terça-feira, 20 de agosto de 2019

O MAL E O BEM





 
Allan Kardec na pergunta 629 de “O Livro dos Espíritos”, faz a indagação: “Que definição se pode dar a moral?” Resposta dos Espíritos Superiores: “A moral é a regra para se conduzir bem, quer dizer, a distinção entre o mal e o bem. O ser humano se conduz bem, quando faz tudo em vista e para o bem de todos, porque, então ele observa a lei de Deus. Assim, fazer o bem é se conformar com a lei de Deus; e fazer o mal é infringir essa lei. Quando comeis muito, isso vos faz mal. É Deus que vos dá a medida do que vos é necessário. A lei natural traça ao ser humano, o limite de suas necessidades. E quando ele a ultrapassa, é punido pelo sofrimento. Deus deixa à pessoa, a escolha do caminho; tanto pior para ela, se toma o caminho do mal; sua peregrinação será mais longa e penosa. É preciso que o espírito adquira experiência, e para isso, é necessário que ele conheça o mal e o bem. Aquele que não faz o mal, mas que aproveita do mal feito por outro, é como se o cometesse; aproveitar é participar do ato.  Talvez tenha recuado diante da ação, mas encontrando-a pronta, ele a usa, comprovando que o faria ele mesmo, se pudesse”.

O Evangelho nos fala do bem e do mal sofrer; de pagar o mal com o bem. Porém, o que é o bem? – O bem é tudo o que faz bem? – O que é o mal? – O mal é tudo o que faz mal?  Nem sempre... Às vezes um aparente bem, pode se transformar num mal; assim como de um mal pode proceder a um bem. Exemplifiquemos para melhor compreensão: Quando castigamos uma criança, aparentamos uma atitude maldosa; porém é para o bem dela. Quando a sociedade manda para a prisão uma pessoa, está possibilitando a ela a oportunidade de se regenerar, e não lhe castigando ou fazendo o mal. Quando deixamos de autorizar uma filha a ir a um determinado lugar, parece que estamos fazendo um mau o que na verdade se faz é que por uma intuição tivemos um aviso de fizemos um bem. Tomemos outro exemplo: Um ladrão que rouba o salário de uma pessoa está fazendo um bem para si, embora esteja praticando um mal ao seu irmão. Ao darmos demasiada liberdade aos nossos filhos ainda adolescentes, acreditamos estar praticando um bem; e essa liberdade pode levar a excessos e a prática do mal. Um estuprador se sente bem, praticando o mal em sua vítima.  Assim, é preciso entender o que seja o bem e o mal, e como proceder durante a nossa existência na Terra.

Diz uma lenda que ao conceber o quadro “A Última Ceia de Jesus”, Leonardo da Vinci deparou-se com uma dificuldade: pintar o bem na imagem de Jesus, e o mal na figura de Judas, o amigo que o traiu. Ele interrompeu o trabalho até encontrar os modelos ideais. Certo dia, assistindo a um coral, viu em um dos rapazes a imagem perfeita para Jesus. Convidou-o então para o ateliê e reproduziu seus traços para o quadro. Passaram-se alguns anos e a “Última Ceia” estava quase pronta, mas Leonardo ainda não encontrara o modelo ideal de Judas. Um dia ele encontrou um jovem prematuramente envelhecido, bêbedo, esfarrapado, barbudo, atirado na sarjeta. Pediu ele que levassem aquele homem até a igreja. Da Vinci passou então a copiar o rosto de miséria, tão bem delineado na face do bêbedo, que mal conseguia o homem ficar em pé. Quando Leonardo terminou, o jovem, já um pouco refeito da bebedeira, notou o quadro à sua frente, e disse: “Eu já vi esse quadro antes!” – “Quando?” Interrogou Da Vinci. O homem respondeu: - “Há alguns anos atrás, antes de ficar neste estado de miséria, eu cantava, cantava num coro de igreja. Então apareceu um artista e me convidou para posar como modelo para a face de Jesus, e eu assim fiz.” – Temos assim, a face do Bem ou do mal; só depende do nosso proceder...

