Segundo dados atuais do IBGE, 1/5 da população brasileira, ou seja, 35 milhões, é constituída de jovens entre 8 e 18 anos de idade. Destes, mais de 40 mil estão cumprindo medidas sócio-educativas, impostas pela Justiça, e outros 20 mil estão recolhidos em instituições, pretensamente destinadas a protegê-los e corrigi-los, educando-os. A quantidade desses jovens que estão envolvidos na marginalidade e nos vícios, sem qualquer perspectiva é incalculável, pois, muitos deles não fazem parte dos dados do IBGE. É certo que muitos desses jovens estão trabalhando, sem preparo e muitas das vezes em condições adversas em atividades informais, irregulares e ilegais, inclusive, aos bandidos, ajudando suas famílias com os minguados recursos que conseguem.
Um
contingente bem maior está freqüentando os bancos escolares públicos ou
privados. Entretanto, os relatos dos professores e demais profissionais da área
de educação não permitem fazer para eles projeções otimistas. E estamos falando
apenas dos jovens que estão freqüentando as escolas, futuros condutores do
nosso país.
Herculano
Pires, no livro “Pedagogia Espírita”, observa que a rebeldia e a indisciplina
que vemos nas escolas de hoje, refletem a inquietação da juventude,
insatisfeita e insegura com a ordem política, social e cultural em que estão
inseridos; todas obsoletas. Pondera ainda o professor, que a tarefa da Educação
Espírita é a formação de um homem novo, capaz de contribuir efetivamente para a
reconstrução de uma nova ordem sócio cultural em novos modelos. Para essa
tarefa impõe-se melhor compreensão do assunto, das pessoas que se dispõem a
assumir compromissos na direção, orientação e aplicação da prática espírita no
Centro Espírita.
O
desenvolvimento do processo educacional da humanidade passou por várias etapas
sucessivas e complementares, a saber: A EDUCAÇÃO CLÁSSICA, greco-romana
que formou o cidadão, qual seja, o homem vinculado à sua cidade e suas leis;
que aprendeu a respeitar e conviver com o próximo numa comunidade urbana. A EDUCAÇÃO
MEDIEVAL, que formou o cristão, o homem submisso ao Cristo e sujeito à
Igreja, à sua autoridade e aos regulamentos eclesiásticos. A EDUCAÇÃO
RENASCENTISTA, que formou o gentil-homem, o homem refinado na forma, na
aparência, apegado à cultura mundana, sujeito às etiquetas e às normas sociais.
A EDUCAÇÃO MODERNA, que formou o homem esclarecido, amante das ciências
e das artes, em transição para o materialismo. A EDUCAÇÃO NOVA, que
formou o homem psicológico do nosso tempo, ansioso por se libertar das dúvidas,
do medo, das angústias e dos traumas psíquicos do passado, substituindo o
confessionário pelo consultório do psicanalista e reduzindo a religião a uma
mera convenção social.
Deste
processo resultou o homem de hoje, ainda buscando a consciência da própria
cidadania, distante da concepção cristã, apegado apenas às convenções, os formalismos,
extremamente confuso e angustiado diante das possibilidades libertadoras que,
intuitivamente, sente e necessita. O homem enfim, que ainda não sabe qual sua
origem e o propósito de estar no mundo. Impossível, portanto, educar as novas
gerações segundo os modelos anteriores, todos eles incapazes de satisfazer a
inteligência e as necessidades evolutivas do ser humano, para construir um novo
mundo.
A
educação é o desenvolvimento da personalidade e seu objetivo é a integração da
pessoa, estimulando-lhe a capacidade de estar ciente de si mesma, na integral
compreensão da existência. Vê-se, pois, que o problema da educação exige que o
ser humano se defina pelas idéias morais ou religiosas que professa, seja por
sua ação, por seu comportamento, por seu modo de vida. Uma das mais nobres
formas de trabalho de educação é a que desempenha o professor ou a professora.
Quatro, são as condições requeridas para a nobreza de tão alto encargo:
discernimento, desprendimento, boa vontade e amor... Ninguém deveria ser
educador, ter permissão para ensinar, se não tivesse provado, por sua
existência, ser o amor á qualidade fundamental de sua natureza, porque somente
um mestre cheio de amor atrairá os discípulos, tornando-lhes a existência mais
agradável.
A
Educação deveria ser o primeiro interesse dos pais, porque da falta da educação,
decorrem os demais problemas morais.
