disso resulta que o Deus que descobrimos é de Infinita Grandeza, de Infinito Poder, de Infinita Justiça e de Infinita Bondade. É o Deus que paira acima da Criação, que a envolve com seus fluidos; é por Ele que o Universo se formou; é por Ele que os planetas gravitam nos espaços, em torno dos focos luminosos, formando brilhantes auréolas de sóis. É por Sua vontade que as admiráveis leis imutáveis desenvolvem no Infinito, as combinações maravilhosas que produzem tudo quanto existe. É por sua justiça que traçou as leis de fraternidade e solidariedade que se fazem sentir entre os seres humanos e os mundos; e por Sua vontade, deu ao ser humano o meio de conseguir a felicidade através das reencarnações. É O Deus da vida eterna; é o Deus cuidando da Criação. Desde a tenra e pequenina erva do campo, passando pelas aves e animais, tudo é cuidado com Amor por Ele. Ninguém é órfão, ninguém está desamparado. Deus cuida do que é melhor para nós e todas as facilidades nos serão concedidas para vivermos e progredirmos para uma vida melhor. Assim é o Determinismo Divino ao qual estamos sujeito, e, possuidores do “livre arbítrio”, escolhemos como viver e progredir. Podemos galgar planos superiores se agirmos conforme as Leis Divinas, evitando reencarnações e sofrimentos desnecessários. Para se crer em Deus e na sua Infinita Bondade, basta lançar os olhos sobre as obras da Criação. Duvidar da existência de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa, e acreditar e aceitar que o nada pôde fazer tudo isso que aí está. A propósito da existência de Deus, conta-se a historia de um velho árabe analfabeto que orava com tanto fervor e com tanto carinho, cada noite, que, certa vez, o chefe da caravana onde ele servia, chamou-o a sua presença e lhe perguntou: - Por que oras com tanta fé? Como sabes que Deus existe, quando nem ao menos sabe ler? O crente fiel respondeu: - Senhor conheço a existência de nosso Pai Celestial, pelos sinais dele. – Como assim? – indagou o chefe admirado. O servo humilde explicou então: - Quando o senhor recebe uma carta de pessoa ausente, como reconhece quem a escreveu? – Pela letra e assinatura - respondeu o chefe. – Quando o senhor ouve passos de animais ao redor da tenda, como sabe depois, se foi um carneiro ou um camelo? – Pelos rastos - respondeu o chefe intrigado. Então o velho crente convidou-o a sair da tenda e, mostrando-lhe o Céu, onde brilhava a lua cercada de muitas estrelas; exclamou respeitoso: - Senhor, por aqueles sinais, lá em cima, que não foram feitos pelos homens, reconheço a existência de Deus... Quanto maiores os efeitos, mais potente é a causa. Deus não se mostra, mas se revela pelas Suas obras. Quem não se curva reverente, ante a grandiosidade do Universo? E diante dos micro-organismos que não vemos a olho nu, e que pensavamos não existir? As Leis de Deus são todas plenas de sabedoria e bondade, e sua misericórdia se revela tanto nas pequeninas como nas grandes coisas, e não devemos duvidar da Sua Existência. Ainda sobre a existência de Deus, conta-se a história de uma professora que estava tendo problemas em sua classe com os alunos. Um deles, de família afastada de religião e com ideias negativas, afirmava para as outras crianças, que Deus não existia; era apenas uma invenção dos homens. As outras crianças, surpresas e inquietas, não sabiam como desdizer as palavras do colega e começaram a se sentir inseguras na sua fé. Chegando ao conhecimento da professora, ela preocupada com o problema de esclarecer a existência de Deus, pensou, pensou e afinal teve uma ideia. Avisou aos alunos que no dia seguinte iriam fazer