sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

O PODER DA PALAVRA

O PODER DA PALAVRA


A palavra é um dom divino. Infelizmente ainda muito mal aproveitada pelo ser humano, o que indica o atraso evolutivo do planeta em que vivemos o que, por sua vez, comprova o nosso próprio estado evolutivo. É por isso que existe o irônico provérbio do “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”, que é contraposto pelo sábio, “falar é prata, calar é ouro”, assim como o prudente, “o ser humano é senhor da palavra não proferida e escravo da que proferiu”, e pelo erudito, “falar pouco e certo é dizer muito em poucas palavras”, a exemplo do que nos recomendou Jesus, ao dizer: “Sim, sim, não, não”.

A palavra é uma grande força, porque é por meio dela, escrita ou falada que a pessoa recebe o patrimônio valioso das conquistas que a humanidade realizou; assim como por seu intermédio, transmite para a geração seguinte o progresso que já alcançou, propiciando à reivindicação e aquisição de tudo. Tudo o que se tem no cérebro, foi codificado linguisticamente . A palavra é um elemento revelador da amizade. Por isso, quando alguém se zanga com outro, deixa de lhe falar. Pode até acontecer de encontrando-o na rua ou em casa de amigos, lhe dê a passagem ou lhe faça um aceno, mas a palavra lhe é recusada em sinal da amizade rompida. Por isso, para fazer as pazes, há aquele momento difícil do pronunciar a primeira palavra, pelo receio dela não ser bem recebida. A boa palavra é então conciliação, sendo também união, que se manifesta viva nas conversas de namorados. Em contrapartida no outro extremo do convívio humano, está a palavra que discorda, que discute que se opõe.

André Luiz esclarece: “A palavra de bondade é semente de simpatia. O diálogo construtivo é terapêutica restauradora. Conversando, podemos criar saúde ou enfermidade, levantar ou abater, recuperar ou ferir. A nossa palavra, enfim, pode ser uma ofensa ou uma benção e é o uso dessa força que equilibra ou desequilibra, obscurece ou ilumina, ergue ou abate”. Famosas são as advertências do apóstolo Tiago em sua epístola: “Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão capaz de refrear também todo o seu corpo. Se pomos freios na boca dos cavalos para nos obedecerem, também lhes dirigimos o corpo inteiro. Observai igualmente os navios que sendo grandes, por um pequeno leme são dirigidos para onde queira o timoneiro. Assim também é a língua, pequeno órgão, capaz de grandes coisas. A língua é fogo e pode contaminar o corpo inteiro, pondo em chamas toda a existência humana. Todas as espécies de feras, de aves, de répteis e seres marinhos podemos domar; a língua porém, nenhuma pessoa é capaz de domar.

Com ela bendizemos o Pai Celestial, também com ela amaldiçoamos as pessoas
criadas à semelhança de Deus; sendo que de uma só boca procede a benção ou a maldição. Finaliza Tiago, dizendo: “Meus irmãos não é conveniente que estas coisas sejam assim. Acaso pode jorrar do mesmo lugar, o que é doce e o que é amargo?”

Os mentores espirituais têm-se preocupado em nos alertar sobre a responsabilidade da palavra, e em muitas outras oportunidades, descem até nós para nos ajudar na tarefa da palavra. Emmanuel na página intitulada “Domínios da Fala” nos alerta: “Não somente falar, mas verificar o que damos com as nossas palavras”. Assim, automaticamente transferimos estados de alma para aqueles que nos ouvem. Palavra é doação de nós mesmos que retratam a nossa moral. Cada frase é semente viva e com ela plantamos o bem ou o mal, a saúde ou a doença, o otimismo ou o desalento, a vida ou a morte, naqueles que nos escutam, conforme as idéias edificantes ou destrutivas.

