sábado, 12 de março de 2011

CLÓVIS TAVARES

CLÓVIS TAVARES

Clóvis Tavares nasceu em Campos dos Goytacazes, no dia 20 de janeiro de 1915, dia de São Sebastião, no distrito de S.Sebastião. Daí o seu nome de batismo ser Sebastião Clóvis Tavares, embora sempre tenha sido tratado, em casa e em todos os ambientes, simplesmente por Clóvis. Desde a infância, demonstrou pendores religiosos. Era comum, nas plagas de S. Sebastião, ver seus irmãos jogando bola ou brincando de cabra cega e ele lendo ou rezando no oratório particular.

Ele afeiçoou-se ao padre da Igreja de S.Sebastião, chamado Émille Dés Touches, francês, de família nobre e abastada. Ele havia abandonado a sua herança para dedicar-se à vida religiosa, tendo decidido vir para o Brasil seguindo uma inspiração do Alto. Foi ele o primeiro professor de Francês e o primeiro orientador espiritual de Clóvis, que na adolescência, estudou no Liceu de Humanidades de Campos; integrou-se a um grupo de jovens idealistas que decidiram mudar o Mundo. Inscreveram-se no Partido Comunistas do Brasil e viveram um sonho de liberdade. Dois desses jovens eram Nina Arueira e Clóvis Tavares, que se enamoraram e tornaram-se noivos. Os dois viviam intensamente a vida partidária, sendo lideres de greves operárias e movimentos estudantis. Inesperadamente, Nina foi acometida de uma febre tifóide e Clóvis passa a fazer plantão ao seu lado, passando noites acordado, em vigilância, mas sem oração.

Por um desses mistérios da existência, ela conheceu já doente, um homem chamado Virgílio Paula, que a recebeu em sua casa para prestar-lhe tratamento. Era ele um profundo conhecedor de Teosofia e Espiritismo. Ela interessou-se inicialmente pela Teosofia; lê “Do Recinto Interno”, de Annie Bésant e decide, já no leito, renunciar à política partidária e conta a Clóvis a sua decisão. Este que estava também a discordar da direção partidária, quanto a rumos decididos que feriam a sua ética, passou a escutar de Nina as lições que ela ouvia do Vovô Virgílio. Este por sua vez, aos poucos foi introduzindo um pouco de Evangelho em suas conversas com Nina. Ela maravilhou-se com a visão de um Jesus Cristo amigo dos pobres e sofredores; amigo da Justiça e da Caridade e entregou-se de alma inteira, ao Evangelho, explicado pela racionalidade Espírita. Foram apenas alguns meses, mas ela desencarnou considerando-se espírita.

Após o seu desenlace é que Clóvis começou a ler os livros que ela lera no seu estágio derradeiro. E como ocorreu com Nina, ele também se apaixonou pela nova visão espírita. Quando leu pela primeira vez os versos de Olavo Bilac, Cruz e Souza, Fagundes Varella, Augusto dos Anjos, Castro Alves, João de Deus, Auta de Souza... se declarou espírita. E com o mesmo afinco que se dedicara há apenas alguns meses à política partidária, passa a militar ativamente no meio espírita. Começa a freqüentar o Grupo Espírita João Batista, dirigido pelo Sr. Virgílio de Paula e outros companheiros da primeira hora do Espiritismo em Campos. Em pouco tempo, Clóvis passa a realizar palestras doutrinárias que muito atraíram por sua fluência evangélica e pelo ardor do seu verbo.
Paralelamente a essas atividades, fundou uma escola de Doutrina Espírita para crianças, na casa da mãe da sua antiga noiva, a Dona Didi Arueira, e passaram a chamar essa casa de “Escola Infantil Jesus Cristo”. Mais uma vez, o inesperado ocorre. Os freqüentadores do Grupo Espírita João Batista, juntamente com os pais das crianças da Escola Infantil, afluíram para escutar suas palestras na casa de D. Didi. Decide então a diretoria do Grupo Espírita João Batista auto-dissolver-se e passar a integrar os quadros da nascente Escola Jesus Cristo, já sem o qualificativo de “Infantil”. Repetiu-se o mesmo que acontecera entre João Batista e Jesus. “É necessário que eu diminua para que Ele cresça”, e o Grupo João Batista dissolveu-se e os seguidores, passaram a seguir a Escola Jesus Cristo.

