quinta-feira, 30 de agosto de 2018

ORAÇÃO PELO BRASIL





 
A época é de transição política. Aproxima-se o momento em que a população brasileira vai escolher seus novos governantes. O povo clama por moralidade e justiça. A população do País, com sentimentos bons e fraternos em sua maioria, anseia que o novo governo de seu país o represente como ela o é, de modo correto, honesto e digno. Talvez essa seja a mais importante escolha brasileira dos últimos tempos, uma busca ao retorno da moralidade e do bem estar. Mantenhamo-nos em orações, pedindo a Jesus e seus emissários que envolvam e inspire nosso povo, nossos dirigentes, nossa nação, para que os interesses coletivos possam ser atendidos. Oremos pelos nossos políticos para que sejam envolvidos pelos benfeitores espirituais que assistem o Brasil.
Leon Denis, no livro “O Problema do ser, do destino e da dor” escreveu em 1908, em sua introdução, um assunto que nos parece mais atual do que nunca: “Fala-se muito de progresso, mas o que se entende por progresso? É uma palavra vazia e sonora na boca de oradores materialistas ou tem de verdade um sentido determinado?”... A fé no progresso não caminha sem a fé no futuro, no futuro de cada um e de todos. Os homens não progridem e não se adiantam, senão crendo no futuro e marchando com confiança, com certeza para o ideal entrevisto... A civilização não pode se engrandecer e a sociedade não pode subir, sem um pensamento cada vez mais elevado, se uma luz mais viva não vier inspirar, esclarecer os espíritos e tocar os corações, renovando-os... Um tempo se acaba; novos tempos se anunciam. A hora em que estamos é uma hora de transição dolorosa... A origem de todos os males está em nossa falta de saber e em nossa inferioridade moral. Toda a sociedade permanecerá débil, impotente e dividida durante todo o tempo em que a desconfiança, a dúvida, o egoísmo, a inveja, a corrupção, a ganância e o ódio a dominarem... Não se transforma uma sociedade por meios de leis... “Qualquer que seja a forma política e a legislação de um povo, se ele possui bons costumes e fortes convicções, será sempre mais feliz e poderoso do que outro povo de moralidade inferior...”.
Neste momento crucial para a existência do nosso país, conhecido como o “Brasil, Pátria do Evangelho e Coração do Mundo”, está nas mãos de seu povo. Cabe a cada um analisar de modo correto e cristão como melhor agir, que melhor escolha fazer, para que o bem possa vencer. Evitemos reeleger aqueles políticos que sempre estão se elegendo porque eles só se lembram de fazer promessas na época das eleições, e depois viram as costas preocupados que estão apenas com as mordomias para si mesmos. Estamos em transição para um mundo melhor e cada pequeno país desta Terra é de importância para os interesses do Cristo quanto à evolução moral e o progresso do planeta. Compete a cada brasileiro que tem a capacidade de escolha responsabilizar-se por uma escolha justa e boa para todos os brasileiros e não somente para si mesmo. Analisemos tudo com a luz do raciocínio lúcido. Pensemos nas palavras de Léon Denis e nos guiemos somente pela nossa consciência, amparados pelo Cristo e em vigilância e oração pelo Brasil.                                                                                                                                   
Fonte:
Jornal  “O Imortal” – 9/2014
+ pequenas modificações.