É preciso,
porém, que não se confunda educação com instrução. A educação é tarefa
ministrada pelos pais. Descobrir fatos em volta de nós é instrução; realizar
valores dentro de nós é educação. A Instrução é ministrada nas escolas, tarefa
do Estado. Assim como não confundimos a educação com a instrução, assim também
devemos distinguir o aluno do discípulo. Aluno é quem aprende com um
professor/a; discípulo é quem segue a trilha antes percorrida por um mestre.
Discípulo é aquele que reproduz em suas ações, a “escola”, o estilo, a
interpretação, a vivência do mestre. Aristóteles foi aluno de Platão, mas não
foi seu discípulo; Platão, além de ter sido aluno de Sócrates, foi também seu
discípulo. Esta distinção já era feita por Jesus, quando disse: “Ser seu discípulo era segui-lo e não apenas
aprender suas lições.” É nesse contexto que a Educação Espírita terá de se
impor. Cabe a ela formar o “ser consciente” do futuro, senhor de si,
responsável direto e único pelos seus atos, mas ao mesmo tempo reverente a
Deus, no qual reconhece a Inteligência Suprema do Universo, causa primária de
todas as coisas.
Neste
propósito, cumpre a nós espíritas ensinar os irmãos a enxergar e entender o
real significado e a amplitude da imortalidade do espírito, do intercâmbio
entre o mundo físico e o espiritual, da lei da reencarnação e de causa e
efeito; da Lei de Justiça de Deus em toda a Criação, e, do imperativo do amor
que deve se sobrepor a todas as coisas. Esta tarefa tem de ser sedimentada no
ser humano que procura a própria reforma íntima. Por isso a Educação Espírita
tem que alcançar, gradativamente, com o conhecimento, o exemplo e a palavra, os
jovens e os demais; em casa no trabalho, onde quer que o espírita exerça sua
atividade e influência. Os pais são os primeiros e fundamentais educadores. Alan Kardec
já ensinava dizendo: “Só á educação pode
renovar a humanidade”.
É
necessário encarar a criança e o jovem como pessoas cheias de informações e não
apenas como almas inocentes e puras, pois já tiveram outras existências onde
adquiriram conhecimentos. As lições
fundamentais do Evangelho devem ser ministradas às crianças, porque no estágio
de infância, o espírito é mais acessível à nossa influência, quando podemos
trabalhar seu caráter, dando-lhe as diretrizes do bem.
A
evangelização espírita infantil não pode deixar de existir num Centro Espírita
nem ficar em segundo plano, como apenas um complemento, consideração essa
irresponsável e de repercussão negativa, tanto na sociedade humana como na
espiritualidade, onde as colônias espirituais, conforme narram os desencarnados,
mantêm instituições especiais para crianças recém-desencarnadas, onde os
ensinos cristãos à luz da reencarnação são trabalhados com amor. Os serviços de
educação à criança é a única maneira do Centro Espírita realizar a maior das
finalidades da Doutrina dos Espíritos; encaminhar todos os seres para o bem.
Lembramos ainda que a educação não se dá apenas à criança, mas também ao
adolescente, ao adulto e ao idoso.
Por
que a evangelização nem sempre é um trabalho prioritário? – Porque a história
do movimento espírita é de mediunidade, de ação social através da caridade
material, o chamado serviço assistencial e da assistência espiritual. Por isso,
na construção dos Centros Espíritas, em sua grande maioria, não são reservados
espaços para as atividades educacionais. Também boa parte dos evangelizadores,
são pessoas de boa vontade, mas sem formação específica. Por outro lado, muitos
dos dirigentes espíritas não estão conscientes de que a Doutrina dos Espíritos
é de educação do ser humano, de aprimoramento de almas.
A educação
espírita é a arte de manejar caracteres; é a formação de hábitos, tendo por
base os ensinos de Jesus, e essa educação deve fazer a reforma do ser humano,
sua autoeducação, através da luta e eliminação das suas imperfeições, trazendo
para o mundo um ser humano novo, consciente dos seus deveres. Esse é o campo de
influência e atuação dos pais. Tanto o trabalhador humilde como o mais
capacitado intelectualmente, cientes dos princípios fundamentais da Doutrina,
estão sempre em contato com variadas pessoas, com seus problemas, angústias,
aflições e desatinos. A Casa Espírita deve ser-lhe então o local de refazer
suas energias, do aprender e de trocar experiências.