Iniciou-se uma Era nova para a Doutrina dos Espíritos no local, até então conhecido apenas pelas sessões mediúnicas. Com Clóvis, cresce em 1935, o Espiritismo da cultura e da prática da caridade, pois ele sempre priorizou na Escola Jesus Cristo, o serviço de amor ao próximo e o estudo doutrinário. A mediunidade ocupava, como até hoje, papel auxiliar. Ele sempre ensinou aos que buscavam ajuda, que, em primeiro lugar, deviam espiritualizar-se pelo estudo e pelo trabalho, para depois libertar-se das possíveis influenciações. Na Escola Jesus Cristo, Clóvis fundou dois orfanatos: um de meninas, dirigido inicialmente pela filha do Virgílio de Paula, a D. Inaiá de Paula, e outro para meninos, dirigido por ele mesmo e por seu companheiro de ideal, Medeiros Correia Junior, que mais tarde se tornaria Juiz de Direito. Fundou ainda um Culto de Assistência, onde um grupo de irmãos visitava duas favelas de Campos, para distribuição de gêneros alimentícios e para a realização de um culto do Evangelho no lar dos assistidos.

Fundou ainda a Sopa dos Domingos, com a ajuda dos irmãos portugueses Inocêncio Noronha, Bonifácio de Carvalho, D.Candinha e D. Mariquinhas; portugueses esses que sempre estiveram presentes na história da Escola Jesus Cristo. Surge ainda, por seu ideário, o Curso Elzinha França, para orientação espiritual às crianças. A escolha do nome Elzinha França deveu-se ao fato de que a Mocidade Espírita de Campos, da qual fazia parte a jovem Hilda Mussa, com quem se casaria mais tarde, e sua amiga Zenith Pessanha, visitava as famílias pobres da Escola Jesus Cristo, para mitigar os seus sofrimentos. Numa dessas peregrinações na favela, encontraram uma menina recém-nascida, abandonada. Como não havia na época, nenhum órgão oficial de amparo à criança e nem de longe se pensava no Estatuto da Criança e do Adolescente, decidiram trazer a menina para a Casa da Criança e deram-lhe o nome de Elzinha França. Apesar de Clóvis ter providenciado todos os cuidados médicos, a menor desencarnou em pouco tempo. Quando em uma de suas habituais viagens a Pedro Leopoldo para encontrar-se com Chico Xavier, obteve do médium a informação de que o visitava um espírito de muita luz, chamado Elzinha França. Clóvis Tavares, a princípio pasmo, contou ao médium quem era a menina, que Chico identificou como sendo uma professora que estava integrando a equipe espiritual de serviço na Escola Jesus Cristo, e que trabalharia na educação das crianças.

Na década de 50, passou a se corresponder com o sábio italiano Pietro Ubaldi, a
quem promoveu duas vindas ao Brasil, a última das quais, definitiva. Traduziu do italiano os seguintes livros do referido autor: “As Noúres”, “Ascese Mística”, “Grandes Mensagens”, “Fragmentos de Pensamento e Paixão”. Uma outra particularidade da Escola Jesus Cristo foi abrigar, na década de 60, uma escola de educação formal: O Instituto Allan Kardec. Paralelamente a essa atividade espírita, Clóvis Tavares lecionava História em duas escolas e Direito Internacional Público, na Faculdade de Direito de Campos. Foi autor de livros espíritas, renunciando, todavia, aos direitos autorais, pois aprendeu com Chico Xavier a doá-los às Editoras que se dedicavam à difusão doutrinária. Escreveu ele: “Sementeira Cristã”, “Vida de Allan Kardec para a Infância”; “Meu Livrinho de Orações”, “Os Dez Mandamentos”, “Histórias que Jesus Contou”, para o público infantil, “Vida de Pietro Ubaldi”, “Trinta Anos com Chico Xavier”, “Amor e Sabedoria de Emmanuel”, “Tempos de Amor”, “De Jesus para os que Sofrem”, “Mediunidade dos Santos”, para o público em geral.