Emmanuel, em “Caridade da Palavra” nos diz: “Lembra-te da caridade da palavra, a fim de que possas praticar o amor que o Mestre ensinou e exemplificou. As guerrilhas da língua, há séculos, exterminam mais existências na Terra, que todos os conflitos internacionais”. Aprendamos, portanto, a praticar a sublime caridade oculta que somente a língua pode realizar. A pergunta inoportuna contida a tempo, a observação ingrata, a desistência da queixa, a renúncia às discussões estéreis e o abandono de comentários irrefletidos, são expressões dessa caridade que a boca pode reter sem que os outros percebam. Sobretudo, não podemos olvidar os tesouros encerrados no silêncio e com devoção incorporá-los ao nosso modo de ser, a fim de que o nosso verbo não se faça manifestar nas horas impróprias.

Belíssima página recebida por Chico Xavier, diz: “Quando nosso coração acorda para os ideais superiores do Evangelho, a nossa inteligência adquire preciosos serviços de auto-fiscalização. Conduzamos nossa língua a esse trabalho renovador da personalidade e passaremos a viver em novo campo de simpatia irradiando o bem e recebendo-o, enriquecendo aos outros e engrandecendo a nós mesmos, em nossa abençoada ascensão para a Luz”. Joana de Angelis nos diz que “a palavra quando carregada de sinceridade e fé, age como onda vibratória que elimina as forças negativas que envolvem a pessoa, e quando portadora de pessimismo, dúvidas e acusações, atrai por sintonia mental, enfermidades, malquerenças que terminam por prejudicar quem a exterioriza. Falando, Jesus alterou completamente a filosofia então vigente e abriu as fronteiras de esperança de felicidade para as criaturas de todos os tempos”.

O Espírito de Verdade nos indicou as duas leis dos espíritas: Amor e instrução. E nessa busca, quanto de azedume, quanto de desrespeito, quanto de agressões verbais não se manifestam entre aqueles que deveriam primeiro, amar muito e respeitar a opinião alheia. Estamos vivendo mal, e a preocupação da espiritualidade é tanta que nos veio alertar, nos dando um exemplo. Um grande trabalhador da Doutrina dos Espíritos, pioneiro do Espiritismo na Zona da Mata, em Minas Gerais, ao se comunicar e nos dizer da necessidade de operarmos a educação dos sentimentos e da palavra, a reforma de nossa conduta e do nosso comportamento no dia a dia, disse ele: “Que, se não fosse suas obras, a língua teria feito com que ele perdesse a existência terrena. Esse trabalhador foi uma pessoa reconhecidamente caridosa na divulgação da Doutrina, na sustentação do Centro Espírita e na manutenção de uma escola e de um orfanato. E quando ele diz que “a língua quase o perdeu”, é preciso esclarecer que não se tratava de uma pessoa maledicente ou desrespeitosa, com quem quer que fosse. Ele era, simplesmente, extremamente franco e sincero, sem meias palavras, e, infelizmente não sabia calar quando o assunto era delicado e recomendava uma dose de indulgência.

Benevolência e indulgência – eis o que compõe o conceito de caridade segundo entendia Jesus e nos ensina a Doutrina. São essas as virtudes que nos pedem os Espíritos, para que alcancemos patamares mais elevados de merecimento. E ele nos alertou para que pratiquemos essas qualidades, não apenas nas instituições beneficentes e no Centro Espírita, o que é fácil, porque são lugares protegidos espiritualmente, que oferecem ambiente propício, no qual nos sentimos muito bem, mas também no seio da família, nos círculos de amizade e trabalho para com os nossos próximos.

Devemos, portanto, policiar nossas palavras para que não venhamos a nos arrepender. Evitar termos impróprios e anedotas pesadas e de mau gosto. Lembremo-nos de que tudo o que dissermos permanecerá em nossa atmosfera mental, atraindo aqueles que pensam da mesma forma e também os espíritos, que passarão a formar o círculo em redor de nós. A boa educação se manifesta principalmente através das palavras que pronunciamos. Se nossas palavras forem ásperas, se em cada pessoa observarmos um adversário, a nossa existência se tornará uma tragédia. Vamos atrair para nossa vivência, amigos devotados por meio das nossas palavras, voltados sempre para o bem e o amor ao próximo.

