“A
falta de atração sexual, por outras pessoas não é doença. O conceito de
assexualidade surgiu nos Estados Unidos neste século e nada mais é do que uma
das formas de manifestação da sexualidade humana, só que baseada na falta de
atração sexual por outras pessoas. Pesquisas feitas nos EUA e Europa indicam
que 1% da população se encaixa nessa categoria, mas o número pode ser maior.”
“Acredito
que mais pessoas se considerariam assexuais se tivessem conhecimento do termo”,
informa Elisabete Regina Baptista de Oliveira, doutoranda da faculdade de
educação da USP. Não sentir atração sexual por outras pessoas não é uma doença.
“São apenas pessoas que têm sua libido canalizada para outros objetivos, como a
arte, a ciência e o trabalho”, explica José Carlos Riechelman, coordenador
científico do Comitê Multidisciplinar de Sexualidade Humana da Associação
Paulista de Medicina. Para esse especialista, a falta de interesse por sexo
pode ter uma causa física, hormonal ou traumática, por influências que a pessoa
recebe até os 6 anos de idade. Mas se ela se sente bem com isso, não há a
necessidade de procurar ajuda médica.
“O
uso de medicamentos, terapia ou reposição hormonal só faz sentido para aqueles
que estão incomodados com a situação”, enfatiza. Os assexuais se dividem em
românticos (que se apaixonam e sentem necessidade de ter relacionamentos
amorosos) e arromânticos ( que não sentem necessidade de ter relacionamentos
com outras pessoas). Além disso, há também os demissexuais, que têm interesse
esporádico por sexo ou somente quando estabelecem fortes laços afetivos com o
parceiro. “Mais importante do que se encaixar em alguma classificação é se
conhecer e se sentir bem com seu próprio corpo e suas vontades”, explica
Elisabete. Alguns assexuais têm capacidade de sentir prazer e de ter orgasmos e
podem se valer da masturbação como uma forma de alívio para o corpo. “No
entanto, eles não têm fantasias e não direcionam seu desejo a outras pessoas
enquanto se masturbam” diz a doutora da USP.
Claudia
Kawabata de 34 anos, orçamentista gráfica de São Paulo, informa que não gosta
de fazer sexo e se sente muito feliz assim; curte namorar e se relacionar, mas
sem beijo nem transa. Sou assexual e muito bem resolvida, diz ela. Afirma
ainda: Quando começou a ler mais um romance espírita que adora, não imaginava
que o livro ia mudar sua vida para sempre. É que na história havia um
personagem com quem ela se identificou muito. Era uma mulher assexual, ou seja,
que não sentia vontade de fazer sexo com outras pessoas. E isso não era nenhum
problema para ela. Aquilo mexeu profundamente comigo, pois eu já estava com 30
anos e, apesar de já ter uma filha, também nunca tinha sentido vontade de
transar. Pensei: “Quer dizer então que existem outras pessoas como eu?”
Conta
ela, ainda, que nunca tinha ouvido falar em assexualidade antes daquele livro.
Mas bastou conhecer o termo para ter a certeza de que ela era assexual. Desde
adolescente, quando minhas amigas começaram a arranjar namorados, eu não sentia
a menor vontade de ter um. Cheguei a me abrir com as mães das amigas, mas elas
diziam que eu ainda era muito nova e que ia acabar sentindo essa necessidade
quando crescesse um pouco mais. Aos 19 anos me apaixonei por um rapaz. Eu
gostava de abraçá-lo, de dar e receber carinho, mas não sentia vontade de
transar. Só que ele tinha muita vontade e eu acabei perdendo a virgindade. Foi
uma sensação muito ruim, pois depois do sexo eu me sentia vazia. Cedia ao sexo
para agradar-lhe, mas não sentia prazer nem orgasmo! Minha falta de interesse
por sexo incomodava meu companheiro e ele começou a achar que eu tinha outro
homem. Mesmo assim, acabei engravidando aos 20 anos, tive minha filha e no ano
seguinte terminamos o relacionamento. Nunca mais tive outro relacionamento,
embora eu sentisse falta de ter alguém ao meu lado, mas não de transar.
Procurei
psiquiatras para tentar entender o que havia de errado comigo e cada um
diagnosticava um transtorno diferente. Comecei a tomar antidepressivo, mas não
comentava com ninguém sobre meu problema com medo do julgamento da sociedade. É
difícil ser diferente e assumir que você não gosta de uma coisa que todo mundo
acha maravilhoso. Por isso, quando li o livro que tinha uma personagem
assexual, me reconheci nela logo de cara. Foi um baita alívio finalmente
entender que eu não precisava ser como as outras pessoas e ter vontade de fazer
sexo. Podia me aceitar como era, pois não tinha nada de errado em ser assexual.
Minha filha que tem 13 anos me aceita como sou; ela não vê problema nenhum!
Nessa mesma época, entrei para a comunidade A2 na Internet, voltada para pessoas
como eu. Foi muito bom conversar com essas pessoas e entender melhor que isso
não é nenhuma doença.
Outro
depoimento à revista foi de Ediomar Stanga, de 25 anos, técnico em radiologia,
de São Paulo. Diz ele: “Descobri minha falta de interesse por sexo aos 21 anos.
Estava namorando uma guria havia duas semanas quando ela disse que queria ir
pra cama comigo. Até então, eu também achava que queria, mas na hora me deu uma
coisa muito esquisita e passei a ter nojo da ideia. Dai pra frente, pesquisei o
assunto e entendi que eu era assexual. Fiquei aliviado ao saber que eu não era
anormal. Desde então, não me relacionei com mais ninguém. Mas quero muito
encontrar uma pessoa para ser minha companheira e dividir um lar. Sou um caro
romântico, mas não é fácil, pois a maioria das assexuais que conheço pela
Internet mora longe. Mas nada disso me impede de ter orgasmos e de me aliviar
com masturbação de vez em quando. Mesmo assim, me aceito do jeito que sou e sei
que é normal ser assim”.
Este
assunto foi publicado na revista “Sou mais Eu”, edição 392, de 22/5/2014, na
página Saúde, reportagem de Thais Helena Amaral. Achei por bem colocar no meu
blog para orientar e acalmar outras pessoas que sofrem com o mesmo problema,
que também tem sua conotação espiritual de outras existências.
Jc.
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