uma experiência e disse ela às crianças, que deveriam trazer qualquer objeto, - brinquedo, relógio, rádio, etc. que estivesse quebrado e também que deveriam trazer uma caixa em que coubesse o objeto. No dia seguinte, compareceram os alunos portando um objeto solicitado, e intensa era a expectativa. A professora mandou então que todos colocassem o objeto quebrado dentro da caixa com todas as peças e pedaços e tampasse a caixa. Em seguida ela mandou que agitassem a caixa, tentando fazer com que as peças e pedaços se encaixassem em seus lugares e os mecanismos voltassem a funcionar. Findo algum tempo, a professora pediu que parassem de agitar e abrissem as caixas para ver o resultado. – Como estão os brinquedos e aparelhos? – perguntou a professora. As crianças olharam o conteúdo de suas caixas, e uma delas desanimada, respondeu: - Continuam quebrados. Ela então perguntou à classe: - Ninguém conseguiu consertar o seu objeto? Todos responderam negativamente. Um deles afirmou convicto: - Nem que ficássemos agitando o dia inteiro, conseguiríamos consertá-los dessa maneira. – E por que? – voltou a perguntar a professora. Outro aluno então respondeu: - Porque para que funcione é preciso que “alguém” coloque as peças no lugar e ponha em movimento. A professora voltou a falar: - Vocês concordam que é preciso uma pessoa que conheça o mecanismo e saiba fazer o serviço? Todos os alunos concordaram. Satisfeita, a professora então falou: - Muito bem. É preciso o esforço de alguém para que alguma coisa funcione. Fez uma pequena pausa e concluiu: - E o Universo que é tão grande, quem fez? Quem pode me dizer quem faz o Sol nascer todas as manhãs? Quem faz as plantinhas brotarem? As árvores darem frutos, as chuvas banharem a terra e as marés subirem e descerem? Quem criou os minerais, os vegetais, os animais? E os peixinhos do mar...? Então, quem fez todas essas coisas maravilhosas? – Todos responderam: - DEUS! - Muito bem, Deus criou tudo o que existe, até nós mesmos. Ele é o nosso Pai e devemos sempre lembrar que Deus nos ama a todos, e não quer o nosso mal, porque Ele é Bom e Amoroso... Aqui acaba essa historia e nos deixa uma pergunta: Por que o medo de Deus é a principal causa de estresse em criança de 7 a 10 anos de idade, segundo pesquisa realizada pela psicóloga Marilda Novaes? De acordo com a psicóloga, as crianças recebem dos pais ou escolas, a imagem de um Deus que pune aqueles que não obedecem às leis. Na pesquisa, muitas crianças disseram ter a sensação de estarem sendo “vigiadas” por um Deus capaz de castigá-las, se não agissem de acordo com os padrões determinados pelos pais, escolas e religiões. Algumas religiões exageram, e acabam criando nas crianças um medo real de ir para o inferno. O fato de crianças nessas idades serem vítimas de estresse compreende-se: os pais passam para elas, esta imagem deformada do Criador. Faço minhas as palavras do irmão Delmo Ramos, quando diz: - Nestes séculos, o Deus mostrado pelas outras religiões, é ainda aquele adotado por Moysés, para conter os excessos de um povo ignorante e atrasado intelectual e moralmente. Esse ainda é o Deus vingador e impiedoso que condena seus filhos ao fogo eterno no inferno; que admite privilégios de castas; que quer ser adorado e louvado com a vaidade digna dos seres humanos; o Deus que criou o demônio, criatura tão poderosa que desafia o Criador; enfim, o Deus que ainda é mostrado para muitas pessoas, feito a imagem e semelhança do homem, pelo próprio homem, com a figura de um velho de longas barbas. As religiões durante séculos nos levaram a temer a ira do Senhor, ao invés de mostrar-nos