Assim como o Universo foi criado pela vontade e palavra de Deus, assim também nosso pequeno mundo individual é criado pelas nossas palavras, porque, as palavras são manifestações dos nossos pensamentos e, através das palavras, amáveis e delicadas, sinceras e animadoras, poderemos criar um mundo de paz e harmonia, de saúde e felicidade. Nunca devemos esquecer de que uma palavra proferida, jamais poderemos apagá-la, ou desfazê-la. Por essa razão, sempre devemos pensar antes de usar a nossa língua a fim de não criarmos embaraços ou um possível inimigo com a nossa palavra. Jesus certa vez nos advertiu sobre o mau uso das palavras, dizendo: “Digo-vos que de toda palavra frívola que proferirem os homens, dela darão conta no dia do juízo e pelas suas palavras serão condenados”. (Mateus 12- 36/37).


Bibliografia:
“Evangelho Segundo o Espiritismo”

Jc.
S.Luis, 04/09/2003

QUEM MERECE VIVER OU MORRER ?

QUEM MERECE: VIVER OU MORRER ?


Apesar de não gostarmos de admitir, o ser humano é um indivíduo de visão bastante estreita em se tratando de assuntos como à vida, a doença e a morte. Apesar disso, quando fazemos algum avanço, nos arvoramos em detentores da verdade, forçando a Natureza a caber em nossos poucos conhecimentos e tentando reduzir o Universo a uma casca de noz. Este pensamento egoísta e pretensioso é típico do ser humano, principalmente daqueles que têm um conhecimento técnico mais amplo do que a maioria dos outros; mas têm uma visão mínima da vida, da natureza humana e do Criador.

Esta arrogância já foi experimentada muitas vezes e a história da humanidade nos conta esses tristes episódios que, infelizmente, acontecem em abundância. Apesar disso, observa-se que não aprendemos quase nada já que mantemos até hoje, um holocausto velado, que não se faz mais nos campos de concentração, mas nas ricas e bem decoradas clínicas, onde se propala uma “medicina fetal”, cuja arma “terapêutica” mais utilizada, é a morte de fetos, chamada clinicamente de “subtração”, sem levar em consideração o direito do espírito que precisa da encarnação. Sob o falso argumento de proteger a mãe e seus direitos, muitas mulheres são induzidas à “subtração” de seus fetos diante de diagnósticos de má formação ou síndromes genéticas. Diante da importância da medicina e seus praticantes em dar solução a determinadas doenças ou más formações, a saída é eliminar os futuros bebês, evitando que o “fracasso e a incompetência” anunciada se materialize. De início indicam a “subtração” dos fetos de má formação; em seguida, aqueles com genes que trarão doenças graves no futuro ou, então, para garantir que nada de ruim possa acontecer com aquela família. Depois, poderão aconselhar a “subtração” pelo fato da altura não ser a desejada, pela cor dos olhos, dos cabelos, o sexo não desejado, o grau de inteligência não agradável aos pais, e quantos mais motivos para esse “crime hediondo” praticado contra a Lei de Deus.