Clóvis fundou ainda o Clube da Fraternidade, espaço artístico para a realização de jogos infantis, teatros e coros musicais nos domingos à tarde, numa época em que não havia televisão. Passou a visitar semanalmente os presos, recordando o ensino de Paulo aos hebreus: “Lembrai-vos dos encarcerados, como se vós mesmos estivésseis presos com eles”. (Hb. 13-3) – Uma vez por ano, pregava o Evangelho Consolador no cemitério, no dia 2 de novembro, iniciando uma prática consoladora e esclarecedora na terra dos goytacazes. Tornou-se amigo íntimo de Chico Xavier, com quem conviveu por 50 anos, o que é relatado nos livros do parágrafo anterior. Freqüentava com assiduidade as reuniões do Grupo Meimei, em Pedro Leopoldo. Viajou também para Belo Horizonte várias vezes, onde travou contato com Arnaldo Rocha, Joaquim Alves, Cícero Pereira e tantos outros que dignificaram a Doutrina dos Espíritos nas Minas Gerais e no Brasil.

Clóvis Tavares veio a casar-se, somente após 20 anos da desencarnação de Nina, e a jovem Hilda passou a ser também a sua fiel colaboradora nos trabalhos da Escola Jesus Cristo. Ela fundou um coro infantil, uma livraria, escreveu e dirigiu dezenas de peças teatrais adaptadas de contos clássicos da literatura mundial, como: “O Pequeno Príncipe”, “O Menino do Dedo Verde”, “O Pássaro Azul”, “Fernão Capela Gaivota”, “O Meu Cristo Partido”. Do seu casamento com Hilda, nasceram cinco filhos. Seu filho Flávio Mussa Tavares, em depoimento que embasa estes dados biográficos, registra: “Desencarnou papai no dia 13 de abril de 1984 exatamente uma semana antes, nascia o meu primeiro filho e seu primeiro neto, o Pedro. Sete dias após, no mesmo hospital e na mesma hora, meu pai é internado, e na cama onde fez a radiografia abdominal, segurando as minhas mãos, ele desencarnou. Em apenas sete dias, vivenciei intensamente a experiência de ser um ajudante de dois espíritos que atravessaram o Portal da Vida no sentido inverso: um se recorporizando na Terra e outro se despedindo deste mundo e reentrando na Espiritualidade”.

“Espero este ano, publicar “Saudade é o Metro do Amor”, que apresenta seis comunicações mediúnicas de meu pai, obtidas através do seu querido amigo Chico
Xavier, com quem ele mantinha uma relação de amizade que não pode ser medida pelos padrões humanos”.
Flávio Mussa Tavares

A Escola Jesus Cristo, em Campos, vive ainda intensamente a sua proposta de Espiritismo à luz do Evangelho de Jesus, reconhecendo que a Luz é sempre do Cristo, e é por Ele, que a Doutrina Consoladora existe, para esclarecer os seres humanos de uma forma racional e razoável, capaz de converter-nos psiquicamente em seres mais dignos de nossa existência no Planeta.



Bibliografia:
Livro “Trinta Anos com Chico Xavier”
“ “Escultores da Alma”
“ “A Morte Simples Mudança”
Jornal “O Espírita Mineiro”, maio/junho/2006


Jc.
S.Luis, 10/03/2011

CARLOS IMBASSAHY

CARLOS IMBASSAHY

Nascido em 9 de setembro de 1884, Carlos Imbassahy enfrentou galhardamente a passagem do século, vivendo até 4 de agosto de 1969, quando desencarnou antes de completar 85 anos de existência. Advogado, jornalista e escritor, foi no início de sua carreira como advogado aprovado por concurso público na Comarca de Andaraí, uma cidade interiorana do seu estado natal, a Bahia. Pouco depois, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde viveu a maior parte de sua existência na cidade de Niterói, onde ingressou no Ministério da Fazenda. Foi nessa ocasião que conheceu Amaral Ornelas, o grande poeta espírita, com o qual fez amizade e teve seus primeiros contatos com a Doutrina dos Espíritos.

Acumulando com suas funções de funcionário público, também exercia a profissão de jornalista, além de trabalhar na redação de jornais diários do Rio de Janeiro. Foi assim que acabou sendo convidado para se tornar redator da revista “O Reformador”, publicado da FEB, na qual ocupou o cargo de secretário durante longos anos. Junto com seu amigo Ornelas e com Bernardino da Fonseca Filho, o Bebé, grande médium psicógrafo, fundou um Centro Espírita, em cuja presidência eles se alternavam.

