Datam
da mais remota antiguidade, as tentativas de comunicações com os mortos, mas
somente no século dezenove, com a estruturação da Doutrina dos Espíritos, em
termos teóricos, foi que isso efetivamente ocorreu. Apesar das primeiras
manifestações tidas como espíritas, terem sido efetuadas na América do Norte,
foi, no entanto, no seio acolhedor da França, ponto convergente das atenções do
mundo, devido á revolução que adotou a legenda da “Fraternidade, Liberdade e
Igualdade”, que surgiu a figura do professor Hippolyte Leon Denizard Rivail,
que observou e estudou os fenômenos das “mesas falantes”, e reuniu os
princípios essenciais, ditados pelos Espíritos Superiores, formando um corpo
doutrinário a que denominou de “Doutrina dos Espíritos” ou “Espiritismo”, no
seu tríplice aspecto de Ciência, Filosofia e Religião. Publicando em 18 de
abril de 1857, em Paris, o primeiro livro da codificação, com o título de “O
Livro dos Espíritos”, ele o fez usando o pseudônimo de Allan Kardec, (para que
não fosse reconhecida como mais uma obra sua já que havia publicado alguns
livros), mas como uma obra dos Espíritos Superiores.
A
Doutrina Espírita vê o Velho Testamento como o livro sagrado do povo hebreu,
contendo algumas verdades como “Os Dez Mandamentos”, ao lado de regras humanas
ditadas por Moisés que atribuía a elas, origem divina para aquele povo rústico
e ignorante da sua época, além de narrativas por vezes contraditórias à moral
evangélica. As revelações se ajustam às épocas e aos estágios evolutivos, seja
de um povo ou de uma civilização; por isso elas são sucessivas. O Novo
Testamento ou Evangelhos contêm os ensinos de Jesus para todos os seres humanos,
de qualquer nacionalidade e de qualquer época, já que são verdades eternas, desde
que, entendidas em espírito, ou no sentido espiritual, livre das interpretações
e complementos humanos.
A
última das três revelações, que é a Revelação dos Espíritos, esclarece as duas
anteriores, quanto á capacidade de entendimento de considerável parcela da
Humanidade, sem fechar as portas ao progresso e à evolução, como já ocorreu no
passado. Auxilia a retificar o que foi mal compreendido, ou adulterado,
despertando-nos para a luz da razão. Graças a essa intervenção do Plano
Espiritual Superior em favor da Humanidade, aclaram-se várias passagens
evangélicas que foram mal compreendidas e que deram origem a confusões e
distorções no seio das igrejas cristãs.
Conforme
a palavra esclarecida do professor Carlos Imbassay, “não mais as penas eternas,
mas a existência progressiva com falecimentos temporários, mas sem paradas
definitivas, sem condenação irremissível. Não mais a pena como vingança, como
uma espécie de ódio do Criador à criatura, mas como remédio para a cura, como
um passo para o progresso. A criatura não ressuscita para o Juízo Final, nem
toma o mesmo corpo, nem vai para o inferno, mas volta em nova existência, em
novo corpo, apropriado às necessidades do Espírito e moldado de acordo com as
perfeições ou imperfeições do seu perispírito. A reencarnação é para efeito de
proporcionar ao espírito, o aprendizado na Terra, por meio do corpo físico, quase
sempre experimentando dores, no convívio com os semelhantes ou as provocadas
pelas asperezas da natureza terrena; todas, porém, imprescindíveis à sua felicidade
futura, porque a felicidade depende da purificação do Espírito, principalmente
através das existências”.
Deus
não veio a Terra. Criador de todas as coisas e de todos os seres, Supremo
Criador do Universo, não poderia viver por trinta e três anos num dos mais
obscuros e atrasados planeta que
criou. Impossível que deixasse o
Infinito, o Universo, abandonado para viver num minúsculo planeta de um dos
menores sistemas. Quem vem ao Mundo são os seus emissários, e dentre eles veio
o Cristo, que sofreu as vicissitudes da existência terrena para nos apontar o
Caminho, trazer a Verdade e alimentar a Vida em sua plenitude. Deus não faz
escolha, não há preferência; o progresso, a elevação espiritual, a felicidade,
são frutos do esforço próprio de cada pessoa (espírito).
Não
há diabos nem demônios com o fim de encaminhar os seres humanos ao fictício inferno
(reino de satanás); o que existe são espíritos inferiores, aos quais damos
acesso por afinidade, pelas nossas baixezas de sentimentos, que eles se aproveitam
para nos prejudicar, induzindo-nos ao mal, perseguindo-nos por todas as formas
que lhes são possíveis. Algumas vezes a perseguição é um ato de vingança; são
dívidas anteriores contraídas para com eles que, sem o saberem, são instrumentos
de nossa remissão.