No início do século XX, na Alemanha, durante uma conferência com universitários, um professor perguntou: “Deus criou tudo o que existe?” – Um aluno respondeu: “Sim, Ele criou.” – O professor disse então: “Se Deus criou tudo, então Deus fez o mal.” – O jovem ficou calado e o professor feliz de ter provado que a fé era um mito. Outro estudante levantou-se e disse: “Professor, o frio existe?” – O professor disse: “Lógico  que existe; você nunca sentiu frio?” – O aluno respondeu: “O frio não existe. Segundo as Leis da Física, o que consideramos “frio” é a ausência do calor.”  “A escuridão existe”, voltou a perguntar o aluno. O professor respondeu: “Existe.” – O aluno prosseguiu: “O senhor comete um erro; a “escuridão” também não existe. A escuridão na realidade é a ausência da Luz. A luz pode-se estudar; a escuridão não. Finalmente o aluno perguntou: “Senhor, o mal existe?” – O professor disse: “Claro, como disse desde o começo.” – O aluno respondeu: “O mal não existe; o mal é simplesmente a ausência do bem. Deus não criou o mal. Não é como a Fé ou o Amor, que existem como existem a Luz e o Calor. O mal é o resultado da Humanidade não ter Deus presente em seus corações, é como o frio quando não há calor, ou a escuridão quando não há luz”.

Muitas pessoas julgam-se merecedoras de irem para o céu, porque acham que bastará não fazer o mal para ser agradável a Deus. Isso já é bom. Não fazer o mal, livra as pessoas de resgates penosos, evita a possibilidade de atraírem espíritos maldosos que se afinam com os atos, e, arranjarem inimigos na Terra como na Espiritualidade, que lhes atrasem a marcha evolutiva. Entretanto, se não fazem o mal, talvez também não façam o bem.  E não fazendo o bem, nada mais fazem, senão desperdiçar uma existência, apenas satisfazendo as necessidades do corpo, vivendo sem realmente viver a vida real que é a vida do Espírito. E quando chegam à Espiritualidade, a existência lhes é mostrada como o passar de um filme; aí então tomam conhecimento de que nada fizeram, da inutilidade da sua existência; e o arrependimento e a tristeza de não terem feito nada para avançar espiritualmente, os fazem sofrer.

Não há pessoa alguma que não possa fazer o bem. Só o egoísta, não encontra jamais oportunidade para fazer o bem. Cada dia, a vida dá oportunidades a qualquer pessoa que não esteja cega pelo egoísmo, para fazer o bem, que não é só ser caridoso, mas também útil, na medida em que se pode, e que a nossa ajuda é solicitada. O mérito do bem, está na boa-vontade  no trabalho e na dificuldade.  Não há mérito se fazer o bem sem trabalho e quando não nos custa nada. Deus tem mais em conta, o que reparte seu único pão, do que o rico que dá do que lhe sobra. Vejamos o que falou Jesus sobre o óbulo da viúva pobre: Assentado diante do gazofilácio (cofre destinado a recolher donativos para o Templo), Jesus observava  como o povo lançava ali o dinheiro. Ora, muitos uma viúva pobre, depositou apenas duas pequenas moedas. Jesus chamando os seus discípulos disse-lhes: “Em verdade vos digo que esta viúva pobre depositou no gazofilácio mais do que o fizeram todos os demais ofertantes. Porque todos eles ofertaram do que lhes sobrava; ela, porém, da sua pobreza deu tudo quanto possuía”.

Como a lei de Deus determina que o espírito deve evoluir sempre, então se não fazemos o bem, estamos parados no tempo; talvez porque o espírito esteja precisando de um pequeno descanso para recarregar  e poder continuar a jornada em seguida; como também pode acontecer que resolvemos estacionar levado pelo nosso comodismo, pela preguiça e pelo desânimo. Nestes casos, mais cedo ou mais tarde, seremos “alfinetados”, devido a nossa imobilidade,  para  retomarmos a  jornada  interrompida  de amor ao nosso próximo, que nos possibilitará galgar os degraus da evolução. Por que então, já que temos a oportunidade e as condições necessárias, não procuramos atender ao determinismo Divino, realizando nossos deveres, evitando novas existências penosas, sujeitos a resgatar pela dor o que recusamos fazer pelo amor?

Segundo a idéia que se fazia antigamente dos lugares de penas e recompensas, era que o céu ficava em cima e o inferno embaixo. Veio a Ciência e provou que a Terra é redonda e um dos menores mundos entre tantos milhões, e que o espaço é infinito; que não há nem alto nem baixo no universo. Assim, fomos forçados a deixar de acreditar que o céu está acima e o inferno nos lugares baixos.

