domingo, 13 de novembro de 2016

A CORRUPÇÃO CULTURAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA




  O país vive um momento histórico, assolado pela corrupção  que nos atinge e nos coloca no pódio de uma crise sem precedentes nunca antes vista, e com rumos incertos onde vivenciamos dificuldades a cada dia. Nessa expectativa de “sairmos dessa”, nos resta a esperança de que ainda podemos sonhar com uma saída heroica, baseada na superação do brasileiro em escapar das dificuldades sem maiores lesões. É dito á tempos que “a ocasião faz o ladrão”, e é inegável a verdade desse ditado, mas seria, no caso brasileiro, só a ocasião para a pessoa política, a razão da corrupção? Para responder a essa pergunta, temos primeiramente que definir o que é corrupção.
Corrupção do latim  (: Corruptus – “despedaçado” ou em outra acepção, “pútrido”, é o ato de se corromper, ou seja, obter vantagem indevida, seja pelo abuso, por ação ou omissão, observando-se  a satisfação do benefício próprio, a despeito do bem comum. A corrupção não é só política, e nem sempre só envolve dinheiro. Existem três formas de se corromper:  1ª Pelo abuso; 2ª Pela omissão; e 3ª Pelo desvio.
O abuso, que é tido como normal pela sociedade brasileira hierarquizada pode ser representado pela frase: “Você sabe com quem está falando?”. Trata-se de um traço autoritário da sociedade brasileira. Ela funciona para demarcar diferenças e posições hierárquicas. O seu uso pode ser traduzido como: “respeite-me, pois não sou do seu nível”, ou ainda “nós não somos iguais”. A partir da famosa frase de Maquiavel: “Favori agli amici, nemici dela legge (aos amigos favores, aos inimigos a lei) representa bem esse abuso de um poder que deveria servir para  manter o bem comum, e é usado, na verdade, como pressuposto de superioridade daquele que o detém.
A omissão,  é, talvez, a forma de corrupção mais vista na nossa sociedade. Omitir-se é deixar de fazer ou dizer algo que deveria ser dito, deixando como certo, o errado prosseguir ininterrupto. Todo brasileiro se omite. Deixamos de denunciar tudo o que vemos de errado; deixamos de ajudar aqueles que necessitam de nossa ajuda; deixamos de devolver aquilo que sabemos que não é nosso, entre outras omissões comuns. Não só não denunciamos, mas até continuamos votando naqueles que se corrompem escrachadamente.
O desvio é relacionado ao abuso em partes. É quando devida função ou recurso, seja ele público ou privado, é desviado por aqueles que o administram para se beneficiarem. É como o administrador que desvia para si o patrimônio daquilo que administra, ou o político que dá cargos de confiança para parentes. É o uso do patrimônio alheio que administra para si.
Podemos relacionar as três modalidades de ação aos costumes tupiniquins modernos, que desobedecem todos os seus deveres, a favor de beneficiar-se; mas que sempre requer seus direitos  baseando-se no ordenamento jurídico. É como uma relação de dualidade entre o Legal e o Ilegal, ou do jovem delinquente que reclama dos abusos da polícia e também do criminoso que anseia pelos seus direitos humanos, e que é negado às suas vítimas.
Provavelmente ninguém parou para pensar quanto afeta na sociedade essa mentalidade anêmica, essa carência de preceitos morais e éticos, sempre em busca da vantagem própria. É a “Lei de Gérson” aplicada, talvez, uma frase infeliz do ex-jogador para o momento, mas que reflete em totalidade como funciona a política no Brasil, até porque fazer política não é exclusividade parlamentar, mas um dever de todo cidadão, segundo disposto no parágrafo único do Artigo 1º da Constituição Federal. “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”.
Aqueles que nos representam no Palácio do Planalto, nos Ministérios,  no Congresso e nas Autarquias, vieram de nós, por nós e para nós, e representam não apenas como pessoas políticas que nos governam, mas como membros do POVO BRASILEIRO, como nós, aos quais confiamos os nossos direitos, nossas garantias e nosso patrimônio; ou seja, se elas são corruptas, são frutos da nossa sociedade, infelizmente, ainda corrupta e “malandra”.
Fonte:                                                                                                      
Jornal “São Luís” – edição de agosto/2016
Autor: Felipe Pires Morandini
+ Pequenas modificações

Jc.
São Luís, 15/10/2016