O
Amor é a lei maior do Universo. Ela se expressa de várias maneiras, desde as
formas mais singelas de vida. Tudo é beleza, harmonia e esplendor no Plano
Divino, no entanto parece que há algo errado na existência do ser humano – o
sofrimento. Esse fenômeno visita todos os lares e corações, desde o ignorante
até o homem de cultura, da choupana ao palácio, do homem de bem ao homem do
mal. Atinge os seres em todos os países, em todas as idades, em diferentes
condições sociais e econômicas. Todos sofrem neste planeta; ninguém consegue
ficar ileso a ele. Que contradição!
Sendo tudo Amor no Universo, o ser humano sofre muito em escala
individual e coletiva. Teria Deus criado o sofrimento para seus filhos?
Concebendo
o Criador como a perfeição e a misericórdia, isso é inadmissível, mas o certo é
que o sofrimento nos segue; faz parte da história humana e, através dele é que
a civilização avança em discernimento e luz espiritual. Se o sofrimento não é
proveniente da vontade de Deus, nem da fragilidade humana, pois somos fortes e
dotados de infinitos recursos para viver, de onde então vem o sofrimento? – A
resposta é muito simples: da conduta do ser humano.
Esse
sofrimento provém de três causas distintas: Como provações, como expiações e
como abnegações. Como provação, vem para resgate dos débitos contraídos
para com a Justiça Divina. Na provação o espírito reencarna com uma programação
feita na Espiritualidade da qual participou. Na expiação, o sofrimento
imposto ao espírito foi programado pelos mentores espirituais, como
compulsório, por se recusar ele em reconhecer seus débitos e não querer passar
por resgates. Na abnegação o espírito vem como missionário, com
existência difícil enfrentando privações e sofrimentos para dar o exemplo de
resignação, igual á passagem evangélica do homem que nasceu cego, não por sua
culpa ou dos pais, mas para que “se manifestassem nele as obras de
Deus...” João 9: 1 a 3.
Considerando
a harmonia universal, e as leis que regem a vida espiritual e a existência do
ser humano, aprendemos na Doutrina dos Espíritos que todo sofrimento é advindo
da nossa intervenção nessa harmonia; de um desarranjo nos propósitos superiores
da vida, que podem ser reparados por um ato de amor ou, caso isso não ocorra,
por uma reparação pela dor. Por isso sempre ouvimos dizer que “quem não vai
pelo amor, vai pela dor”. Quando nos equivocamos na existência, quando seguimos
na contramão das leis, por ignorância ou vontade própria, repetimos a lição, a
fim de aprendermos a discernir o que é certo e o que não deve ser feito,
ocasião em que o senso moral vai sendo construído.
Se,
insistimos em continuar no erro, por teimosia, revolta, egoísmo, ou por
vantagens materiais, abrimos espaço para que se instale o sofrimento, como meio
de reparação da desarmonia criada. Se quiséssemos corrigir os erros que estamos
cometendo, não haveria necessidade de passarmos por rigorosas lições de
sofrimento. A questão é que não nos corrigimos o que seria mais razoável, mas
unicamente nos livramos dos problemas sem esforço, na busca de prazer e
conforto material.
Os
seres humanos são vítimas de doenças orgânicas e psíquicas, e todos se esforçam
por se verem livres delas. Esses doentes em geral supõem que a Doutrina dos
Espíritos realiza milagres e produz curas maravilhosas, a exemplos de outros
que prometem e dizem que fazem. Por isso, as Casas Espíritas estão sempre
recebendo doentes que, já havendo esgotado os recursos fornecidos pela medicina
convencional, procura encontrar nela, como última tentativa de recuperação, a
saúde desejável.
A
verdade, porém, é que se as moléstias forem passageiras, sararão com os
cuidados médicos e remédios receitados, às vezes, até com chás caseiros; mas,
em se tratando de doenças que são provações de resgates do espírito, para
liquidação de dívidas perante a Lei Divina, tornam-se elas necessárias ao
reequilíbrio espiritual do doente. Os cuidados da ciência médica, os
tratamentos espirituais podem melhorar o estado do doente, dando-lhe a
esperança e a resignação, mas não vai alterar a situação satisfatoriamente, e a
doença seguirá seu curso, a não ser que haja o merecimento ou a misericórdia
divina a se manifestar. Nos casos de resgates, os Espíritos Protetores não
poderão também eliminar os motivos que impedem a recuperação do doente, para
não prejudicá-lo, ao invés de ajudá-lo como muitos pensam.