a Sua Bondade, a Sua Justiça, a Sua Misericórdia e o Seu Amor. Um dia, Deus na Sua Infinita Bondade, permitiu ao ser humano ver a Verdade dissipar as trevas. Esse dia foi o advento do Cristo. Jesus foi o iniciador de uma nova era de moral mais pura e mais sublime. Os seus exemplos, os seus atos e ensinamentos permanecem até os nossos dias, nos chamando a uma reflexão. Ao se despedir dos seus apóstolos, promete que pediria ao Pai, para enviar outro Consolador para fazer recordar (só se recorda aquilo que foi esquecido), tudo o que Ele havia dito e ensinar todas as coisas. A Doutrina dos Espíritos, considerada o “Consolador Prometido”, nos libertou das trevas, e nos veio revelar o verdadeiro Deus de Bondade, Misericórdia e Amor, oculto durante milênios, que dá aos seus filhos, tantas oportunidades quantas forem necessárias, por meio da reencarnação, para resgatarem suas faltas cometidas contra o próximo. Assim sendo, não castiga, apenas submete todas as suas criaturas às suas Leis, dentre elas, a lei de “Causa e Efeito”, também conhecida como a lei de “ação e reação”. São palavras de Jesus: “A cada um será dado, segundo as suas obras”, que confirmam esta verdade. O ser humano foi criado por Deus à sua imagem e semelhança, conforme afirmação evangélica, ocasionando daí o fato de muitos entenderem e retratarem Deus, como sendo igual ao homem. Tal imagem reduziria a grandeza do Criador, a mera condição humana, o que é inconcebível, fruto da concepção de mentes ainda muito ignorantes. Essa semelhança entre o Criador e a criatura, é de ordem espiritual apenas, porque Deus é Espírito, e, sendo suas criaturas espíritos inteligentes, é nesse sentido que nos assemelhamos a Deus. Semelhantes, mas não iguais, porquanto Deus é imutável, único, criador de todas as coisas, enquanto nós seres humanos, ou espírito, somos mutáveis, sujeitos a existências na matéria, a fim de fazermos a nossa evolução. Deus é Espírito e a sua criação, o homem também o é, essa é a semelhança que muitos não compreendem. Finalizando, vamos dar carinho, amor e bons exemplos aos nossos filhos a fim de não precisarmos fazer de Deus, nosso substituto nessa tarefa, e nem façamos do nosso Pai Criador, o disciplinador das faltas dos nossos filhos, função que é de responsabilidade dos pais, perante as Leis de Deus... Bibliografia: Evangelho de Jesus “Livro dos Espíritos” Jc. S. Luís, 22/09/2004 Refeito em 13/09/2012

terça-feira, 11 de setembro de 2012

JERÔNIMO MENDONÇA

JERÔNIMO MENDONÇA RIBEIRO Um espírita dos mais dedicados e que enfrentou as maiores dificuldades para cumprir sua missão foi, sem dúvida, Jerônimo Mendonça. Nasceu ele em Ituiutaba (MG), no dia 1º de novembro de 1939, filho de Altino Mendonça e Antonia Olímpia de Jesus, sendo o nono filho. Ele teve uma infância pobre e cheia de privações e seus pais sendo pobres e analfabetos, lutavam arduamente pela sobrevivência: a sua mãe lavando roupa para fora e seu pai fazendo “bicos” pelas fazendas. Com treze anos, foi levado a uma Igreja Presbiteriana, que professou até os 15 anos de idade. Após a desencarnação de sua avó, começou a se debater mentalmente no problema cruciante da morte e do destino da alma. Dotado de um espírito indagador, não se sujeitou aos horizontes estreitos da Igreja no que dizia respeito á crença em Deus, ao conceito de uma existência única e de uma salvação limitada. A amizade com um espírita o fez converter-se à Doutrina Espírita. O espírita esclareceu-lhe umas dúvidas sobre a vida no além-túmulo e conseguiu acalmá-lo. Já na mocidade, Jerônimo começou a sentir dores nas articulações, principalmente nos