Vejamos
o que diz um cientista: “Enquanto nosso corpo se renova, peça por peça, pela
substituição das partículas; enquanto ele existe e um dia fenece, massa inerte,
para o túmulo, onde se decompõe, o nosso Espírito, ser pessoal, guarda a sua
identidade e individualidade indestrutível, e liberto da matéria grosseira de
que se revestiu, vive a sua personalidade independente, a sua essência
espiritual, a sua grandeza e a sua imortalidade não sujeita ao império do tempo
e do espaço”. Alertam-nos ainda, “que há coisas que estão acima da inteligência
do ser humano mais inteligente, as quais a vossa linguagem, restrita às vossas
idéias e sensações, não tem meios de exprimir”. (Questão 13 do L.E.) Ao mesmo
tempo, o ensino claro dos Espíritos Superiores repele o panteísmo (adoração da
Natureza como divindade), mostrando-nos pela razão, que o Criador, as criaturas
e a natureza não se confundem, pois Deus é único, perfeito, criador do
universo, da natureza, e das criaturas, que jamais poderão se transformar no próprio
Deus.
A
Doutrina dos Espíritos é uma ciência que trata da natureza, origem e destino
dos espíritos. Bem como de suas relações com o mundo corporal. Como filosofia,
explica as consequências que se originam dessas relações e os ensinamentos de
Jesus a luz da Doutrina. Como religião, religa a criatura ao Criador, através
do conhecimento das leis Divinas, e pela Fé na Bondade, Justiça e Amor de Deus.
Os principais fundamentos do Espiritismo são: 1- A aceitação da existência de
um Ser Superior a que denominamos DEUS; inteligência suprema, criador do
Universo e de todas as coisas e seres; 2- A aceitação de Jesus, como guia e
protetor espiritual da Terra; 3- A crença na existência do espírito, envolvido
pelo perispírito que, quando encarnado, tem a denominação de alma, e que, após
a morte física, conserva a lembrança de todas as passagens terrenas; 4- A
crença no livre-arbítrio, que determina o destino do espírito de acordo com a
causa e o efeito de seus atos; 5- A crença na reencarnação, através da qual o espírito
vai evoluindo nos planos intelectual, moral e espiritual; 6- A crença na
comunicação dos espíritos com os humanos e destes para com os espíritos; 7- A crença
na pluralidade dos mundos habitados, atrasados e evoluídos. Por meio destes três últimos princípios,
podemos nós espíritas entender o que Jesus nos quis dizer, há dois mil anos
passados; a- Quando apareceu aos seus discípulos, no Monte Tabor, conversando
com os espíritos de Elias e Moisés; b- Quando se juntou aos seus seguidores, a
caminho de Emaús, após sua morte física, e se fez conhecer por eles; c- Quando se comunicou com Saulo de Tarso, na
estrada de Damasco; d- Quando respondendo aos seus discípulos, disse: “Se vós
bem quereis compreender, João Batista é o Elias que há de vir”; e- Quando disse
a Nicodemos: “Não te maravilhes de te haver dito. Necessário vos é nascer de
novo”; f- Quando respondendo a Pilatos, disse: “Meu reino não é deste mundo”;
g- “Quando falando aos seus discípulos, disse: “Há muitas moradas na casa de
meu Pai; se assim não fosse, eu já vos teria dito, porque eu vou para vos preparar
o lugar”.
A
Doutrina Espírita, como Ciência, Filosofia e Religião não adota; dogmas, símbolos, sacerdócio
organizado, vestes especiais, vinho, incenso, altares, imagens, velas,
talismãs, amuletos e quadros. Não atende a interesses mundanos e materiais; não
aceita adivinhações por cartas, búzios, tarô, bola de cristal; não recebe o
espírita, pagamento por qualquer benefício que tenha feito ao seu próximo, não
administra sacramentos, concessão de perdão, remissão de pecados, nem promete o
céu ou o inferno a qualquer pessoa.