Na Holanda, já estão matando fetos com má formação da coluna vertebral. Tudo isso tem um nome: Eugenia. O ser humano escolhendo, segundo seus interesses ou convicções, quem merece viver e quem deve morrer a exemplo de muitos hospitais públicos que já praticam essa norma, em função da falta de condições de tratar de todos os necessitados. Depois de tantos séculos de experiências dolorosas, continuamos a incidir no mesmo erro, de querer decidir sobre a vida de nossos semelhantes, praticando uma atitude infeliz que gera dor e sofrimentos, pelo interesse de pessoas ou grupos, nos tornando algozes de futuros bebês e criminosos conscientes perante ao Leis de Deus.
Damos um exemplo a seguir: Uma jovem grávida levada a uma dessas
clínicas que julgam quem deve viver ou morrer, com um feto com “esclerose lateral amiotrófica”. É uma doença que provoca a destruição gradual das células do cérebro e da medula espinhal, que controlam os músculos do corpo, levando seu portador a paralisia que impede de se mover, de se comunicar, tornando-se prisioneiro do seu próprio corpo; capaz de pensar, mas incapaz de se expressar, até que a doença atinja seus músculos respiratórios, levando à morte, no máximo em três anos, após o nascimento. Certamente, o médico dessa clínica recomendará a “subtração” desse feto; pois quem gostaria de ter um filho assim? – Facilmente esse médico convenceria a família, se esta não tiver uma formação cristã. Imaginemos os argumentos: Vocês podem ter outro filho e não há necessidade de passar por tudo isso; em alguns minutos, tudo estará concluído e vocês poderão ir para casa e prosseguir com suas vidas.

Vamos oferecer ao médico um outro exemplo: Esse feto poderia se tornar um dos maiores físicos do mundo, professor em Cambridge, na mesma cadeira que pertenceu a Isaac Newton; escritor de livros incríveis que iriam facilitar o conhecimento da Física, para as pessoas comuns... O que o médico diria aos seus pais? – Certamente diria: - Vocês terão um gênio; essa criança trará grande contribuição à humanidade. Meus parabéns, vamos cuidar para que a gestação corra sem problemas e a criança nasça bem...

Analisando esses dois casos, chegamos a uma surpresa; os dois casos se referem a uma mesma pessoa; o doutor Stephen Hawking, que foi diagnosticado com uma doença, que após nascer e, contrariando a lógica de apenas três anos de existência, aos 21 anos de idade se formou em doutor, e formulou suas teorias sobre Física, escrevendo livros. Casou-se, teve filhos e assombrou a todos, vivendo por mais de 42 anos, com uma doença que deveria matá-lo nos primeiros anos de existência. A ciência humana tem feito prognósticos como o do primeiro caso, mas nunca será capaz de fazer prognósticos sobre os desígnios de Deus, como no caso do Dr. Stephen, que pela lógica, não teria chances de sobreviver.

Vejamos um outro caso: Conheci há alguns anos, uma mãe que deu a luz, um menino, na época em que fiz este artigo (2001) ele estava com 18 anos, tetraplégico e mudo, praticamente incomunicável com o mundo exterior. Somente seus olhos, com o brilho da vida que palpitava em seu interior, se expressavam cheios de sentimentos, mensagens e significados. Nascido já com todos os motivos para desistir da existência, ele sobreviveu por alguns anos. Contra todas as expectativas médicas, ele conseguiu desenvolver alguns movimentos e articular alguns sons, como comunicação com seus pais. A alegria espontânea do brilho dos seus olhos, era vida que transbordava de sua alma, como a dizer a todos ao seu redor: “Vejam, não posso fazer nada, dependo de alguém, até mesmo para coçar meu nariz, mas sou feliz porque
posso aprender alguma coisa e melhorar com esta existência”.

Fico imaginando, se ele pudesse falar talvez desejasse saber: “Como é
caminhar na rua num dia de sol, tomar banho na chuva, trocar a própria roupa? Como é falar ao telefone, fazer um carinho, sentir o vento no rosto? Como é cantar uma música, andar de bicicleta, assistir um filme comendo pipoca? Qual a sensação de andar de carro, pentear os próprios cabelos, olhar o firmamento e a lua cheia? - Ao imaginar tudo aquilo percebo quantas coisas que, às vezes não somos capazes de reconhecer e dar valor em nossas existências e que só valorizamos quando perdemos.

Perguntada por mim, se tinha desgosto pelo seu filho ter nascido com tantos problemas, ela me respondeu que o seu filho era uma bênção de Deus, pois ele tinha lhe ensinado a ser perseverante, resignada, agradecida, e só pedia a Deus que não o levasse antes dela, tal o amor que sentia pelo seu filho e porque ela não teria paz onde quer que estivesse.

