A
nossa infância em São Luís, lá pelos anos de 1935, (nesse tempo ainda não
existia os heróis fabricados), eu ainda criança, com quatro anos, vendo passar
na nossa porta o bonde elétrico que fazia o percurso do Centro da cidade até o
Anil, onde morávamos, e vendo o motorneiro dirigir o bonde, eu ficava encantado
e a pensar que quando eu crescesse, desejava ser um motorneiro de bonde, pois achava muito
legal. Bons tempos aqueles em que havia tranquilidade, paz, harmonia, fraternidade e amor entre as pessoas.
A
existência foi passando e muitos anos depois, começaram a surgir ás revistas em
quadrinhos com alguns heróis, com poderes excepcionais, como: O Titan e seu
arqui-inimigo O Caveira, O Vingador, O Cometa, A Visão, O Príncipe Submarino e
outros mais, e depois, os cinemas começaram a apresentar também seus heróis:
Flash Gordon, O Zorro, O Sombra, Mandrake, O Capitão Marvel, O Fantasma e
outros mais, que as crianças da época gostavam sempre de imitar um deles, e nas
histórias, era sempre comum se saber que o bem e o amor venciam sempre. Assim, era
um tempo de encanto, de fantasia e de alegria para todas as crianças, como eu,
que vivenciaram aqueles tempos, sem maldades, sem violência, sem crimes.
Nos
tempos atuais, o que assistimos são filmes, programas e novelas mostrando o desrespeito, a traição e exibindo
e incitando a violência, o sexo e os diversos
tipos de crimes, como suborno, corrupção, furtos, roubos, e não se vê mais a
simplicidade e a graça das histórias, não se vivencia mais o Amor que está
muito esquecido pelas pessoas. Precisamos reunir os familiares e os amigos e
relembrar o maior de todos esses os heróis – Jesus.
Hoje,
infelizmente, ouvimos ás vezes as mães se queixarem que levaram suas crianças pequenas de quatro
ou cinco anos para verem seus pais, na prisão. O sonho dessas crianças é
decepcionante ao constatar que o seu adorado pai não é um herói, mas um
prisioneiro. Que tristeza para essas crianças.
As
mães choram de arrependimento, em diálogos, quando nos dizem que a sua amada
criança, mudou completamente de comportamento, depois de ver seu pai na prisão.
Passou ela a ficar rebelde ou chorosa, infeliz ou tímida. Seu pai que deveria
ser seu herói é na verdade um criminoso. Quem ela vai imitar?
Muitas
crianças ainda têm um substituto bom; um tio, um avô, um irmão mais velho que
supre a figura paterna e dá bons conselhos; mas muitas outras não têm alguém
para assumir tal função e aí a situação fica difícil. Alguns dizem que a
pobreza é a mãe da criminalidade, mas não é bem assim. Tomo como exemplo a
nossa família (Tavares de Castro). Nossa mãe ficou viúva com 12 filhos e eu,
caçula com apenas um ano de idade. Nessa época não existia Lei trabalhista,
L.B.A., INSS, não houve pensão do nosso pai nem qualquer tipo de auxílio. Ela
conseguiu nos criar com muitas dificuldades, trabalhando e com a fé que tinha
em Jesus, sem que nenhum dos seus filhos ficasse marginal, em face da nossa
pobreza extrema. Desde cedo, começamos também a trabalhar para nos manter e foi
assim que Jesus nos permitiu a existência até a fase adulta.
Observamos
que o que falta em muitos lares, hoje, é a religiosidade, o bom exemplo, a
prática do bem, pois os crimes estão também nas famílias abastadas e em pessoas
instruídas. É necessário trazer de volta para as famílias, a convivência
fraterna, a religião, a bondade e o amor, para termos a paz na consciência, no
lar, na cidade, no país e no mundo.
No
Canadá, as mães estão reduzindo a jornada de trabalho para ficarem mais tempo
com os filhos, e nos Estados Unidos, os médicos instituíram o Family Dinner, ou seja, a volta da
família jantar junto novamente e com a televisão desligada. Um momento para a
família. Há ainda uma campanha que está se tornando mundial, de se desligar o
celular para olhar o filho. As crianças precisam ser olhadas e precisam ser
amadas.