Estava reserva à Doutrina dos Espíritos, dar a todas as coisas, a explicação mais racional e mais consoladora para a Humanidade. Assim podemos dizer que carregamos dentro de nós, nosso inferno, quando fazemos a maldade; e o nosso paraíso, quando fazemos o bem. Nosso purgatório, o encontramos nos sofrimentos e provas das nossas existências corporais. A bem da verdade diz que, o que está acontecendo nestes tempos de renovação, é que os espíritos dos maus que a morte arrebata todos os dias, e todos aqueles que tentam deter a marcha do progresso espiritual, estão sendo excluídos da Terra e afastados do convívio das pessoas de bem, para não lhes dificultar a evolução e a felicidade. Esses espíritos estão indo para mundos menos evoluídos que a Terra, cumprir missões penosas, onde poderão trabalhar para o seu adiantamento e o adiantamento de espíritos ainda mais atrasados.

“Por que Deus permite que seres tão cruéis vivam no nosso mundo?”, certamente é o que nos perguntamos. Seqüestros, atos de terrorismo, assaltos, corrupção, tráfico de drogas, chacinas, etc... Até quando Deus permitirá isso acontecer? – O mal não faz parte da natureza íntima do espírito; é uma anomalia, como o são as enfermidades. O bem, tal como a saúde, é o estado natural, é a condição normal do espírito. Um corpo doente constitui um caso de desequilíbrio, o mesmo acontece com o espírito transviado, rebelde, viciado, criminoso. Há tantas variedades de distúrbios psíquicos quantos distúrbios físicos, a qual a medicina dá variadas denominações. A origem do mal quer no corpo quer no espírito, é a mesma; a infração das leis de Deus, causadas pela  ignorância dos seres humanos, capazes de todas as insânias.

Quando Jesus ensinou o “Amai os vossos inimigos; fazei o bem aos que vos fazem mal”, proclamou um preceito altamente humanitário. A benevolência contrastando com a agressão, é o único processo educativo capaz de corrigir e regenerar o pecador. Para eliminar-se o mal da Terra, é preciso que se apliquem métodos naturais que é a educação do espírito. Com o velho sistema de querer eliminar o criminoso, nada se logrará de positivo, porquanto eles continuarão malfeitores na espiritualidade e reencarnarão na mesma condição. A medicina jamais pensou em eliminação dos enfermos. Toda a sua preocupação está voltada para curar os doentes. O mesmo processo deve tratar os distúrbios que afetam a moral dos indivíduos. Para a sociedade, é muito mais fácil encarcerar ou eliminar o criminoso; educá-lo é mais difícil, mais trabalhoso, demanda tempo. A educação previne o vence o mal. O homem educado conhece o senso da vida, age com critério, com discernimento e é um valor social. Retirem-se os delinqüentes do convívio social, como se faz com o doente que ameaça a saúde pública; mas deve-se prestar a ambos a assistência necessária.

A Doutrina dos  Espíritos  nos oferece muitas  informações   mostrando que o mundo onde vivemos foi reservado para os espíritos menos evoluídos, cujo caráter predomina o mal sobre o bem, o egoísmo sobre a caridade, o ódio sobre o amor. Deus não colocou espíritos cruéis em nosso mundo; nós, por ainda sermos inferiores é que nos condenamos a viver em um mundo onde habitam espíritos cruéis. Não são eles que estão em nosso mundo; nós é que estamos no mundo deles. Outra coisa é a lei do progresso que a tudo rege. Segundo essa lei, não existe o mal eterno. Todas as almas e espíritos um dia estarão voltadas para o bem, único estado espiritual que traduz a harmonia das Leis de Deus.

É pelo progresso moral e pela prática das leis divinas que nós atrairemos para a Terra, os bons Espíritos, fazendo nela reinar, o Amor e a Justiça, que são as fontes do bem e da felicidade. Para a nossa evolução e a condição de escolhidos, precisamos fazer o bem; um pensamento positivo, uma prece, um sorriso, um gesto fraterno, uma boa palavra, um conselho elevado, um simples copo com água, nos faz uma pessoa de bem e nos conduz ao Reino de Deus. Vamos praticar o bem para que a bondade do Senhor também venha até nós.