Meditem
os doentes de que a ocorrência de doenças sérias é sinal certo de que estão
sendo impulsionados para a libertação espiritual, transpondo obstáculos no
caminho da evolução. Auxiliemos o processo, cuidando do corpo “o jumentinho da
alma”, como dizia Francisco de Assis, aceitando o que não pode ser modificado e
nem se torturando
em
busca de um restabelecimento que nem sempre pode se dar, nem convém que às
vezes seja dado, para não aumentar a dívida, e não vamos julgar a doença uma
infelicidade, um mal irreparável, quando na verdade é a quitação com a Justiça
Divina, ou foi escolhida por nós mesmos, ao retornar a nova existência na
Terra.
Considere
o sofredor, como é imensa a bondade de Deus que, conhecendo nossa fraqueza e
atendendo nossas súplicas, nos permite a assistência e consolações espirituais
atentas e carinhosas, não só por parte dos nossos entes queridos na Terra, como
também dos desencarnados afins e dos protetores espirituais. Por isso Jesus
disse: “Bem-aventurados os que choram porque serão consolados”, prometendo
compensações quando falou aos sofredores;
e você, irmão/irmã, deve
acreditar nas palavras de Jesus.
Há
alguns anos conheci um menino que viveu até os 18 anos, tetraplégico, mudo,
praticamente incomunicável com o mundo exterior. Vivia ele sob os cuidados da
sua mãe que zelava por ele como se ele fosse à coisa mais preciosa do mundo.
Somente seus olhos, com o brilho da vida que palpitava em seu interior, se
expressava cheios de mensagens e significados. Nascendo já com todos os limites
e motivos para desistir da existência, ele lutou e sobreviveu por alguns anos.
Contra todas as expectativas médicas e fisioterápicas, conseguiu ele
desenvolver alguns movimentos e articular alguns sons, como comunicação com
seus pais. A alegria espontânea, transparecendo no brilho dos seus olhos, era
vida que transbordava de sua alma, como a dizer a todos nós ao seu redor: “Vejam, não posso nada, dependo de alguém, até
para coçar meu nariz, mas sou feliz porque posso aprender alguma coisa com a
vida.”
Eu
ficava imaginando quando o visitava que, se ele pudesse falar perguntaria:
“Como é caminhar pela rua em dia de sol, tomar banho de chuva, trocar a própria
roupa? Como é falar ao telefone, fazer um carinho, pintar uma tela, sentir o
vento no rosto? Como é cantar uma música ou andar de bicicleta; assistir a um
filme comendo pipoca? Qual é a sensação quando se olha o firmamento, a lua
cheia, andar de carro ou pentear os
próprios cabelos?
Lembro
também de uma senhora idosa chamada Vicentina que durante a sua vida útil
serviu a várias famílias e quando ficou impossibilitada de trabalhar, por
motivo de doença, e por não ter parentes que a acolhessem na capital, foi
internada no Asilo de Mendicidade, onde permaneceu por muitos anos acamada, por
estar paralítica e cega, e que era de
uma humildade e resignação nunca visto em outra pessoa. Para ela tudo estava
bem e bonito, e tratava as pessoas com tanta amabilidade que nos comovia,
apesar de todo o seu problema.
Ao
lembrar-me disso, percebi o valor de tudo aquilo que muitas vezes não somos
capazes de reconhecer como bênçãos em nossas existências e que só realmente
valorizamos quando as perdemos. Quantos de nós vivemos nos queixando de tudo e
desprezando as chances de realizar algo de útil, desperdiçando nosso tempo em
atividades fúteis que nada nos acrescenta. Aquele jovem e aquela idosa, mesmo
diante de sua terrível prisão orgânica, vivendo somente uma vida interior, sem sofrerem
a tortura de uma consciência alucinada, qual um alcoólatra ou um drogado.
