domingo, 12 de agosto de 2018

PLANTE AMOR E RECEBA A PAZ





 
A nossa infância em São Luís, lá pelos anos de 1935, (nesse tempo ainda não existia os heróis fabricados), eu ainda criança, com quatro anos, vendo passar na nossa porta o bonde elétrico que fazia o percurso do Centro da cidade até o Anil, onde morávamos, e vendo o motorneiro dirigir o bonde, eu ficava encantado e a pensar que quando eu crescesse, desejava ser  um motorneiro de bonde, pois achava muito legal. Bons tempos aqueles em que havia tranquilidade, paz, harmonia,  fraternidade e amor entre as pessoas.
A existência foi passando e muitos anos depois, começaram a surgir ás revistas em quadrinhos com alguns heróis, com poderes excepcionais, como: O Titan e seu arqui-inimigo O Caveira, O Vingador, O Cometa, A Visão, O Príncipe Submarino e outros mais, e depois, os cinemas começaram a apresentar também seus heróis: Flash Gordon, O Zorro, O Sombra, Mandrake, O Capitão Marvel, O Fantasma e outros mais, que as crianças da época gostavam sempre de imitar um deles, e nas histórias, era sempre comum se saber que o bem e o amor venciam sempre. Assim, era um tempo de encanto, de fantasia e de alegria para todas as crianças, como eu, que vivenciaram aqueles tempos, sem maldades, sem violência, sem crimes.  
Nos tempos atuais, o que assistimos são filmes, programas e novelas  mostrando o desrespeito, a traição e exibindo  e incitando a violência, o sexo e os diversos tipos de crimes, como suborno, corrupção, furtos, roubos, e não se vê mais a simplicidade e a graça das histórias, não se vivencia mais o Amor que está muito esquecido pelas pessoas. Precisamos reunir os familiares e os amigos e relembrar o maior de todos esses os heróis – Jesus.
Hoje, infelizmente, ouvimos ás vezes as mães se queixarem  que levaram suas crianças pequenas de quatro ou cinco anos para verem seus pais, na prisão. O sonho dessas crianças é decepcionante ao constatar que o seu adorado pai não é um herói, mas um prisioneiro. Que tristeza para essas crianças.
As mães choram de arrependimento, em diálogos, quando nos dizem que a sua amada criança, mudou completamente de comportamento, depois de ver seu pai na prisão. Passou ela a ficar rebelde ou chorosa, infeliz ou tímida. Seu pai que deveria ser seu herói é na verdade um criminoso. Quem ela vai imitar?
Muitas crianças ainda têm um substituto bom; um tio, um avô, um irmão mais velho que supre a figura paterna e dá bons conselhos; mas muitas outras não têm alguém para assumir tal função e aí a situação fica difícil. Alguns dizem que a pobreza é a mãe da criminalidade, mas não é bem assim. Tomo como exemplo a nossa família (Tavares de Castro). Nossa mãe ficou viúva com 12 filhos e eu, caçula com apenas um ano de idade. Nessa época não existia Lei trabalhista, L.B.A., INSS, não houve pensão do nosso pai nem qualquer tipo de auxílio. Ela conseguiu nos criar com muitas dificuldades, trabalhando e com a fé que tinha em Jesus, sem que nenhum dos seus filhos ficasse marginal, em face da nossa pobreza extrema. Desde cedo, começamos também a trabalhar para nos manter e foi assim que Jesus nos permitiu a existência até a fase adulta.
Observamos que o que falta em muitos lares, hoje, é a religiosidade, o bom exemplo, a prática do bem, pois os crimes estão também nas famílias abastadas e em pessoas instruídas. É necessário trazer de volta para as famílias, a convivência fraterna, a religião, a bondade e o amor, para termos a paz na consciência, no lar, na cidade, no país e no mundo.
No Canadá, as mães estão reduzindo a jornada de trabalho para ficarem mais tempo com os filhos, e nos Estados Unidos, os médicos instituíram o Family Dinner, ou seja, a volta da família jantar junto novamente e com a televisão desligada. Um momento para a família. Há ainda uma campanha que está se tornando mundial, de se desligar o celular para olhar o filho. As crianças precisam ser olhadas e precisam ser amadas.