 Cada criatura neste mundo, se sofre a influência dos espíritos inferiores que tentam  arrastá-la para o mal, também recebe a influência dos bons Espíritos que a estimulam à prática do bem. Segundo os Espíritos Superiores, a Terra cumpre o papel de imenso educandário. Se recebeu no passado, espíritos perseverantes no mal, e que hoje desencarnando não estão voltando à Terra, e os que aqui ainda se encontram em última oportunidade, nunca porém deixou de receber também o socorro de Espíritos evoluídos, para despertar em todos, com seus exemplos de vida, o sentimento da prática da caridade e do amor sublime. Buda, Jesus, Francisco de Assis, Gandhi, Allan Kardec, Divaldo Franco, Madre Tereza de Calcutá, Eurípedes Barsanulfo, Chico Xavier, e muitos outros desconhecidos, foram exemplos de Espíritos enviados por Deus para nos  encaminhar.

Todos nós somos convidados a participar, a colaborar com o mundo em que vivemos, das mais variadas maneiras... Toda hora é hora de praticarmos o bem. Se o mundo continua inferior, é porque nós, que já não temos ódio nem praticamos atrocidades, ainda não tivemos a coragem suficiente para colaborarmos de forma eficiente, a favor de uma humanidade menos primitiva. Somos almas humanas e o que nos falta ainda é o sentimento de fraternidade.

A renovação da Terra está se realizando lenta e progressivamente, pela partida dos espíritos inferiores que estão sendo encaminhados para mundos atrasados, e com a chegada de Espíritos mais elevados e evoluídos moralmente. As novas gerações de Espíritos, que estão se sucedendo, inicialmente inteligentes, depois moralizados e finalmente evangelizados, estão renascendo por toda parte, já possuídos de propostas elevadas e moralizadoras, que farão a transformação do mundo, até aqui voltada para o mal, para um mundo de regeneração, onde o bem será predominante. Os herdeiros da Terra poderão criar uma nova sociedade onde a justiça, a fraternidade, e o amor entre as pessoas e os povos, comprove a evolução do planeta. “Os mansos herdarão a Terra”, disse Jesus. Somente quando os valores morais estiverem na agenda diária de cada um de nós, é que neste mundo haverá menos seres primitivos e mais seres evangelizados. E para que isso aconteça é necessária a nossa colaboração; todos somos convocados a participar dessa tarefa, no sentido de afastar a maldade do nosso convívio com as demais pessoas,, para vivermos uma nova época de regeneração e paz.


Humberto de Campos (espírito), no livro ‘”Boa Nova”, narra que Jesus disse aos seus discípulos: “O ser humano é mais frágil do que mau”, e nos ensina na oração dominical, como evitar o mal, quando dizemos: “Não nos deixeis sucumbir às tentações, mas livra-nos do mal...”  Aqui temos que fazer a distinção entre a palavra mau, com u e mal com l. Mau com (u) é o contrário de bom; significa “ruim”, “de má índole”, enquanto que mal com (l)  é o contrário de bem; significa “erradamente” “desagradável”.

Allan Kardec quando perguntou aos Espíritos Superiores, o que era o Bem. Ora, com nosso conhecimento poderíamos responder: O bem é aquilo que faz bem. Os Espíritos respondem: “O bem é tudo aquilo que está conforme às Leis de Deus”. Kardec fez então outra pergunta: “E o que é o mal?” Os Espíritos respondem: “O mal é tudo o que está contrário a Lei de Deus.” Kardec fez então a terceira pergunta: “Onde está escrita a Lei de Deus?” Os Espíritos respondem apenas: “Na consciência.”

Assim como o mal que fazemos aos outros, pelo pensamento, pelas palavras e pelas ações, ficam gravadas na nossa consciência e retorna a nós; assim também acontece com o bem que fazemos aos outros, que faz bem primeira a nós. Se bem queremos entender, o nosso próximo a quem fazemos o bem, é o instrumento pela qual fazemos o nosso próprio progresso espiritual. Só exercitando o sentimento maior da Lei de Deus, que é o Amor, poderemos ingressar nos planos superiores e sermos realmente felizes e abençoados...

Que a Paz do Senhor esteja em nossos corações.

Jc.
26/10/2004
Refeito em 11/7/2019

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