joelhos e tornozelos. Esses pontos de seu corpo passaram a “inchar” e já aos dezoito anos andava com dificuldades. Ele teve vários empregos, porém as dores se agravaram e não lhe deram tréguas e o impediam de permanecer por muito tempo num mesmo trabalho, como entregador de jornais, balconista, redator de uma revista e professor. Seu passatempo preferido era ir ao cinema, sendo fascinado por “Tarzan”, ficando ele com esse apelido. Em quanto sua saúde lhe permitia, participou de várias excursões com os jovens da Mocidade Espírita. Certo dia foi ao cinema assistir “...E o Vento Levou”, e como não havia nenhuma poltrona vazia, Jerônimo ficou então quatro horas em pé no fundo do salão. Ao terminar o filme, ele estava como que petrificado, com grandes dores nos membros inferiores. Foi aí que começou a jornada dolorosa e difícil da paralisia. Passou três meses deitado, plenamente impossibilitado de se locomover Depois usou muletas por algum tempo enquanto ia lecionar. Conhecer o Espiritismo ainda na juventude foi de grande auxílio para ele, pois se defrontou com a primeira das grandes provações que iria enfrentar: a artrite reumatoide, que lhe causava enormes dores e dificuldades de locomoção, quadro esse que foi se agravando até que aos vinte anos de idade ficou definitivamente numa cama ortopédica, porque a artrite reumatoide progredira. Seu quadro era tão desolador que, mesmo sob o efeito de medicamentos, seus amigos tiveram que fabricar uma cama especial e colocaram sobre seu peito um saco de areia de 30 quilos para que pudesse suportar a dor. Mesmo assim, como ele insistia em ir aos Centros Espíritas, recebeu de um amigo uma Kombi para poder ser levado para fazer suas palestras. Jerônimo tornou-se então, um orador espírita ambulante, transformando seu leito numa tribuna que viajou por muitos lugares do Brasil, realizando um grande e valioso trabalho, principalmente pelos seus exemplos de sacrifício e coragem. Quem o conheceu afirmava que ele sempre estava rindo, gostava de um bom papo e de cantar também. Certa vez, o Dr. Fritz disse-lhe que ele tinha a doença de três CCC – cama, carma e calma. Os seus amigos sempre o levavam ao cinema e também a outros lugares para se distrair. Estando certa ocasião, justamente num cinema, uma moça tropeçou em sua cama e “explodiu”! – “Não é possível! Aonde eu vou, está este aleijado! Vou a uma festa, o aleijado está lá! Esse aleijado me persegue! Aonde eu vou, ele está!” – Jerônimo pensou consigo: “É agora?! A moça está revoltada, nervosa mesmo. Tenho que lhe dar uma resposta, mas não quero irritá-la mais ainda. O que vou dizer?”- E ele saiu com esta resposta: “Mas também, minha filha, você não pára em casa, hein!” – Ela olhou-o atônita e em seguida começou a rir. Riram juntos e ficaram amigos. Jerônimo permaneceu assim cerca de trinta e dois anos preso ao leito, paralítico e com a agravante da perda da visão. Como ele tinha dificuldades de dormir, aproveitou para estudar bastante a Doutrina dos Espíritos. Quando ficou cego, os amigos liam para ele. Certa vez, um repórter lhe perguntou o que era a felicidade. Ele respondeu assim: “A felicidade para mim, deitado há tanto tempo nesta cama sem poder me mexer, seria poder virar de lado”. Em outra ocasião ele disse: “Casei-me com a Doutrina Espírita no religioso e com a dor no civil”. Eis alguns casos da existência desse vulto do Espiritismo: Por ocasião de um enterro, quando o cortejo seguia para o cemitério, sua Kombi estava logo atrás. Quando retiraram sua cama do veículo para seguirem as pessoas ao local do sepultamento, um alcoolizado que passava, vendo os amigos