Lançado como orador espírita pelo seu amigo, adotou um estilo novo de expor, procurando alternar os ensinamentos da Doutrina com assuntos leves e até mesmo jocosos que fossem capazes de atrair a atenção dos seus ouvintes. Com isso, aos poucos, foi criando Escola, apesar de combatido pelos mais austeros líderes do movimento espírita. Nessa época um padre em Juiz de Fora, resolveu atacar a Doutrina Espírita. Os companheiros da doutrina daquela cidade, acharam por bem pedir socorro à FEB que, para atendê-los, indicou o Dr. Imbassahy. Ele deveria comparecer àquela cidade para rebater as acusações do sacerdote.

Na hora do embarque por ferrovia, um dos diretores, para ajudá-lo, entregou-lhe um volume traduzido pela FEB da obra de Roustaing, dizendo-lhe: “Imbassahy, aqui você encontrará tudo o que precisa para acabar com o padre”. O principal tópico do debate seria a ressurreição de Lázaro, e quando ele começou a lê-la, sua razão fê-lo estarrecer-se com o conteúdo daquela obra. Lendo as explicações dadas, ficou horrorizado pensando no fiasco que faria se apresentasse aquilo como argumento para debate. Foi seu primeiro contato e sua primeira decepção com Roustaing. Segundo ele, sua grande sorte foi que o padre, no dia do debate, resolveu ausentar-se da cidade e ele preferiu não abordar o tema e voltar ao Rio.

Os tempos passaram e desencarnou o presidente Guillon Ribeiro. Elegeram para substituí-lo um jovem militante roustainguista que tinha outra visão da Doutrina e que achava fundamental que todos os participantes dos cargos diretivos da Federação fossem não apenas adeptos, mas militantes do roustainguismo. Com isso, o Dr. Imbassahy, que era adepto de Kardec, praticamente foi excluído do seu cargo e afastado a bem da comunidade e do movimento federacionista. Mas, a essa altura, seu conhecimento doutrinário e sua fama de escritor já haviam lhe
coroado a carreira literária. Foi dessa forma que, seus novos livros encontraram uma série de editores que se ofereceram para publicados, fora do contexto febiano. Afastado da FEB, passou a ser um dos grandes expoentes do Espiritismo, nos movimentos que não tinham apoio daquela entidade, ao lado do seu querido amigo e conterrâneo Leopoldo Machado. Assim, foi orador do Congresso Sul-Americano de Espiritismo realizado no Rio de Janeiro; participou de todos os Congressos de Escritores e Jornalistas Espíritas, realizados no Brasil, incrementou o movimento dos jovens e teve importante participação junto ao 1º e único Congresso Brasileiro de Mocidades Espíritas, como também se destacou pelo apoio que sempre deu às Semanas Espíritas, e a qualquer outra atividade doutrinária que tivesse como escopo a difusão da Doutrina dos Espíritos.

Entre seus trabalhos literários, citam-se os romances: “Leviana” e “Os Menezes”. Publicou também uma obra de cunho histórico com o título “Grandes Criminosos da História”. Entre suas obras espíritas, destacam-se: “A Mediunidade e a Lei”; “O Espiritismo à Luz dos Fatos”; “Evolução”; “O Que é a Morte”; “Enigmas da Parapsicologia”; “A Missão de Allan Kardec”; “Ciência Metapsíquica”; “Parapsicologia e Psicanálise”; “Freud e as Manifestações da Alma”. Como tradutor, trouxe para a língua portuguesa as seguintes obras: “Fenômenos Psíquicos” de Ernesto Bozzano; “Reencarnação” de Gabriel Delanne; “A Vida Além do Véu” de Roberto Dale Owen; “A Filosofia Penal do Espiritismo” de Fernando Ortiz; “Fenômenos Hipnóticos e Espíritas” de César Lombroso, e as principais obras de Allan Kardec.

Junto com sua esposa, participou dos Teatros Espíritas, durante as Semanas Espíritas, escrevendo até uma comédia intitulada Firma Roscof & Cia, incentivando desse modo, os jovens espíritas à arte sadia, como literato, jornalista e expositor espírita. Inúmeros foram os casos pitorescos de sua existência, contados em livro. Além de divertir, mostram a verve de um grande baluarte da Doutrina, que soube aliar a difusão doutrinária com a arte, com sabedoria. O Dr. Alberto de Souza Rocha reuniu uma série de documentos de casos do Dr. Imbassahy que ainda não foi publicado porque o companheiro desencarnou antes de completar seu trabalho. São cartas particulares do grande escritor, inclusive, uma endereçada ao Sr. Wantuil de Freitas, quando presidente da FEB que é um libelo terrível contra o roustainguismo.