Jc.
S.Luís, 24/9/2017
Refeito em 21/8/2018


ESCRAVOS DO SÉCULO XXI




 
Calcula-se que mais de 160.000 brasileiros trabalhem em condições deploráveis – e o Brasil que já foi exemplo mundial de combate a essa chaga, está ficando cada vez pior, em razão de escassez de verbas para as equipes de fiscalização. A revista “Veja”, publica a foto de 48 pessoas, que formam uma galeria que o país não gosta de ver. São vários Francíscos,  Antônios, Josés, Carlos, Luís, Joãos, uma Vicentina e outros, que mostram um grande drama brasileiro: o trabalho em condições sub-humanas, e análogas às de escravidão. Sim, todas essas pessoas foram escravizadas – em pleno século XXI. Enredadas em algumas dívidas impagáveis, manipuladas pelos patrões e submetidas a situações bastante deploráveis de trabalho, elas chegaram a beber a mesma água que os porcos, e algumas delas sofreram a humilhação de serem espancadas, para não falar de constantes ameaças de morte.
Quando os livros escolares informam que a escravidão foi abolida no Brasil em 13 de maio de 1888, há exatos 130 anos, fica faltando dizer que se encerrou a escravidão negra – e que, ainda hoje, a escravidão persiste, só que agora é multiétnica. São muitos os que vivem no país em condições semelhantes às de escravidão – ou seja, estão submetidos a trabalhos forçados, servidão por meio de dívidas, jornadas exaustivas e várias circunstâncias degradantes em relação aos trabalhos, descanso,  moradia e alimentação, por exemplo.  Comparados aos milhões de africanos trazidos para o Brasil para trabalhos escravos, a cifra atual poderia indicar alguma melhora, mas abrigar 160 mil  pessoas escravizadas é um escândalo humano de proporções lamentáveis. 95% são do sexo masculino, 65% identificam-se como pardos e negros, 32% são analfabetos, 75% trabalham no setor agropecuário, e 22% nasceram no Maranhão, origem da maior parte da mão de obra ilegal, e 59% dos que chegam a ser registrados, voltam a trabalhar nas mesmas condições escravas. “Levei muitos pontapés e ainda coronhadas no peito. Até hoje eu ainda sinto as dores dessas pancadas”, comenta José Francisco de Sousa, piauiense de 46 anos. O pior foi ouvir do chefe que os porcos eram mais limpos do que nós. Tomávamos banho depois deles, na mesma água”, informou José Maria de Sousa, maranhense de 28 anos.
A reportagem flagrou também escravos urbanos, no coração
de São Paulo, vítimas do mesmo terrível crime, no campo. Em bairros nobres de São Paulo, como o das Perdizes, famílias de alto poder aquisitivo mantiveram domésticas filipinas em condições de escravidão. A Superintendência Regional do Trabalho e a Defensoria Pública da União revelaram o caso depois que uma das mulheres fugiu do quarto onde era subjugada, em um condomínio de luxo, e fez a denúncia às autoridades. Uma das trabalhadoras que pediu para não ser identificada, contou que fingia preparar mais comida para o cachorro da casa a fim de poder ter “uma refeição melhor”. A metrópole também concentra 12 mil oficinas ilegais de costura que abastecem as lojas no Bom Retiro e no Brás. Quase sempre são os imigrantes que trabalham nelas – sem documentação legal.
Em 1995, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso reconheceu oficialmente a continuidade desse crime – e criou uma comissão destinada a fiscalizar o trabalho escravo. O pior é que, em vez de melhorar, a situação está ficando mais grave. O país caminhava razoavelmente bem no combate à prática até 2013, quando o número de ações de fiscalização começou a cair drasticamente. Naquele ano houve verba para 185 autuações contra o trabalho escravo. Em 2014, registrou-se a queda de 14%  com apenas 160 autuações. Em 2015, foram só 155. Em 2016, foram apenas 106. No ano passado, realizaram-se somente 88 fiscalizações, e todas de menor porte em relação às executadas anteriormente, sendo 341 os resgatados.
A queda no número de autuações seria uma notícia boa se não representasse, na verdade, o contrário do que se imaginava: não é a escravidão que está retrocedendo, mas sim, o dinheiro para fiscalizá-la que está minguando. Em agosto do ano passado, o Ministério Público do Trabalho entrou com uma ação civil pública contra a União para garantir verba mínima até o fim de 2017, diante da ameaça de paralização total das ditas atividades. O chefe da Divisão de Fiscalização para  o trabalho escravo, André Roston, afirmou que o departamento tinha então menos de 7 mil reais em caixa, enquanto que, o valor médio de uma única ação, gira em torno de 60 mil reais. Em outubro, Roston foi exonerado, porque incomodava. Entre os ex-colegas, circula a versão de que Roston era “dedicado demais” à defesa do conceito de escravidão e muito atento aos abusos. Para funcionários do Detrae ouvidos pela “Veja”, a falta de verbas é resultado de uma dupla razão.  O combate  à escravidão não rende votos em eleições, e a bancada governista nunca escondeu seus laços com os ruralistas, que se habituaram a usar a mão de obra em situação deplorável.
