quarta-feira, 9 de outubro de 2019

A NATUREZA HUMANA






 
Um erro psicológico de funestas consequências domina a ortodoxia oficial. Pretendem que o ser humano seja visceralmente mau, perverso e, por natureza, corrupto. Semelhante conceito é adotado, salvo raras exceções, por sociólogos, juristas, escritores, filósofos, cientistas e, o que é mais de admirar, pelos vários credos religiosos. Que os materialistas façam tal conceito do ser humano compreende-se; mas que sejam acompanhados pelos crentes e até pelas autoridades das religiões deístas é inominável, inconcebível.
Como é possível que o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, seja considerado mau? Como se compreende que o Arquiteto Supremo haja criado obras imperfeitas e defeituosas? Semelhante pensamento precisa ser combatido. Lavremos em nome da fé que professamos,  veemente protesto contra essa heresia.
O ser humano é uma obra inacabada; entre obra inacabada e obra defeituosa vai um abismo de distância. Os Espíritos trazem consigo os germes latentes do bem e do belo. A centelha divina, oculta embora, é como o diamante no carvão. O mal que no homem se verifica é extrínseco e não intrínseco. No seu íntimo cintila o divinal revérbero da face do Criador. Os defeitos, senões e falhas são frutos da ignorância, da fraqueza e do desequilíbrio de que a Humanidade ainda se ressente. Removidas tais causas, as decantadas maldade e corrupção desaparecerão.
Deus não cria os Espíritos como os escultores modelam as estátuas. As obras de Deus são vivas, trazem em si mesmas as  possibilidades de autodesenvolvimento, pois a vida implica movimento e crescimento. Os atributos de Deus estão, dadas as devidas condições de relatividade, palpitando em cada criatura. Apelando-se para as faculdades profundas do Espírito, logra-se o despertar da natureza que nele dorme, atestando a origem de onde proveio.
O problema do mal se resolve pela educação, e compreende-se por educação o apelo dirigido aos potenciais do Espírito. Educar é evoluir, e através do trabalho da educação, consegue-se transformar as trevas em luz,  o vício em virtude, a  loucura
em bom senso, a fraqueza em força. Tal é em que consiste a conversão do mau. Jesus foi o maior educador que o mundo já conheceu. Sua atuação se efetuou sempre nesse sentido. Jamais o encontramos abatendo o ânimo ou aviltando o caráter do pecador, fosse esse pecador um ladrão confesso, fosse uma mulher adúltera apupada pela turba. “Os são não precisam de médicos, mas, sim, os doentes;” tal o critério que adotava. Invariavelmente agia sobre algo de puro e de incorruptível que existe no Espírito do ser humano.
O mal é uma contingência. Em realidade significa apenas a ausência do bem, como as trevas representam a ausência da luz. O mal e a ignorância são transes ou crises que o Espírito conjurará fatalmente, mediante o despertar de suas forças latentes purificadoras. A prova cabal de que a natureza íntima do ser  humano é divina, e, por conseguinte, incompatível com o mal, está na faculdade da consciência. Que é a consciência, senão o “divino” cuja ação se faz sentir condenando o mal e aplaudindo o bem? Por que razão o homem jamais consegue iludir ou corromper a sua própria consciência?
Ele pode, no uso do relativo  livre-arbítrio que lhe obedece, agir em contrário a sua consciência, porém nunca abafará seus protestos, nunca conseguirá fazê-la conivente com suas iniquidades e crimes. A consciência é o juiz íntegro cuja toga não se macula, e cuja sentença ouvimos sempre, quer queiramos, quer não, censurando nossa conduta irregular. Esse juiz é a centelha divina que refulge através da escuridão de nossa animalidade; é o diamante que cintila a despeito da negrura espessa do involucro que o circunda.
Perniciosas e desastrosas têm sido as consequências do falso conceito generalizado sobre o caráter humano. Tal pensamento gerou o pessimismo que domina a sociedade. O vírus que tudo polui e conspurca, é outro efeito oriundo da mesma causa. Que pretendem os industriais da cinematografia exibindo películas dissolventes e até indecorosas?  E os literatos e romancistas abarrotando as livrarias de obras frívolas, enervantes e imorais? E o empresário teatral com suas comédias impudicas, cheias de obscenidades? E os compositores  e  cantores  com  suas  músicas  imorais? E os costureiros e modistas com sua indumentária que peca pela falta de decência e decoro? Todos eles, convencidos de que a natureza humana é essencialmente corrupta, estão atuando através da corrupção, visando o lucro fácil e imaginando que o meio mais fácil e seguro de êxito seja esse. No entanto, se essas atividades se transformassem de escolas do vício em escolas de virtudes, deixariam de existir por isso?
A falsa ideia de que o êxito só se alcança apregoando o vício, a maldade, o crime e a ignorância humana, é uma mentira herética e execrável. A própria Teologia tem sustentado esse erro pernicioso, através dos séculos, pela palavra de seus corifeus, prejudicando seriamente a evolução da Humanidade. A Pedagogia, em seu glorioso advento, vai destronar esse conceito milenar, desembaraçando a mente humana dessa grande aberração.
Voltamos a dizer: O ser humano é uma obra inacabada; entre uma obra inacabada e uma obra defeituosa vai um abismo de distância. Como é possível que o ser humano (Espírito) criado a  imagem e semelhança de Deus, tenha sido feito para o mau? Somente, mentes ignorantes da criação de Deus pode assim pensar...

Fonte:
Livro: “O Mestre na Educação”
Autor: Pedro de Camargo (Vinícius)
+ Pequenas modificações.

Jc.
São Luís, 24/8/2016
Refeito em 18/9/2019

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