Não poderíamos falar do Dr. Imbassahy sem fazer uma especial referência à sua esposa, dona Maria, médium de excelentes predicados e que era seu braço forte, no incentivo e em tudo mais que uma companheira dedicada podia fazer por seu marido. Ela era também uma excelente comediante, mas nunca se dedicou a profissão, só participando ao lado do esposo em suas apresentações cênicas no meio espírita. Faziam um par impagável nas apresentações cênicas juntamente ao lado de Olimpio Campos, outro excelente ator, que por ser órfão elegeu o casal como seus novos pais. Os três juntos faziam as cenas de humor nas Semanas Espíritas de que participavam, mostrando que a arte sadia também tem lugar dentro do movimento espírita. O casal Imbassahy teve um único filho chamado
Carlos de Brito Imbassahy, também escritor e jornalista espírita.

Aos 84 anos, foi ele acometido de uma leucose aguda que, em pouco mais de seis meses, levou-o à sepultura. Seu enterro, em 04/08/1969 foi concorridíssimo, deixando uma grande lacuna no movimento espírita brasileiro, porque sempre foi um grande defensor da Doutrina dos Espíritos e principalmente de Allan Kardec.



Bibliografia:
Marinei Ferreira Rezende
Jornal “O Imortal”


Jc.
S.Luis, 9/3/2011

ADOÇÃO DE CRIANÇAS

ADOÇÃO DE CRIANÇAS

Adoção (do latim, adoptione) Adotar, (do latim, adoptare).

De maneira geral, segundo o dicionário Aurélio, estas duas palavras significam optar ou decidir-se por escolher, preferir, abraçar, tomar, assumir, aceitar, acolher, atribuir (a um filho de outrem) os direitos de filho próprio, perfilhar, legitimar.

Diante do Consolador Prometido, podemos compreender o sentido da ação “adotar” em sua plenitude. Por não termos ainda alcançado a perfeição no passado e com a necessidade de depurar-nos, Deus em sua infinita misericórdia, nos convida à prova de uma nova existência, com a finalidade de darmos um passo na estrada da evolução.

Contudo, nós Espíritos eternos, enquanto na erraticidade, nossos orientadores do plano espiritual, especializados em conhecimentos biológicos da existência terrena, elaboram, de acordo com o grau de nosso adiantamento e com o serviço que nos é designado no corpo carnal, o que é necessário para a nossa nova existência. Assim, somos atraídos para tal ou qual família, por razões de simpatia ou por ligações anteriores, que não nos são reveladas na atual existência.

Os pais genealógicos transmitem aos filhos apenas a semelhança física, pois entre os descendentes das raças há apenas a consangüinidade. Os pais têm o dever de desenvolver nos Espíritos dos seus filhos quer, adotivos ou não, a educação moral antes e sobre a educação intelectual. O ato de adotar é pelo fato da nossa parentela se originar bem antes da nossa atual existência e, conseqüentemente, nos leva a lembrar que a Doutrina da reencarnação aumenta os deveres da fraternidade. A adoção vem antes de tudo, salvar o nascituro do crime do aborto e resguardá-lo de ser órfão de pais vivos. A opção sincera, o livre-arbítrio nos esclarece que “querer” e “cuidar” de um filho, é muito mais do que simplesmente “ter” um filho.

A adoção de filhos não obedece a circunstâncias fortuitas. Há uma ampla mobilização da Espiritualidade no sentido de encaminhar órfãos aos lares a que se destinam. Ficaríamos surpresos se tivéssemos noção plena do trabalho desenvolvido pelos mentores espirituais nesse sentido. “Quando encontram instrumentos dóceis (pais que desejam adotar), eles realizam prodígios para colocar filhos que precisam de pais no endereço certo de pais que precisam de filhos”.

A adoção é uma atitude voluntária, iniciada no sentimento de amor, que assim como acontece aos pais genealógicos, acarretará culpas e conseqüências aos adotantes, ao falhar na lei do progresso do Espírito que Deus os confiou. Na verdadeira adoção não há necessidade de aparência física, pois a lei do amor sobrevive às feições transitórias
do corpo material, enaltecendo as aparências morais perante o nosso mestre Jesus. Infelizmente, para muitas pessoas a adoção ainda é um tabu. Há mulheres que
não querem ter filhos que preferem passar por um sofrido processo de inseminação artificial a aceitar uma criança que não carregue a sua herança genética.
Os pais adotivos recebem os anjos enviados por Deus geralmente no início de sua infância. Nesta fase, o Espírito de uma criança tem o objetivo de se aperfeiçoar, pois neste período é mais acessível às impressões que recebe e que podem auxiliar o seu adiantamento, para o qual devem contribuir os que estão encarregados de educá-los. Através do choro de uma criança, quando ainda não sabe falar, admiramos a Providência Divina para estimular o interesse da mãe e provocar os cuidados que lhe são necessários. E mesmo assim, vemos diariamente sob nossos olhos a grande maldade que é deixar uma criança abandonada, sozinha perante a sorte do mundo.