Há uma passagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, muito bela de um protetor espiritual, constante do capítulo VIII (Deixai vir a mim os pequeninos) em que o autor escreve o seguinte: “Deixai vir a mim os pequeninos; deixai vir a mim os tímidos e os frágeis que necessitam de amparo e consolo. Deixai vir a mim os ignorantes, para que eu os ilumine. Deixai vir a mim todos os sofredores, a multidão dos aflitos e dos infelizes, e eu lhes revelarei o segredo da cura e darei o grande remédio para os males da existência”.
Qual é meus amigos, esse bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a todas as chagas e as cura? É o Amor. Se tivermos esse dom divino, o que haveremos de temer?  O Amor e a Caridade são a solução.  Diz o ditado: “Quem ama, educa, e a educação é a solução.” Os lares brasileiros precisam retomar a Educação com Amor; formar um ser humano com sentimentos bons, não importando a classe social a que pertença. Libertar-se da inveja e da ganância de querer possuir tudo o que outros possuem. Evitar tomar de outra pessoa, aquilo que ele tem. Entender que não é assim que se deve conseguir, mas com trabalho e honestidade e se conformar com a existência que tem, pois foi ele que moldou a sua existência, e não partir para furtar ou roubar o que pertença a outra pessoa. Viva  fazendo o bem e dê  paz à sua consciência e receberá sempre a proteção divina.
Quando ainda criança, uma experiência nos marcou e lembramo-nos dela até hoje. Na época, devia ter nove anos e na escola, tínhamos uma colega, uma amiga querida; a mais pobre da classe. Nessa época não se fazia distinção social. Ela tinha uma bolsa de estudo dada pelo diretor da escola. Nossos pais desejavam saber quem eram os pais de nossos colegas, não pelo fator social, mas para saber se eram pessoas de bem, e se seus filhos podiam ficar juntos. Um dia, fomos com essa nossa colega até a casa dela, depois das aulas. A casa era uma das mais pobres da rua.
Quando estávamos brincando, a mãe dela se aproximou e disse-lhe: “Filha, a borracha que você trouxe da escola não é a sua.” A nossa amiga esboçou uma desculpa, dizendo que não tinha achado a sua e que um colega tinha lhe emprestado aquela e que ela tinha se esquecido de devolver. No final do dia, seu pai, voltando do trabalho, tomou conhecimento do ocorrido, e a mãe da menina já estava com o nome e o endereço do colega. O pai ordenou que fosse devolvida a borracha e fomos juntas e andamos quase uma hora a pé, até a casa do menino, Ela bateu palmas e pediu para chamar o menino. O colega veio surpreso. Ela então pediu desculpa por não ter devolvido a borracha, e entregou a ele que saiu agradecido. Quando voltamos, o seu pai disse à filha em tom enérgico: - “Nós somes pobres, mas somos honestos!” – Nunca esqueci esse fato e de heróis assim, anônimos, é que precisamos. Heróis do dia a dia, que ensinem a honestidade e o bem aos seus filhos.
Temos ainda a fé de que o estado atual das coisas no Brasil, em que a sociedade não suportando mais a corrupção e a falta de honestidade, vem aumentando o número desses heróis e a educação no bem vão triunfar. O Brasil será sim, um dia, uma nação em que os valores morais elevados irão prevalecer. O número dos que almejam o bem está crescendo e o Amor continuará sempre vencendo e vencerá, pois cremos que Jesus olha por todos nós, e um dia essa situação vai se reverter, a exemplo do que respondeu Maria de Nazaré a Chico Xavier, quando este se encontrava em uma situação aflitiva: “Tudo passa”.
Retornando ao capítulo VIII, o Espírito protetor termina sua mensagem com belíssimas palavras que devemos manter em nossa mente: “Se tiverdes amor, tereis tudo o que mais se pode desejar na Terra, pois tereis a pérola sublime, que nem as mais diversas circunstâncias, nem os malefícios dos que vos odeiam e perseguem, poderão jamais arrebatar. Se tiverdes amor, tereis colocado o vosso tesouro onde nem a traça, nem a ferrugem os devoram, e verá desaparecer de vossa alma tudo o que lhe possa manchar a pureza”.  A força do Amor há de vencer sempre, repetimos...

Fonte:
Jane Martins Vilela
Jornal “O Imortal” – 7/2018
+ Acréscimos e modificações.

Jc.
São Luís, 6/8/2018