terça-feira, 4 de março de 2014

A CREMAÇÃO DOS MORTOS SOB A VISÃO ESPÍRITA




 Agora que a cremação dos mortos já se tornou uma realidade, acessível até a quem mora nas cidades do interior, muita pessoas desejam saber qual é a posição espírita acerca do assunto.
O termo cremação – que é o ato de cremar, incinerar, queimar – não foi examinado nas obras de Allan Kardec, um fato estranhável, visto que a incineração de cadáveres humanos remonta à antiguidade e constitui regra comum na Índia, na Grécia primitiva e entre os romanos, sendo ainda hoje um costume em várias regiões do planeta.
 Não examinada por Kardec, a cremação tem suscitado, por isso mesmo, no meio espírita, posições que às vezes se contradizem. Léon Denis, por exemplo, aponta na cremação uma desvantagem, visto que, extinguindo o corpo físico pela ação do fogo, o ato provoca o desprendimento mais rápido, mais brusco e violento do Espírito, podendo ser mesmo doloroso para aqueles que foram apegados a Terra.
Como se sabe, há Espíritos que permanecem algum tempo ligados ao corpo material após o transe da morte, como ocorre em muitos casos de desastres e de suicídio. Como o rompimento e o desprendimento do cordão fluídico nem sempre se consuma num   tempo tão curto, o desencarnado se assemelha  a um morto-vivo cuja percepção sensória, para sua desventura, continua presente e atuante. A cremação poderia, assim, causar-lhe um angustiante trauma, o que equivaleria a aumentar a aflição a quem já se encontra aflito.
Ao se manifestar sobre o assunto, Richard Simonetti lembra-nos que, embora o cadáver não transmita sensações ao Espírito que desencarnou, este poderá experimentar “impressões extremamente desagradáveis” se no ato crematório, ele estiver ainda ligado ao corpo. No mesmo sentido é a opinião de Paul Bodier, médico e escritor francês que foi presidente da Sociedade Francesa de Estudos Psíquicos e autor de obras como “A Vida e a Morte” e “A Granja do Silêncio”.  Segundo ele, “a cremação tal como se pratica entre nós, é, com efeito, prematura demais”. Talvez, por isso a inumação (enterrar) devesse ser o processo normal, só se cremando os cadáveres com sinais evidentes de putrefação.
Dentre as manifestações sobre o assunto, oriundas do plano espiritual, vale a pena meditar sobre o que o Irmão X (Espírito) escreveu, valendo-se da mediunidade de Chico Xavier no livro “Escultores de Almas”: “Por trás da máscara mortuária, muitas vezes, esconde-se a alma inquieta e dolorida, sob estranhas indagações, na vigília torturada ou no sono repleto de angústia.  Para semelhantes viajores da grande jornada, a cremação imediata do corpo fisiológico será pesadelo terrível e doloroso. Eis por que, se pudéssemos, pediríamos tempo para os mortos”.
Outra manifestação sobre o mesmo tema nos veio por intermédio de Chico Xavier, quando da entrevista concedida em 1971 à TV Tupi-SP, no programa Pinga-Fogo. Naquela oportunidade, Emmanuel transmitiu ao público – conforme foi dito por Chico – que “a cremação é legítima para todos aqueles que a desejam, desde que haja um período de, pelo menos 72 horas de tempo para a ocorrência em qualquer forno crematório”.
Dois aspectos devem ser ressaltados na manifestação de Emmanuel: Em primeiro lugar, é preciso que o falecido tenha manifestado seu desejo de ter o corpo cremado, evitando-se assim que seja essa uma decisão apenas de seus familiares. O segundo diz da necessidade de se observar um prazo mínimo entre a morte do corpo e o ato da cremação, que Emmanuel sugeriu seja de 72 horas, que é um tempo razoável capaz de evitar, em grande número de casos, o trauma mencionado por Léon Denis e outros autores. Nesses casos, seria necessário preparar o corpo para aguardar esse período de tempo até o ato da cremação.

Fonte:
Astolfo de Oliveira Filho
Jornal “O Imortal” – 12/2013
+ Pequenas modificações.

Jc.
São Luís, 16/12/2013