Porém, uma coisa o dependente tinha como vantagem sobre a situação daqueles
dois imobilizados. Ele podia sair da
situação na hora que quisesse; podia recuperar sua liberdade e dignidade; era
só querer e lutar. Lutar pela própria existência que desprezava. Para isso ele
precisava apenas saber o quanto é importante
usufruir, a saúde e a existência. A autodestruição tem um saber amargo,
enquanto a autolibertação tem um saber divino. Todos nós somos capazes; todos
nós podemos conseguir... só depende de
querermos lutar, mudar melhorar
É
importante refletirmos na função educativa do sofrimento num planeta em que há
predomínio dos interesses materiais, em detrimento da busca espiritual. Como
terapeuta dos nossos tormentos, o sofrimento tem um especial papel no processo
de crescimento do ser humano a caminho de Deus. Muito embora vivamos orientados
para o sucesso material, há em todo ser reencarnado um estímulo ao que é divino
e superior, e é por isso que vibra em todos nós um forte impulso de amor e um
sincero desejo de realizarmos o que é essencial, e devemos nos afastar do que
consome nossas forças nas experiências terrenas.
Aos
poucos vamos percebendo que o sofrimento é um mecanismo da inteligência
superior do Universo – Deus, a fim de lembrar constantemente Sua criação, (ser
humano) do verdadeiro sentido da existência. O sofrimento não é imposto por
Deus como meta de equilíbrio, sua intensidade e duração, foi ele escolhido por cada
criatura antes de reencarnar. Ensina-nos um pensador da ciência psicológica que
“o sofrimento é sinal da disponibilidade de energia para transformar situações;
é a maneira que a razão tem de indicar uma atitude ou comportamento errado e,
para a pessoa que não é revoltada, cada momento de sofrimento é uma
oportunidade de crescer”. Não seria interessante, então, mudarmos nossa forma
de interpretar o sofrimento? Em vez de usarmos a queixa e/ou a revolta no
momento de aflição, de dificuldade no caminho evolutivo, não seria melhor
ponderar “O que devo mudar?” Entendendo a dor e o sofrimento como mecanismos de
profunda reflexão do ato de viver, quando ele se aproximar, vejam as mudanças
necessárias antes que a aflição se instale em nós, para que não seja atormentado
o presente e complicado o futuro.
Nós
somos os causadores de nossos infortúnios, porque recusamos atender o chamado
divino e uma existência com mais consciência e dentro das leis do Senhor. O
ponto em que nosso planeta se encontra como mundo-escola, em contínuo avanço,
nos convoca a uma renovação de padrão mental, a refletir-se em atitudes novas,
mais justas e caridosas. Enquanto permanecermos numa existência de interesses
próprios, o entendimento de Vida Eterna ficará adormecido. Mas, a partir do instante
em que nossa existência se amplia, o entendimento de Vida Eterna se aplica ao
cotidiano, nos gestos simples que movimentam nossos dias, na descoberta de
recursos valiosos para o progresso de todos, transformando experiências em
lições preciosas para o nosso Espírito imortal. Às horas de intranqüilidade que
marcam o ponto evolutivo da Terra, sucederão períodos de muita paz, e toda
pessoa que já aceitou o sofrimento como mensageira da mudança do espírito para
uma situação melhor, desfruta desde logo, do justo crescimento das almas que
sabem converter lágrimas em esperança.
Como
forma de esclarecimento nos caminhos de luz, é preciso compreender que são
“bem-aventurados os que choram”, que aceitam o sofrimento com resignação; que
diante do sofrimento, não perguntam: “Por quê?”, e sim: “Para que?” O sofredor
a que se refere Jesus, é o dos corações que sabem que é bem melhor quitar, que
prorrogar com mais dívidas, o seu débito para com a Justiça Divina; é
reconhecer que com o Mestre a dor é benção e progresso. Assim, o sofrimento tem
a marca abençoada da redenção. Esses que assim aceitam são como bem disse
Emmanuel: “os que recebem o sofrimento transitório da existência terrena, por
bendita e honrosa oportunidade de crescimento, com bondade e paciência, resignação
e esperança”. O
sofrimento
nos restaura, abrindo portas para o amor, que nos equilibra e nos alerta, como
a nos dizer que o mundo é um lugar de passagem e não o fim da jornada da vida.