A
desinformação de grande parte da sociedade, por falta de conhecimento ou estudo
da Doutrina dos Espíritos, tem dado lugar a ditos curiosos, como os seguintes:
“Espiritismo de Terreiro”, quando querem se referir aos rituais dos antigos
escravos e seus descendentes, trazido para o Brasil quando o Espiritismo ainda
nem existia, pois só surgiu no ano de l857; “Baixo Espiritismo”, quando deseja
designar uma prática puramente espiritualista voltada para o mal; “Espiritismo
de mesa branca” ou “Alto Espiritismo” quando querem se referir a uma prática
mediúnica, voltada e afinada com o bem. Tudo isso não passa de falta de
conhecimento da Doutrina. O sincretismo afro-brasileiro que originou a Umbanda,
também nada tem a ver com a Doutrina dos Espíritos. Apenas uma coisa os une: A
comunicação com os espíritos, que, diga-se não é exclusividade do Espiritismo
nem da Umbanda, visto que essas manifestações se verificam também entre os índios
e, com frequência, no seio das religiões pentecostais, e no movimento de
renovação carismática dos núcleos católicos, que numa desinformação, são
atribuídas ao Espírito Santo.
Cremos
que para o bom entendimento da Doutrina dos Espíritos, precisamos exercer o
auxílio consolador, a caridade fraterna, o intercâmbio de comunicações com os
que estão na espiritualidade, e a pregação moralista e religiosa; porém, ficará
falha e inconsistente, se não ajudar o ser humano a tomar uma nova consciência
de si mesmo, rompendo com os modelos inferiores existentes. A esta operação,
Paulo o apóstolo dos gentios, chamou: “A substituição da nova pessoa pelo
despojamento da velha pessoa”, e acrescentou ainda: “Os que procuram seguir Jesus,
se tornam novas criaturas”. E como nos
tornaremos uma nova pessoa? É simples. Aquele que se decide a seguir o Mestre
Amado, tudo deve ser renovado. O passado delituoso, as situações de dúvidas. As
incertezas terão chegado ao fim. As velhas cogitações com as coisas materiais
serão diminuídas, dando lugar á vida nova do espírito, onde tudo signifique
reconstrução para o futuro promissor. Os vícios, aos poucos serão afastados e
esquecidos, os erros serão retificados, os maus pensamentos serão substituídos
por novos sentimentos que vibrarão em sintonia com o Evangelho, e, as nossas
ações serão voltadas para o bem; e com nossos exemplos de vida, estaremos
semeando fraternidade, caridade e amor...
Não
adianta para ninguém o muito conhecimento, as palavras bonitas e as boas
intenções, sem o nosso interior renovado, pois estaremos indo ao encontro de
Jesus, carregados de cadeias, e, apesar da sinceridade das nossas intenções,
não conseguiremos ainda chegar ao santuário do seu Amor. Ao nos transformarmos
em uma nova pessoa, o Espiritismo cumpriu em nós, a sua função, e renovados,
poderemos com o conhecimento e a fé, praticar a caridade maior que consiste em
darmos, além do auxílio consolador, da caridade fraterna, da pregação moralista
e religiosa, damos também de nós mesmos, o nosso gesto será acompanhado do
nosso sentimento de cristão. E, ao nos tornarmos novas criaturas, estaremos
evoluindo e passando de uma morada de expiação e sofrimento, para outras
moradas apropriadas ao nosso adiantamento espiritual, como fiéis discípulos de
Jesus.
A
Doutrina dos Espíritos é sem dúvida, a terceira maior dádiva concedida ao ser
humano. Fundamentada nos ensinamentos de Jesus, ela é: a escola, o abrigo, o
templo sagrado, a esperança e a fé, assegurando aos que a buscam, orientação e
restauração na confiança em Deus, e a certeza de que em breve, dias melhores
virão para a Humanidade. A assimilação de seu conteúdo se faz pelo labor
constante e no trabalho de amor e caridade, sob a proteção de Jesus.
Finalizando, recordo
as instruções do “Espírito de Verdade” sobre a Doutrina, contidas no livro: “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, quando ele diz: “O Espiritismo, como
antigamente minha palavra, deve lembrar aos incrédulos, que acima deles, reina
a verdade imutável: O Bom Deus. Espíritas, amai-vos, eis o primeiro ensinamento;
instrui-vos, eis o segundo. Amai e orai; sedes dóceis aos Espíritos do Senhor;
invocai-o do fundo do coração e, então, Ele vos enviará seu filho bem-amado
para vos instruir e vos dizer estas palavras: Eis-me aqui, venho porque me
chamastes.”
Que a Paz do Senhor, permaneça
em nossos corações.
Bibliografia:
“Novo
Testamento”. “O livro dos Espíritos”
“O
Evangelho Segundo o Espiritismo”
Jc.
São
Luís, 11/2004
Refeito
em 22/04/2019