Jesus, falando das riquezas terrenas, disse:
“...guardai-vos de toda e qualquer avareza, porque a existência de um homem,
não consiste na abundância dos bens terrenos que ele possui”.
Sempre que um ano principia, somos levados a
refletir quanto à oportunidade de alcançar melhores resultados no período que
começa e criamos renovadas esperanças de realizações, formulando novas
propostas e planos. Essa realidade pode ser vista em dois ângulos diferentes de
observação, permitindo-nos refletir em ambos, de forma diferente.
A primeira observação diz respeito à
temporalidade. Como nos sugere o monge Agostinho, essa reflexão não deveria ser
só uma vez durante o ano, e sim, ocorrer ao fim de cada dia, antes de dormir. Poderíamos
fazer algumas perguntas a nós mesmos, sobre as questões de relevância, capazes
de nos fazer sentir a própria condição interior, e refletir sobre as
oportunidades de corrigir nossas ações. Agostinho propôs: “Dirijamos a nós
mesmos perguntas interrogando sobre o que temos feito e com que objetivo; se
foi feita alguma coisa que, vindo de outra pessoa, teria a nossa censura; se
fizemos alguma ação que nos seria difícil confessar. Se Deus nos chamasse nesse
momento, nós teríamos algo a temer, ao entrar no mundo espiritual, onde nada
pode ser ocultado?”
No segundo ângulo da observação, pode-se
inquirir sobre a natureza dos nossos anseios ou desejos de cada dia,
reavaliando objetivos de forma a torná-los mais próximos dos ensinamentos de
Jesus, para um Mundo Melhor. No relato de um evangelista encontramos Jesus nos alertando, ao dizer:
“... guardai-vos de toda e qualquer avareza, porque a existência de um homem
não consiste na abundância dos bens materiais que ele possui”.
O desejo de posses
terrenas e de poder tem
acalentado o sonho de muitos seres humanos, sem que eles levem em consideração
que a transitoriedade da existência, leva esses bens a se transferirem à outras
pessoas, causando a sofrida sensação de perda. Ainda no relato de Lucas, vamos
encontrar o Mestre, na parábola do homem que tencionava aumentar seus celeiros
para armazenar abundante colheita, referir-se a um tipo de pobreza, dizendo:
“...o que entesoura para si mesmo aqui na Terra, e que é pobre para com Deus”. Emmanuel,
nós dá importantes dicas ao referir-se às riquezas, mostrando as que nós possuímos,
além da posse material, como: a inteligência, a saúde, a vocação, a profissão,
a habilidade, a cultura, e outras formas mais.
A inteligência é uma das melhores riquezas
que possuímos. Com ela podemos encontrar as coordenadas para localizar um
determinado ponto na Terra. Pelo raciocínio e discernimento, Allan Kardec
definiu que a Doutrina dos Espíritos é uma ciência possuindo objetivo e método.
Com a inteligência, Sabin sintetizou a vacina contra a poliomielite e tornou-se
um benfeitor da humanidade. Com a inteligência, Santos Dumont inventou o avião;
Com a inteligência foram criadas as
melhorias que existem no mundo para nosso benefício, a começar pelo fogo,
depois a roda, em seguida a panela de barro, a vestimenta, a sandália, a
enxada, a carroça, mais adiante, a
eletricidade, a lâmpada, a máquina de costura, mais a frente, o automóvel, o
disco, o fogão, a geladeira, o rádio, o trem, o navio, a televisão, a internet,
sem falar nos remédios para muitas doenças e muitas outros utilidades que
usamos para nosso conforto. Com toda essa riqueza que Deus permitiu ao ser
humano, através da inteligência, deve ela ser submetida ao crivo de Agostinho,
para ser valiosa na caminhada para o nosso futuro. Isto porque a inteligência
pode ser também utilizada e direcionada para a prática de atos desonestos e
criminosos, como acontece no mundo.