Como exemplo, citamos o caso de Sebastião Cunha, de 48 anos e seu filho Geovane, de 25 anos. Eles vivem em Monção, município de 30 mil habitantes, a 300 quilômetros de São Luís, capital do Maranhão. Começaram a trabalhar na roça da família aos 9 anos, idade na qual os meninos da região costumam cair na labuta. Nela permaneceram até o fim da adolescência, e aí, saíram em busca de emprego. Trocaram o serviço doméstico pelo mercado e viram-se obrigados a se sujeitar ao regime da escravidão. “Pela falta de oportunidades, sempre aceitei o que aparecia, na terra dos outros”, conta o pai. Até 2007, Sebastião não tinha noção de que trabalhava em condições ilegais. Foi então que os fiscais o encontraram pela primeira vez, submetido a um regime análogo ao de escravidão. Estava magérrimo, passava fome e tinha febre. Em duas outras oportunidades ele seria flagrado na mesma situação. Ele não é exceção: a reincidência atinge algo em torno de 60% das vítimas da escravidão.
Mesmo nos dias atuais, com plena ciência do problema, ele admite que voltaria a se entregar àquela situação degradante, e até mesmo apanhando, pois se julga como que acorrentado a um destino cruel. “Todos os dias, pela manhã, bem cedo, minha filha de 6 anos me acorda e me pede pão”, relata ele. “Como é que vou dizer a ela que não tenho dinheiro para comprar pão? Então tenho que aceitar qualquer coisa, mesmo que caia novamente na escravidão, para garantir o pão de minha filha”, diz Sebastião. Em Monção, mais da metade da população vive na linha de pobreza (renda inferior a 140 reais por mês), 31% estão em condições consideradas pela ONU como de extrema miséria e 64% não têm ocupação.
A revista “Veja” visitou, no Maranhão e no Piauí, meia centena de municípios, onde os indivíduos como os Cunhas, foram retirados pela Justiça, de trabalhos degradantes. 75% dos trabalhadores em regime semelhante ao de escravidão, atuam no setor agropecuário. A arregimentação dos trabalhadores segue idêntica a que existia em 1995, quando o governo FHC
iniciou o ataque a essa prática. Um recrutador, chamado “gato” chega à região-alvo com a promessa de uma boa oportunidade de trabalho. Normalmente o patrão paga os custos da viagem até o local do trabalho, e esse valor acaba por se tornar a primeira de muitas dívidas que o empregado acumulará. Quando ele chega à fazenda onde vai trabalhar, a comida e as ferramentas também  passam a ser cobradas – e o desconto  é feito no pagamento. Em pouco tempo ele deve mais do que recebe, num processo que o põe inteiramente nas mãos do patrão. A rotina desses trabalhadores é por si só, abominável. Eles saem para a labuta, nas primeiras horas do dia, com apenas um café no estômago. No almoço, ao meio dia, comem arroz, feijão e farinha, em quantidade mínima. No fim do dia, vão dormir em um barracão coberto somente por uma lona. Não há camas, só redes, no meio das quais é comum ver porcos passeando. Muitas vezes, a única água é a dos córregos – em que os animais bebem para matar a sede e quase sempre urinam e defecam. Se a imagem de uma senzala veio a sua mente, saiba que não há exagero – as senzalas ou casas-grandes eram um pouco bem melhores.
A evidência de que o Brasil retrocedeu para valer na questão do trabalho escravo veio à tona em 16 de outubro do ano passado, quando foi publicada no Diário Oficial da União a portaria de nº 1129, que alterou o conceito de trabalho escravo e as regras para a inclusão de empresas que o adotavam em uma lista suja. O texto eliminava os termos “jornada exaustiva” e “condições degradantes” da caracterização da prática, limitando à escravidão à restrição de liberdade de ir e vir. A tal lista suja, a cargo do Ministério do Trabalho, passaria a ser atualizada apenas duas vezes ao ano. Antes dessa portaria, ela era de responsabilidade da Divisão de Fiscalização para a Erradicação do Trabalho Escravo (Detrae), e a atualização poderia ocorrer a qualquer momento.
A medida de 16 de outubro de 2017 tinha o propósito de socorrer o presidente Temer, que tentava no Congresso votos para arquivamento da segunda denúncia contra ele por obstrução da Justiça e organização criminosa. O assunto virou moeda de negociação com a bancada ruralista da Câmara, cujos integrantes representam proprietários rurais. Essa barganha durou pouco: pois em 24 de outubro, a ministra Rosa
Weber, do STF, suspendeu a portaria casuística por considerar que ela vulnerabilizava “princípios basilares da Constituição”. A suspensão e as pressões que o governo enfrentou acabaram levando-o a ceder – ele publicou em dezembro uma nova portaria, que recolocava as coisas nos devidos eixos. Desde 1988, a Comissão Pastoral da Terra vinha fazendo várias denúncias contra a Brasil Verde, que se converteram em sucessivas fiscalizações em 1989, 1992 e 2000. Em 2016, vários anos após o último resgate na Brasil Verde, o Estado foi condenado por negligência. A indenização a 128 trabalhadores ultrapassou o valor de 4 milhões de dólares. O Brasil que foi o último país das Américas a abolir a escravatura negra, tornou-se o primeiro a ser condenado pela OEA por trabalho escravo.
Segundo a ONU, em todo o mundo os lucros obtidos com os cerca de 30 milhões de trabalhadores escravos chegam a 150 bilhões de dólares ao ano. Com a evolução tecnológica, os custos operacionais ficaram mais baixos. Antigamente, o trabalho escravo oferecia algo entre 15% e 20% de retorno anual. Hoje, esse número fica dentro de uma margem que vai de 300% a 500%. Sob essa lógica perversa, a escravização vale a pena. Não é de estranhar, portanto, que a resistência a combatê-la seja tão grande. Mesmo que isso signifique ter no país milhares de biografias devolvidas a um passado vergonhoso. . .

Fonte:
Reportagem Especial
Revista “Veja” de nº 2581 -9/5/2018
+ Acréscimos

Jc.
São Luís, 22/5/2018