Allan
Kardec, ao analisar os vários níveis de compreensão e
vivência
dos seguidores do Espiritismo, apresenta uma série de consequências para
aqueles que, não se limitando apenas a observar os fenômenos, e fazem pelo
estudo sério da Doutrina dos Espíritos, um roteiro na presente existência
terrena, como um verdadeiro cristão.
A RELIGIOSIDADE
– A primeira e mais importante conseqüência, é no sentido de desenvolver um
sentimento religioso. À medida que o ser humano entende que é um Espírito
imortal; que está em uma existência temporária em um corpo físico, perecível,
passa a dar menor valor às questões mundanas, projetando seus interesses e
todos os seus esforços para o progresso espiritual e mais se aproxima de Deus,
objeto de toda religião.
A RESIGNAÇÃO
– Ao compreender que as provações da existência são experiências necessárias e
impulsionadoras do progresso, o ser humano passa a se resignar diante das
vicissitudes da existência. Ao entender o motivo das dificuldades da existência
terrena, o ser humano não se aflige tanto com as tribulações que o acompanham.
Daí, mais coragem nas aflições, mais moderação nos desejos.
O ESQUECIMENTO
– Quando o ser humano passa a ver o seu semelhante como um companheiro de
jornada e não como um concorrente, torna-se menos egoísta, passando a se ocupar
mais com a sua e a evolução do seu semelhante. A abnegação em favor do próximo,
pelo esquecimento de si mesmo, constitui sinal de grande progresso alcançado.
A INDULGÊNCIA
– Todos são iguais perante Deus e têm o mesmo princípio e a mesma destinação, a
felicidade. O sofrimento causado pelo erro é um estágio transitório e toda
criatura, por mais perversa que possa parecer, na medida dos seus esforços e
dos resgates, irás sempre se purificar. Compreendendo assim, fica mais fácil
para o ser humano sentir indulgência para com os defeitos e faltas alheias.
AS
PERDAS – A crença na vida espiritual o leva a aceitar, sem
queixas, nem pesar, a morte inevitável, como uma coisa normal, pela certeza de
que sobreviverá como Espírito imortal. A compreensão de que a vida do Espírito
não se acaba no túmulo, e que os laços que o unem aos entes queridos, que ficaram
na Terra e os que o antecederam no retorno ao mundo espiritual, não se rompem
com a morte física, e a possibilidade de estabelecerem relações e se
comunicarem com os entes queridos, oferecem aos espíritas, suprema ventura e
consolo.
O SUICÍDIO
– Quando compreender que a encarnação é o remédio divino para amenizar as dores
da alma valorizará mais a existência e, por conseqüência, banirá a idéia de
querer abreviar os dias de sua existência, porque a ciência espírita ensina
que, pelo suicídio, sempre se perde o que se queria ganhar, agravando a
situação. A Doutrina dos Espíritos ao informar a situação dolorosa em que se
encontra o Espírito na vida espiritual, vem confirmar que, pelo suicídio, o
espírito chega a resultados opostos ao que esperava. Ao tentar fugir de um
problema, incorrerá em outro muito maior, mais longo e mais penoso. Se ele
esperava encontrar-se com os entes queridos, o suicídio é exatamente o
obstáculo que o impedirá de revê-los e de estar com eles.
É evidente
que a adoção dos princípios espíritas não vai livrar o ser humano das
experiências necessárias ao seu melhoramento. Conviverá ainda por muito tempo
com a semeadura equivocada e com as suas imperfeições, pois vícios e culpas,
cultivadas durante muitos séculos, somente serão eliminados com o trabalho no
bem, praticado ao longo das existências. Porém, a Doutrina dos Espíritos, sendo
o Consolador Prometido por Jesus, torna o ser humano mais consciente, mais
fraterno e com a fé racional, percorrerá os caminhos da existência, com mais
equilíbrio e com melhor aproveitamento. É
assim que a revelação espírita de natureza progressiva exercerá sua influência
em todos os setores da atividade humana, reestruturando a sociedade em novos
princípios éticos, morais e espirituais. Evangelizar é mais do que ensinar o
Evangelho; é traduzir a Boa Nova do Evangelho para a vivência do ser humano do
presente e do Novo Mundo.
Bibliografia:
Livro
“Pedagogia Espírita”
Jc.
S.Luis,
13/03/2004
Refeito
em 30/3/2017
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