Existiu em uma cidade uma menina que, aos 14 anos de idade, fora acometida por uma doença oftalmológica que redundou numa cegueira em ambas as vistas. Enquanto ainda enxergava, sua paixão era a pintura em tela. De fato, ela pintava muito bem, na sua idade. Por essa razão ela deveria ser privada da vida? Seus pais para evitar traumatismo psicológico, resolveram mudar para outra cidade distante e desconhecida, onde era de praxe, todo final de ano, realizar um concurso de várias modalidades de artes. Ela, ao tomar conhecimento, pediu aos seus pais que lhe inscrevesse na categoria de pintura. No dia da proclamação dos vencedores, o teatro estava com sua lotação máxima. A expectativa era grande entre os concorrentes. Para surpresa geral, ao ser exibido e anunciado o quadro vencedor, o autor era totalmente desconhecido.

Ela, ao se apresentar, causou espanto, ao constatarem que se tratava de uma menina com deficiência visual. A notícia causou suspeita de irregularidade
no tocante a seriedade do julgamento, e os responsáveis pelo concurso, para se resguardarem das imprevisíveis conseqüências, reuniram-se e deliberaram que fosse comprovada a veracidade da autora da obra. Ela deveria pintar outro quadro na frente da banca julgadora. Imediatamente foram providenciados pincéis, tela e tintas para que a menina pintasse outro quadro. O presidente da comissão examinadora disse àquela menina: - Você tem 15 minutos para pintar o que você quiser. Ela lhe respondeu: Qual o santo da sua devoção? – Ele respondeu: O Sagrado coração de Jesus. – Em alguns minutos, um lindo quadro com a imagem de Jesus estava pintado. A platéia delirou, enquanto o responsável, admirado, lhe perguntou: - Menina, como você pode fazer isso? Ela respondeu: A mamãe Natureza permite que os deficientes físicos laborem através de múltiplos sentidos e pela linguagem do Amor, que é Deus.

Estes são exemplos de muitos casos que acontecem por este mundo, que só o conhecimento das Leis Divinas pode explicar; a reencarnação, a expiação, a conformação, a aceitação, a evolução, tanto de filhos como de muitos pais.

Bibliografia:
Jornal “O Imortal”

Jc.
20/11/2010

MORAL ESTRANHA

MORAL ESTRANHA

Há passagens nos Evangelhos, escritas pelos apóstolos e discípulos que se contradizem e que são atribuídas a Jesus. Dentre estas, as mais significativas são as que nos serve de título nesta exposição: Moral Estranha.

Diz Lucas, no cap. XIV vrs. 25 e 26, que Jesus se dirigindo a uma multidão lhes diz: “Se alguém vem a mim, e não aborrece seu pai e sua mãe, sua mulher e seus filhos, sues irmãos e suas irmãs, e mesmo sua própria vida, não pode ser meu discípulo”. Já, Mateus, que foi seu apóstolo, referindo-se ao mesmo assunto, diz no cap. X v. 37, que Jesus teria dito o seguinte: “Aquele que ama seu pai ou sua mãe mais do que a mim, não é digno de mim; aquele que ama sua filho ou sua filha mais do que a mim, não é digno de mim”. Diz ainda Mateus, no cap. XIX v. 29, que Jesus teria dito: “Todo aquele que tiver deixado, por meu nome (minha causa), sua casa ou seus irmãos e suas irmãs, ou seu pai ou sua mãe, ou sua mulher ou seus filhos, ou suas terras; por isso receberá com vezes mais, e terá por herança a vida eterna”.

