Dá para prevenir quase sempre! Cerca de 90% dos derrames podem ser evitados. E por que não são? Descubra os motivos pelos quais essa epidemia ameaça cada vez mais os adultos jovens – além de atacar especialmente as mulheres – e o que está em nossas mãos para revertê-la.
Vamos começar com uma boa notícia: Com
base em dados da Organização Mundial de Saúde e de 119 estudos, cientistas de
19 centros de pesquisa constataram que, de 1990 a 2010, a taxa de mortalidade
por acidente vascular cerebral caiu tanto em países ricos como nos em
desenvolvimento. O artigo, publicado no jornal The Lancet, mostra que o AVC, quando dá as caras, já é
bem mais contra-atacado. “No Brasil, só 35 hospitais estavam preparados para
lidar com vítimas desse problema em 2008 e hoje são mais ou menos 130”,
ressalta Sheila Martins chefe do Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do
Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre.
“O atendimento emergencial, que envolve
medicação e cuidados específicos, como controle rígido da pressão e da glicose,
melhorou muito por aqui”, analisa a neurologista. Agora há um enorme “mas”: o
número absoluto de derrames continua subindo, e o de mortes também. Isso não é
contraditório com o primeiro parágrafo. A queda na taxa de mortalidade indica
que, como o atendimento foi aprimorado, a proporção de pessoas que sofre um AVC
e morre diminuiu. No entanto, os casos são tão mais frequentes que uma proporção
menor não quer dizer um número menor. “Cerca de 130 mil brasileiros vão a óbito
por ano devido ao AVC, sendo a principal
causa de morte no país”, atesta o cardiologista Ricardo Pavanello,
diretor de promoção e pesquisa da Sociedade de Cardiologia de São Paulo. Parte
dessa situação se deve ao envelhecimento da população. Contudo, um alvo
particular chama a atenção: as vítimas mais jovens. De acordo com estatísticas
do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 26.572 pacientes
foram internados por essa causa em 2000; em 2013 o número atingiu a marca de
37.424 pacientes.
“Os hábitos modernos mudaram a história
natural do infarto e do AVC. Alimentação desequilibrada, sedentarismo,
obesidade, depressão e estresse crônico são mais comuns atualmente. E cada um
desses fatores fomenta, muito antes da maturidade, a degeneração de vasos
sanguíneos na massa cinzenta, abrindo portas para a temida sigla. Acreditem:
Algo em torno de 90% dos derrames seria prevenido se fugíssemos dessas
encrencas e ainda contornássemos a hipertensão, o diabete, o colesterol alto e
a fibrilação atrial, um tipo de arritmia cardíaca, e eliminássemos o
tabagismo”, afirma Álvaro Avezum Júnior, do Instituto Dante Pazzanese de
Cardiologia, na capital paulista. E vejam só: “Quando acomete pessoas abaixo de
50 anos de idade, o AVC não raro é confundido com outros problemas. Aí ele
deixa de ser tratado direito. Em um trabalho da Wayne State University, nos
Estados Unidos, um em cada sete adultos jovens que sofreram essa pane no
encéfalo, foi diagnosticado como vertigem, dor de cabeça, intoxicação alcóolica...”
Os sinais do derrame são: a-
Dificuldade para falar e compreender os outros; b- tontura e perda de
equilíbrio; c- dores de cabeça; d- alterações na memória; e- náuseas; f-
convulsões; g- problemas para enxergar com um dos olhos; h- dificuldade para
engolir; i- formigamento ou fraqueza em um lado do corpo (face ou membros).
Os tipos de AVC são: a-
Isquêmico. Mais de 85% dos casos são desse tipo; b- Hemorrágico.
Em geral mais grave, ele consiste no rompimento de uma artéria. A partir daí,
certas células nervosas ficam desabastecidas de líquido vermelho, enquanto
outras são lesadas pela hemorragia em si; c- Micro-AVC. Ele ataca vasos
pequeninos. Embora às vezes um único desses acarrete sequelas graves e
duradouras, outra ameaça se dá conforme essas lesões se acumulam. Aí, geram
quadros de demência.