carregando a sua cama, exclamou: “Nossa! Dois defuntos! Esqueceram o caixão deste!” Ele não disse nada, pois aprendeu a não se revoltar com comentários infelizes que recebia. Gostava de citar uma frase de Cairbar Schutel que dizia: “Melindre é orgulho ferido”. Em outra ocasião, numa palestra de Divaldo Franco, a cama de Jerônimo estava na frente, para não atrapalhar os que quisessem passar. Em certo momento, aproximou-se um homem um pouco alcoolizado que lhe disse: “Paralítico, levanta-te e anda!” – E Jerônimo respondeu: “Depois, meu amigo, depois”, temendo Jerônimo que a cena fosse notada e atrapalhasse a palestra. “Paralítico, levanta-te e anda!”, insistiu o homem. Jerônimo falou baixinho: “Bem que eu queria, mas não consigo”, tentando chamar o homem à razão. O homem então saiu desconsolado dizendo: “Oh homem de pouca fé”, referindo-se a Jerônimo. Certo dia uma pessoa pediu a irmã de Jerônimo para que ele fosse fazer uma visita ao seu irmão, e ele assim fez. Quando chegou à casa, foi convidado a entrar e, ouvindo o barulho do pessoal nos fundos da casa, para lá ele foi levado. O homem estava tão desesperado que se virou para a D. Terezinha e disse: “É esse homem que irá me confortar?” – Fez-se silêncio e o homem foi apresentado. “Jerônimo, este é o senhor que veio de S.Paulo, só para conversar com você. Com certeza, desejará faze-lo sozinho”. Todos se retiraram e o senhor tomou a palavra: “Olha moço, eu era uma pessoa muito rica, até uma semana atrás. Eu tinha uma fazenda com todo o conforto da vida moderna, até campo de aviação. Fui tão incauto que, ao fazer a venda da fazenda passei a escritura e recebi uma nota fria, uma Nota Promissória sem valor. Eu não tive nem condições de reclamar e o advogado falou que era perda de tempo. A minha família antes me tolerava porque eles possuíam o que queriam. Agora todos vêm em cima de mim, me cobrando o conforto e a fazenda: eu não resisto a essa situação. Estava na farmácia para comprar um remédio para dar cabo da minha existência, quando um amigo me perguntou para que eu queria aquilo”. Como ele sabia do negócio, ele disse-me: “Eu não admito que você compre esse remédio!” – Eu respondi: “Você não manda na minha existência!” – Ele respondeu: “Eu deixo se você for conversar com o Jerônimo, em Ituiutaba;lhe dou até as passagens”. E aqui estou eu, mas acho que perdi meu tempo, porque você não sabe o que é o sofrimento alheio”. O Jerônimo lhe respondeu: “Meu amigo, você é uma pessoa que realmente está sofrendo. Você perdeu uma fazenda maravilhosa, mas vamos supor que essa pessoa que lhe comprou a fazenda, voltasse agora e lhe perguntasse: “Você quer trocar a sua fazenda por seus olhos?” – “Jerônimo, que bobagem é essa, os olhos são preciosos”. Então vamos supor... um braço?” – “Que conversa, onde já se viu isso?” – Jerônimo então lhe disse: “Meu amigo, cheguei a conclusão de que você não é pobre, você não é miserável; você é arquimilionário das benção de Deus”. – O homem saiu dali, esqueceu o suicídio, mudou seu modo de pensar, e sempre que podia voltava para conversar com Jerônimo, e acabou se tornando um trabalhador da causa espírita. Hoje, após trinta e dois anos de trabalhos, esse baluarte de determinação, de resignação, de sacrifícios, como foram também, Eurípedes Barsanulfo, Cairbar Schutel, Aparecida Conceição Ferreira, Chico Xavier, e muitos outros, é um exemplo para outras pessoas que o conheceram e muitos, que tomaram conhecimento das suas atividades, que o reverenciam, na Terra, como um missionário de Jesus. Bibliografia: Marinei Ferreira Rezende Jornal “O Imortal” 02/2008 Jc. S.Luis, 19/04/2011.