Cabe-nos, portanto, realizar nele o melhor que pudermos. Evitar todo tipo de
agressão a si mesmo, aos semelhantes e ao meio em
que
vive. Estamos em processo de evolução a caminho de Deus, nosso Pai Celestial.
Bendita é a dor que nos arranca da indiferença e nos faz seguir as leis do
Senhor, passando a viver em função dos Seus propósitos e amor e bondade.
A
Terra passa por momentos difíceis, de aferição dos nossos valores. Jesus
convoca-nos a fazer parte das fileiras do Bem, para trabalharmos com Ele na
implantação de um reino de Paz, que se inicia no coração de todo aquele que já
se cansou das tentações do mundo e se compromete de vez, com o plano Divino.
Atendamos ao Seu chamado e veremos multiplicada a alegria que nos falta, porque
o ser humano que segue o caminho da luz, já não mais vive para si; vive para a
glória do Pai, na benção da Vida Eterna. A posição espiritual de cada um de nós
está na razão direta da permanência do sofrimento em nosso viver... Isso nos
faz concluir que AMOR E SOFRIMENTO são mecanismos que funcionam em situações
independentes: Sabemos então que, quando um se aproxima de nós, o outro se
afasta...
Se
Deus é o Pai de infinita bondade e justiça, não pode Ele agir com parcialidade.
As vicissitudes da existência têm assim uma causa, e, uma vez que Deus é justo,
o sofrimento também deve ser justo. Jesus nos prometeu as compensações e o
“Consolador” prometido por Ele, que é a Doutrina dos Espíritos, vem revelar as
causas das aflições. Elas têm duas fontes bem diferentes; uma na existência
atual, e a outra em existências
anteriores, onde contraímos as dívidas. As da existência atual são resultados
da nossa imprevidência, do nosso egoísmo, da nossa falta de caridade e amor
para com nossos semelhantes, da nossa ambição. Quantas uniões infelizes
realizadas que nada tem com o coração; quantos males e enfermidades,
conseqüências de excessos de todos os gêneros; quantos pais infelizes com seus
filhos, porque não combateram suas más tendências quando ainda eram crianças;
quantas pessoas arruinadas por má conduta... Que todos aqueles que passam por
sofrimentos interroguem a consciência, e verão se não podem dizer: Se eu
tivesse ou não tivesse feito tal coisa, eu não estaria hoje em tal situação.
Ha
males que achamos estranhos e que parecem nos atingir por fatalidade, cuja
compreensão somente a Doutrina dos Espíritos sabe explicar. O ser humano nem
sempre resgata suas faltas na mesma existência, embora não escape jamais da Lei
Divina. Os sofrimentos que fizemos os outros passarem, teremos que passar
também, e ainda com acréscimos. Assim, o que causou aleijão ao seu semelhante
poderá voltar aleijado; o que usou mal a fortuna poderá voltar
em
extrema miséria; o que foi orgulhoso voltará em condição humilhante; o que usou
mal a palavra pode voltar mudo; o que usou mal os olhos pode vir sem a visão, e
assim por diante. Nas várias existências, vamos resgatando nossos débitos para
com nossos semelhantes e a Justiça Divina, e, para os que sofrem com resignação
é que Jesus afirmou: “Bem-aventurados os aflitos porque serão consolados”.
Entretanto, nem todas as aflições e sofrimentos são resgates de dívidas,
porquanto muitos Espíritos já com maior evolução espiritual, aceitam as provas
da existência terrena, sofrendo todas as dores e dificuldades com humildade,
resignação e sem lamentações, como missão de exemplo de vida aos outros e na
sua própria melhora espiritual. Eis a resposta para os casos que mencionei
acima, do jovem e da idosa.
Todas
estas orientações e muito mais outras, sobre os “porquês” da nossa existência
terrena, podem ser encontradas no livro “Evangelho Segundo o Espiritismo”.
Que
a Paz do Senhor nos assista na nossa existência.
Bibliografia:
Evangelho
de Jesus
“Evangelho
Segundo o Espiritismo”
Jc.
S.Luis,
01/2001
Refeito em 18/9/2019