Entre estes dois textos narrados pelos evangelistas, chega-se a conclusão de que Lucas, por não ter sido apóstolo de Jesus, tomou conhecimento distorcido da vida e dos ensinamentos de Jesus, através de outros, conforme ele mesmo admite no cap. L v. 2, no seu Evangelho, escrito 70 ou mais anos depois da partida de Jesus, conforme aconteceu também com Marcos. Sendo assim, como é comum, quando se ouve uma história e se passa essa mesma história para outra pessoa, nunca a reproduzimos conforme a ouvimos; sempre se suprime, modifica ou acrescenta alguma coisa, para melhor apresentá-la. Há outro motivo; na língua hebraica havia muitas palavras com vários significados; como a palavra que exprimia “camelo”, que tanto podia se referir ao animal como também a corda feita com o pelo do camelo, sendo empregada por Jesus, quando disse que era mais fácil um camelo (corda) passar pelo buraco de uma agulha do que um rico entrar no Reino dos Céus.

Há ainda o fato de que os primeiros escritos foram gravados em rolos de papiros, material facilmente deteriorável, sendo comum também as alterações dos escritos, todos eles feitos a mão, acrescentando ainda que não existe um único texto original, sendo tudo “cópia de cópia”, onde se multiplicaram as falhas e os enganos. Assim sendo, deixemos a narrativa de Lucas que não condiz com os ensinos de Jesus e passemos a analisar o texto de Mateus: “Todo aquele que tiver deixado, por meu nome (causa), sua casa ou seus pais, sua mulher e seus filhos, seus irmãos, ou suas terras; por isso receberá cem vezes mais, e terá por herança a vida eterna”. A aplicação dessas máximas também ocorre quando há uma guerra e a pátria exige que seus filhos deixem interesses e afeições de família, para defendê-la, às vezes até em terras distantes, como tem acontecido.
Porventura é censurado aquele que deixa os pais, mulher, filhos, irmãos, o lar e seus deveres, para marchar em defesa da pátria? Ao contrário, reconhece-se o mérito por cumprir um dever. Existe, portanto, deveres que se sobrepõem a outros deveres. Temos outro exemplo: Quando cumprindo uma lei, a filha deixa seus pais para seguir seu esposo. Quantos deixam também os familiares, às vezes até em situações difíceis, para atender um determinismo divino, que nos retira da existência terrena? O mundo está repleto de casos em que as separações são necessárias; mas as afeições não deixam de existir por causa delas. Vê-se então, que essas palavras de Jesus, não são a negação do mandamento que determina honrar e amparar pai e mãe, nem do sentimento de ternura paternal; principalmente quando existe também o vínculo espiritual. Essas palavras de Jesus tinham por finalidade mostrar o quanto era imperioso o dever de se preocupar e viver para a vida futura, que se sobrepõe a todos os interesses e todas as considerações da existência terrena.

Passemos agora a outro texto em que, Lucas e Mateus dizem as mesmas coisas: “Não penseis que eu vim trazer a paz sobre a Terra; eu não vim trazer a paz, mas ao contrário, a divisão; porque eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe, a nora de sua sogra; e o ser humano terá por inimigos, os de sua própria casa”. Lucas cap. 12 v. 49/50. Mateus cap.10 v.34 a 36.

Sendo Jesus a personificação da Paz e Bondade, pregando o amor ao próximo; essas palavras não nos parecem uma contradição com seus ensinamentos?- Não! - Não, se procurarmos o seu verdadeiro sentido que expressa alta sabedoria. Somente à forma um pouco alegórica que tomada ao pé da letra, tenderia a transformar sua missão pacífica, numa missão de perturbação e discórdia, o que seria um contra-senso, porque Jesus não poderia se contradizer. Analisemos então esta passagem.

Toda idéia nova encontra sempre oposição, e não há uma única que tenha vencido sem lutas árduas. Mas, se ela é verdadeira, se está sobre uma base sólida, um pressentimento adverte seus opositores de que ela representa perigo para eles; por isso combatem a nova idéia e seus seguidores. Assim foi com Sócrates e Jesus, outrora, e hoje está sendo com a Doutrina dos Espíritos. Jesus vinha proclamar uma doutrina que destruía pelas bases, os abusos e privilégios nos quais viviam os fariseus, escribas e sacerdotes do seu tempo. Por esse motivo, o fizeram morrer e aos seus apóstolos, discípulos e seguidores, crendo matar a idéia, matando os homens; mas a idéia sobreviveu, porque era verdadeira e estava nos desígnios Divinos.