As crianças transmitem as aparências de inocência, com a finalidade de seus pais (adotivos ou não), amarem incondicionalmente seus rebentos na fragilidade infantil, pois, os Espíritos, só entram na vida corporal, para se aperfeiçoarem, para se melhorarem espiritualmente. È na infância que se pode reformar o seu caráter e reprimir seus maus pendores. Esse é o dever que Deus conferiu aos pais, especialmente aos pais de coração e que um dia, mais cedo ou mais tarde, terão de dar conta de seus feitos. A semeadura é livre, porém a colheita é obrigatória. “Cada um segundo as suas obras”, como ensinava Jesus.

O amor materno é uma virtude, um dom, um sentimento instintivo comum aos seres humanos e os animais. No animal o amor é limitado às necessidades materiais; no ser humano o amor persiste pela existência inteira e comporta um devotamento e uma abnegação que são benefícios quando em equilíbrio; sobrevive mesmo à morte. A dor da perda de um filho é brutal, avassaladora e necessita da assistência de Jesus em nossos pensamentos e atos. Quem perde um marido, fica viúva; quem perde uma mãe fica órfão; porém, quem perde um filho fica o que? Essa dor não tem nome.

Não devemos jamais julgar uma mãe que odeia e/ou abandona um filho. Não sabemos o que houve no passado de suas encarnações. Temos a obrigação de lembrar sempre que, ao violarmos as leis da natureza ninguém ficará impune, e o Espírito do filho será recompensado pelos obstáculos que haja superado. Perante este fato, visualizamos mães e pais, semeando o bem no terreno do coração de seus filhos amados e queridos, para colherem durante sua velhice o amor eterno e leal plantado e regados com fé, paciência, coragem e bons exemplos.

Assim sendo, os filhos perfilhados deverão ter sincera benevolência, indulgência e perdão das ofensas para com seus pais biológicos, livrando-se da revolta, e agradecidos a Deus por enviar Espíritos abnegados, benignos e que anulam em si o egoísmo, a vaidade para receberem junto ao seu seio doméstico, os filhos de outros que necessitam receber e aprender a amar para exemplificar o amor. Os pais adotivos não devem ter medo de admitir a adoção e devem abrir os olhos de seus filhos e livrá-los do preconceito do mundo através do amor que recebem. Afinal, se
fossem filhos biológicos, era obrigação e dever dos pais; sendo filhos adotivos, não existe a obrigação, mas o sentimento espontâneo de fraternidade, carinho e de amor.

Muitas pessoas pensam que para adotar uma criança é preciso estar em uma ótima
Situação financeira, o que é um engano. Existem diversas famílias que levam uma
existência modesta e, nem por isso deixaram de experimentar a felicidade sem preço, de ter uma criança brincando dentro de casa. Imaginemos a nossa situação quando era necessária a nossa vinda ao mundo, para evoluirmos e os nossos pais nos recusassem essa oportunidade? Vejamos a alegria que uma criança trás ao nosso lar com suas falas, perguntas, brincadeiras, e a tristeza quando elas se ausentam e deixam à casa vazia, silenciosa, triste e sem a alegria, sem a sua presença. Só quem tem criança em casa, sabe o que elas representam de felicidade para nós outros.