A saúde é outra poderosa riqueza que torna o
espírito apto para as realizações. Ela
envolve aspectos tanto físicos como mentais. Com ela muitas pessoas chegam a
terceira e quarta idade ativos e realizadores, capazes de contribuir
satisfatoriamente na sociedade em que estão inseridos. A saúde torna possível
prolongar as participações e desfrutar de condições adequadas para o exercício
da existência.
A profissão, casando com a vocação são capazes
de fazer do ser humano, um virtuoso, um gênio, uma célula ativa na sociedade.
Quando elas estão unidas em qualquer atividade, observamos um bom profissional,
dedicado, atencioso, que dignifica qualquer trabalho, porquanto seu desempenho
é realizado com carinho e amor ao que faz. Esse é um profissional nobre que dá
valor ao trabalho que executa, beneficiando a humanidade, embora viabilizando
também o seu sustento de cidadão e de sua família.
Com a cultura o ser humano entre na posse de
uma riqueza fenomenal. Pode ler, escrever, calcular, projetar, criar, realizar
e concluir. Com ela, calcula distâncias, domina a internet, vê organismos
microscópios, sintetiza, armazena, recupera e modifica tudo em volta de si. Com
ela, prevê o futuro e se antecipa, protegendo o meio ambiente, a existência, o
semelhante e a si próprio. Com a cultura, ensina e contribui com os familiares,
amigos, colegas, apóia outras pessoas, exerce a cidadania, dirige, administra,
transmite e vivencia, ajudando e colaborando com todos.
Com certeza, somos todos muitos ricos, embora
muitas pessoas só se interessem apenas pela riqueza monetária, que diferente de
outras riquezas, não nos pertence, pois só a utilizamos a título precário e
provisório, por pertencer a Deus, que pode nos dar e também retirar a qualquer tempo.
Todas as demais riquezas são dadas e também conquistadas pelo ser humano em
evolução, e crescem com o espírito em constante progresso.
Além das riquezas materiais, das riquezas morais
do espírito, ainda temos outra riqueza... Não nos damos conta de que a
possuímos, embora a título provisório. Essa riqueza é constituída do nosso
corpo físico, uma verdadeira maravilha divina, um aparelho super-poderoso,
jamais igualado. Quantas pessoas já pararam para pensar e avaliar o valor dessa
riqueza? Segundo nosso conhecimento, o corpo físico é a mais perfeita obra na
Natureza, que Deus já criou; é a máquina mais eficiente que outra qualquer que
os cientistas tenham inventado ou criado.
Vamos analisar essa perfeição de
anatomia. O corpo é constituído, como
sabemos de cabeça, tronco e membros, existindo ainda alguns órgãos que são
comandados por nossa vontade e outros que são autônomos, funcionando
independentes, sob a orientação da alma que o anima. Na cabeça, temos o
cérebro, os olhos os ouvidos, as orelhas, os cabelos, o nariz e a boca com a
língua. Cada órgão desempenha suas funções em conjunto e harmonia com os outros
órgãos e as demais partes do corpo.
No cérebro estão localizados bilhões de
células que se ramificam e se comunicam com todas as partes do corpo, através
dos sistemas nervoso, respiratório e sangüíneo. Pelos olhos temos a visão, com
a íris, pupilas e milhões de bastonetes que trabalham para nos proporcionar a
visão. Jesus certa vez nos recomendou: “Se teus olhos forem bons, teu corpo
terá luz”. Temos também os ouvidos que nos permite ouvir os sons, os ruídos e
as vozes. No nariz, temos o sentido do olfato, que nos permite saber o odor, o
cheiro. Na boca com a língua, o sentido
do paladar que nos permite distinguir o gosto e o sabor das coisas, se amargo,
doce, azedo ou salgado. A boca com a línguas nos permite ainda articular as
palavras com que nos comunicamos com os outros, ajudando-os ou prejudicando-os,
conforme o uso que fizermos delas. A fala emite ondas positivas ou negativas
que preocupou Eurípedes Barsanulfo, grande educador espírita, que nos disse: “A
língua é um instrumento tão poderoso que, com ela, tanto podemos ganhar como
perder nossa existência, pelo uso que dela fizermos... e para isso, não é
necessário que a pessoa seja maledicente, desrespeitosa, mas apenas franca e
sincera, sem meias palavras, e que não saiba calar, quando é preciso.”