Táticas preventivas.
Poucos males são tão evitáveis quanto o AVC. Veja o que fazer para escapar
dele. 1- Controlar a ira. Nas
duas horas seguintes a um ataque de raiva, o risco de um derrame cresce. “A explosão
aumenta a pressão, deixa o sangue mais viscoso e enrijece os vasos”, diz
Elizabeth Mostofsky, autora do estudo. 2-
Fazer exercícios. Nem precisa ser uma atividade intensa. Caminhadas rápidas
já contribuem para a saúde das artérias, e de quebra, a prática esportiva
combate o sobrepeso, outro patrocinador de AVCs. 3- Fugir de infecções. Há pouco surgiu
um elo entre a exposição frequente a
alguns vírus, como o de herpes, e bactérias, como a das úlceras estomacais, e
um maior risco de derrames. 4- Tempo
é cérebro. Ao perceber que alguém apresenta sinais do piripaque – ou se
você começar a manifestá-los – chama a ambulância. “Cada minuto que passa reduz
a chance de uma boa recuperação”, informa Maurício Friedrich, neurologista do
Hospital Mãe de Deus. Para se ter uma
ideia, vítimas de AVC isquêmio só podem receber uma droga que dissolve o trombo
em até 4 horas e meia após o início dos sintomas. 5- Ajustar o sono.
Trabalho publicado no European Heart
jornal informou que os voluntários que repousavam menos de seis horas estavam
mais propensos a um derrame. “Porém, aqueles que dormiam mais de nove horas
também tinham um maior risco de sofrer eventos cardiovasculares”, informa
Luciano Drager, cardiologista da Socesp.
6- Escapar dos vícios. O
tabagismo e abusos alcóolicos, entre outros danos, lesam a parede dos vasos,
contribuindo para a subida da pressão. E um estudo da Universidade de Maryland,
nos Estados Unidos, aponta que a cocaína, nas 24 horas seguintes ao uso, é
outra droga que catapulta o risco de AVCs isquêmicos.
7- Comer bem.
Maneire em produtos cheios de açúcar, gordura saturada, sódio e colesterol, e
invista em frutas, grãos integrais, leguminosas e peixes repletos de ômega 3 –
salmão, atum e truta são alguns deles. Assim, você assegura a integridade de
todo o sistema vascular. 8- Evitar pancadas. Choques na cabeça e no
pescoço promovem rupturas nas artérias e formam coágulos que talvez as entupam
mais adiante. Um artigo da Universidade Americana da Califórnia sugere que
lesões nessa região aumentam três vezes o risco de um acidente isquêmio.
Depois de um derrame “A reabilitação demanda muito tempo”, diz
Cícero Vaz, fisiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. Logo
após o surto, os profissionais adotam técnicas para evitar encurtamentos
musculares e prevenir tromboses. Aí, dependendo dos efeitos do AVC – problemas
na fala, perda de movimentos -, diferentes especialistas entram em cena para
amenizá-los. Esse tipo de cuidado integral incrementa a qualidade de vida e
inclusive reduz a mortalidade.
O que o futuro nos reserva. Teste genérico; um novo método conseguiu
identificar variações do DNA que favorecem a aparição
de AVCs hemorrágicos. É possível que,
alguns anos adiante, um exame de sangue seja capaz de detectar a alteração e,
com esse dado, os médicos possam traçar um plano preventivo. A Novartis lançou
uma pílula contra pressão alta que carrega valsartana, hidroclototiazida e anlodipino – a
primeira molécula bloqueia a antiotensina II, substância que constringe os
vasos; a segunda é um diurético; e a terceira atua nos chamados canais de
cálcio, relaxando o sistema vascular.
A prevenção do AVC exige de qualquer
cidadão que siga o tão aconselhado estilo de vida saudável. Cercando o inimigo
por todos os lados, você praticamente se livra do risco de integrar as
estatísticas que dão fama à essa sigla...
Fonte:
Revista “Saúde é Vital” – 04/2014
Theo Ruprecht
+ Supressões e pequenas modificações
Jc.
São Luís, 30/04/2014
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