A maior dificuldade que a adoção enfrenta no Brasil não é a lentidão da justiça ou a baixa renda da população, mas sim o preconceito. Nos orfanatos, é comum as pessoas que desejam fazer uma adoção, darem preferência às crianças com pele, cabelos e olhos claros, enquanto as demais são obrigadas a permanecerem numa espera interminável. Existe atualmente cerca de 80 a 100 mil crianças e adolescentes vivendo em orfanatos no Brasil; 10% desses meninos e jovens estão disponíveis para adoção. 87% deles têm família; 60% deles ainda recebem a visita de familiares; 7% desconhecem a família; 5% são órfãos. Crianças negras, já crescidinhas e com irmão, compõem um perfil que está além das expectativas dos candidatos a pais substitutos. Eles querem apenas uma criança (99%), com menos de 3 anos (83%), e de pele branca (50%), só que os abrigados são diferentes do bebê idealizado. A maioria tem a pele negra ou parda (56%), já passou de 3 anos (87%) e tem irmão (52%). A diferença entre a criança disponível e a sonhada cria duas filas que não diminuem, nem se encontram: órfãos e abandonados esperam por pais que não chegam; pais que aguardam um filho idealizado e que não há. Um retrato da contradição brasileira, da rejeição dissimulada que infelizmente ainda existe em nossos corações.


“E junto a cruz, estavam a mãe de Jesus e Maria Madalena.
Vendo Jesus sua mãe, e junto a ela o apóstolo amado, disse:
Mulher, eis aí o teu filho. Depois disse a João: Eis aí tua mãe.
Dessa hora em diante o apóstolo a tomou para casa”.
João, cap.19: 25 a 27.

Jesus, naturalmente, só em olhá-la, sentiu todo o seu sofrimento e sua preocupação com o futuro. E sua bondade se fez notar até nos derradeiros momentos; esquecendo a agonia dolorosa, para tomar providências quanto ao destino de sua mãe e de seu apóstolo amado. Antes que a sua mãe pedisse ajuda ao plano espiritual, Jesus já assinalava a adoção mútua, providenciando uma mãe para seu apóstolo, e um filho para cuidar da mãe em sua velhice; e Maria e João cumpriram o pedido de Jesus.

“Auxilia quanto, como, onde e sempre que possas, para o teu progresso e a
melhora do bem comum. Não esperes que a tua desencarnação obrigue
outros a fazer aquilo quer podes fazer hoje, no amparo aos semelhantes,
para a construção de tua própria felicidade, de vez que tudo aquilo que
damos na existência, é justamente aquilo que a vida nos restitui”.

(Estude e Viva- cap.16)
“Agradeço a Deus, nosso Pai, soberanamente justo e bom. Ao nosso mestre e irmão Jesus, aos Missionários da Luz, pela minha encarnação atual e por minha adoção aos
7 dias de existência (afirmativa da minha mãe do coração). Ela teve 5 filhos e um AVCI (Acidente Vascular Cerebral Isquêmico) no espaço de 4 anos, desencarnando em 23/10/2006. Em todo o processo de sua enfermidade eu me anulei em todos os sentidos (transcrevo isso sem nenhuma pretensão, apenas fiz o que estava ao meu alcance e em agradecimento); meus irmãos, (filhos biológicos de minha mãe) não conseguiam ver sangue, sentiam-se mal em ambiente hospitalar, com seus empregos, seus compromissos, não poderiam ficar 24 horas ao lado dela, por isso permaneci até o último momento ao seu lado, fazendo o que eu deveria fazer estando solteiro, desempregado e possuindo uma eterna gratidão em meu peito. Deus abençoe a Doutrina dos Espíritos que tanto nos esclarece abrindo meus olhos em relação ao meu futuro espiritual, a verdadeira vida.

Rogo aos Espíritos Superiores, que guie e ilumine os meus queridos e amados pais (Agenor Costa, meu pai adotivo de coração e meu pai biológico que eu não sei quem é), e minhas queridas e amadas mães (Maria Zózimo da Costa, minha mãe do coração, e minha mãe biológica Maria Joana Dias) que já desencarnaram e estão no mundo espiritual trabalhando, servindo, aprendendo e aguardando um novo reencontro”.

Fábio Henrique Zózimo da Costa


“O amor, meu amigo, é o pão divino das almas, o bálsamo sublime dos corações”.

“Nosso Lar”-cap. XX André Luiz

Adotar um animal é um ato benéfico; porém adotar uma criança é um ato que só um sentimento imenso de fraternidade e amor pode promover. Se você, irmão/irmã, sente falta de alegria no seu lar, preencha-o com a contagiante presença de uma criança, que no futuro, poderá ser aquela pessoa a lhe amparar na sua velhice.


Bibliografia:
Allan Kardec
Francisco Cândido Xavier
Evangelho de João
Estude e Viva
Fábio Henrique Zózimo da Costa
“Livro “Nosso Lar”
Jornal “Brasília Espírita” nº. 164


Jc.
S.Luis, 5/3/2011