No tronco do corpo temos o aparelho
respiratório, com os pulmões, alvéolos, canais, etc., que nos permite respirar
e viver; o coração com seu sistema sanguíneo, com milhões de vidas
microscopias, circulando nas artérias e veias, levando o oxigênio a todas as
partes do corpo; o sistema urinário que permite eliminar as impurezas do
organismo, e o sistema reprodutivo que permite a reprodução dos seres humanos,
e ainda outros órgãos internos como o estômago, os intestinos, o fígado, os
rins, bexiga, próstata, costelas, músculos, ossos tecidos, etc., que executam
suas funções, formando um conjunto harmonioso e eficiente.
Possuímos ainda os membros que são os braços e
mãos e as pernas e pés. Com os braços e as mãos executamos as nossas
atividades; com as mãos foram construídas todas as obras que contribuíram e
contribuem para o progresso da humanidade; com elas realizamos o trabalho que
nos garante a nossa manutenção e da nossa família; com elas também ajudamos os
nossos semelhantes. Mãos que são dádivas
de Deus para que exercitemos a caridade e a fraternidade. Com elas Jesus
abençoou, curou e salvou muitas pessoas, e. por elas, foi crucificado... Com as
pernas e os pés, nos locomovemos de um ponto para outro qualquer; para o
trabalho, para o passeio, para o local do nosso envolvimento religioso, para o
nosso lar.
Se após todo este comentário, toda esta
descrição da máquina divina, do computador mais perfeito e completo que existe
na Terra, que somos nós, se ainda existir alguém que se ache pobre, que não
possui riqueza alguma, que não foi abençoado por Deus, só porque não foi
aquinhoado com a fortuna material, então deve se voltar e olhar para trás, pois
vai ver milhões de pessoas que estão em situação muito pior do que a sua; veja
os cegos que não possuem a visão; os paralíticos que não podem andar; os
doentes nos lares e hospitais que não possuem a saúde; os que passam fome por
não obter o que comer; os que dormem nas ruas por não terem um lar; os que não
podem se locomover por não terem as pernas; os que se encontram inocentes,
aprisionados, por não terem a liberdade; os que se encontram a beira da morte,
sem assistência e sem terem mais condições de reformularem a existência... Pense
sobre todos eles e respondam se você é mais pobres ou infeliz do que eles. Se
mesmo assim, ainda se sentir pobre, faço-lhes uma pergunta: Por quanto você venderia seus olhos? Quanto pelos
braços, pelas pernas, pelos rins e pelos pulmões?...
Felizes são aqueles que reconhecem a bondade
de Deus e agradecem pela existência, pelo dia e pelas bênçãos que recebem a
todo instante, que são riquezas divinas que ninguém as pode tirar.
Infelizmente, nós seres humanos, temos o hábito de só sabermos dar valor aos
bens que temos, quando os perdemos. Ficamos então a lamentar, achando que Deus
que é Criador e Pai de todos, nos desamparou, sem reconhecer que fomos nós
mesmos o causador da nossa situação atual e da nossa infelicidade, por não
termos adquirido o merecimento que nos daria uma melhor situação; estamos
colhendo o que plantamos, e, se não fizermos melhor, continuaremos na mesma
situação achando que somos infelizes e esquecidos por Deus...
A verdade é que somos ricos, muito ricos, se
não de bens materiais, o somos de saúde, ou de paz, de esperança, de
resignação, e do Amor do Pai Celestial, que nunca nos abandona porque todos nós
somos suas criaturas, em qualquer tempo e em qualquer lugar... Que o Pai Celestial nos dê a compreensão de
que seremos felizes se assim o quisermos...
Bibliografia:
“O Espírita Mineiro”
+ Acréscimos
Jc.
S.Luis, 13/8/2009.
Refeito em 10/07/2019