Há
uma passagem em O Evangelho Segundo o Espiritismo, muito bela de um protetor
espiritual, constante do capítulo VIII (Deixai vir a mim os pequeninos) em que
o autor escreve o seguinte: “Deixai vir a mim os pequeninos; deixai vir a mim
os tímidos e os frágeis que necessitam de amparo e consolo. Deixai vir a mim os
ignorantes, para que eu os ilumine. Deixai vir a mim todos os sofredores, a multidão
dos aflitos e dos infelizes, e eu lhes revelarei o segredo da cura e darei o
grande remédio para os males da existência”.
Qual
é meus amigos, esse bálsamo poderoso, de tamanha virtude, que se aplica a todas
as chagas e as cura? É o Amor. Se tivermos esse dom divino, o que haveremos de
temer? O Amor e a Caridade são a
solução. Diz o ditado: “Quem ama, educa,
e a educação é a solução.” Os lares brasileiros precisam retomar a Educação com
Amor; formar um ser humano com sentimentos bons, não importando a classe social
a que pertença. Libertar-se da inveja e da ganância de querer possuir tudo o
que outros possuem. Evitar tomar de outra pessoa, aquilo que ele tem. Entender
que não é assim que se deve conseguir, mas com trabalho e honestidade e se
conformar com a existência que tem, pois foi ele que moldou a sua existência, e
não partir para furtar ou roubar o que pertença a outra pessoa. Viva fazendo o bem e dê paz à sua consciência e receberá sempre a
proteção divina.
Quando
ainda criança, uma experiência nos marcou e lembramo-nos dela até hoje. Na época,
devia ter nove anos e na escola, tínhamos uma colega, uma amiga querida; a mais
pobre da classe. Nessa época não se fazia distinção social. Ela tinha uma bolsa
de estudo dada pelo diretor da escola. Nossos pais desejavam saber quem eram os
pais de nossos colegas, não pelo fator social, mas para saber se eram pessoas
de bem, e se seus filhos podiam ficar juntos. Um dia, fomos com essa nossa
colega até a casa dela, depois das aulas. A casa era uma das mais pobres da
rua.
Quando
estávamos brincando, a mãe dela se aproximou e disse-lhe: “Filha, a borracha
que você trouxe da escola não é a sua.” A nossa amiga esboçou uma desculpa,
dizendo que não tinha achado a sua e que um colega tinha lhe emprestado aquela
e que ela tinha se esquecido de devolver. No final do dia, seu pai, voltando do
trabalho, tomou conhecimento do ocorrido, e a mãe da menina já estava com o
nome e o endereço do colega. O pai ordenou que fosse devolvida a borracha e
fomos juntas e andamos quase uma hora a pé, até a casa do menino, Ela bateu
palmas e pediu para chamar o menino. O colega veio surpreso. Ela então pediu
desculpa por não ter devolvido a borracha, e entregou a ele que saiu
agradecido. Quando voltamos, o seu pai disse à filha em tom enérgico: - “Nós
somes pobres, mas somos honestos!” – Nunca esqueci esse fato e de heróis assim,
anônimos, é que precisamos. Heróis do dia a dia, que ensinem a honestidade e o
bem aos seus filhos.
Temos
ainda a fé de que o estado atual das coisas no Brasil, em que a sociedade não
suportando mais a corrupção e a falta de honestidade, vem aumentando o número
desses heróis e a educação no bem vão triunfar. O Brasil será sim, um dia, uma
nação em que os valores morais elevados irão prevalecer. O número dos que
almejam o bem está crescendo e o Amor continuará sempre vencendo e vencerá,
pois cremos que Jesus olha por todos nós, e um dia essa situação vai se
reverter, a exemplo do que respondeu Maria de Nazaré a Chico Xavier, quando
este se encontrava em uma situação aflitiva: “Tudo passa”.
Retornando
ao capítulo VIII, o Espírito protetor termina sua mensagem com belíssimas
palavras que devemos manter em nossa mente: “Se tiverdes amor, tereis tudo o
que mais se pode desejar na Terra, pois tereis a pérola sublime, que nem as
mais diversas circunstâncias, nem os malefícios dos que vos odeiam e perseguem,
poderão jamais arrebatar. Se tiverdes amor, tereis colocado o vosso tesouro
onde nem a traça, nem a ferrugem os devoram, e verá desaparecer de vossa alma
tudo o que lhe possa manchar a pureza”.
A força do Amor há de vencer sempre, repetimos...
Fonte:
Jane Martins Vilela
Jornal “O Imortal” –
7/2018
+ Acréscimos e
modificações.
Jc.
São Luís, 6/8/2018
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