Infelizmente os adeptos da nova doutrina não souberam entender e interpretar os ensinamentos do Mestre, a maior parte feita por parábolas e alegorias; daí nascerem as divergências e várias seitas, cada qual pretendendo ter a verdade exclusiva, esquecendo os mais importantes preceitos que Jesus ensinava como condição de salvação: O amor a Deus e ao próximo e a caridade.. Assim, quando Jesus disse: “Não creiais que eu vim trazer a paz, mas a divisão”, seu pensamento era: Não creiais que a minha doutrina se estabeleça pacificamente; ela conduzirá a lutas sangrentas, das quais meu nome será o pretexto. Os irmãos, separados por crenças, se digladiarão um contra o outro e a divisão reinará entre os membros da família que não tiverem a mesma fé. Não é isso o que aconteceu em todos os tempos? Desde a época de Jesus, passando pelas Cruzadas, chegando aos tempos da Inquisição e até os nossos dias, o que observamos, lemos nos jornais, ouvimos nas rádios e vemos nas televisões? Irmãos se agredindo e se matando em nome de Jesus. Não é isso o que acontece na Irlanda e na Palestina? Não estão em lutas e mortes, católicos e protestantes, judeus e muçulmanos? Eles não estão se digladiando por pretenderem ter a verdade e em nome de Deus? E no resto do mundo, quantas perseguições e mortes em nome de Jeová, de Allah, de God, de Deus?

Jesus, em sua profunda sabedoria, já previa o que deveria acontecer porque eram coisas que se prendiam à inferioridade da natureza humana, que não podia se melhorar de repente. Seria preciso que o Cristianismo passasse por essa longa prova e ressurgisse dela puro, com o advento da Doutrina dos Espíritos; que veio ao mundo no tempo certo predito por Jesus, como o Consolador Prometido, para relembrar tudo o que fora dito, retirar o véu de muitas coisas e esclarecer outras mais que Jesus não pudera ensinar aos seres rudes e ignorantes da sua época. Descoberto, portanto, o sentido oculto das palavras de Jesus, a moral estranha não passa de mais um ensinamento mal compreendido e mal interpretado, pelas pessoas que se limitam apenas a ler, não percebendo nas alegorias e parábolas usadas por Jesus, o sentido moral e espiritual de que se fazia portador.

Lembremos a pergunta que os apóstolos fizeram ao Mestre: “Por que lhes falais por parábolas?” – E respondendo Jesus disse: “Porque para vós outros, vos foi dado conhecer os mistérios do reino dos céus, mas para eles não foi dado. Eu lhes falo por parábolas, porque vendo não vêem, e escutando não ouvem nem compreendem, para que se cumpra a profecia de Isaías, quando disse: “Vós escutais com vossos ouvidos e não ouvireis; olhareis com vossos olhos e não vereis, porque o coração desse povo está entorpecido”.

A Doutrina dos Espíritos vem lançar luz sobre uma multidão de pontos obscuros. Os Espíritos procedem nas suas instruções gradualmente, abordando as diversas partes da doutrina e outras serão reveladas à medida que tenha chegado o tempo do conhecimento. O Espírito de Verdade nos adverte: “Venho, como antigamente entre os filhos transviado de Israel, trazer a verdade e dissipar as trevas. Escutai-me. O Espiritismo, como antigamente minha palavra, deve lembrar aos incrédulos que, acima deles reina a verdade imutável. Espíritas! amai-vos, eis o primeiro ensinamento; instruí-vos, eis o segundo”.


Bibliografia:
‘Evangelho Segundo o Espiritismo”

Jc.
03/11/1998